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Glúten: entenda o componente polêmico da alimentação saudável

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O glúten é um tema amplamente debatido quando se trata de alimentação saudável. Enquanto algumas pessoas o evitam devido a preocupações de saúde, outras o incorporam em sua dieta regular.

O consumo de glúten tem sido um assunto polêmico entre os entusiastas de uma alimentação mais saudável. O ingrediente, que é muito presente na dieta cotidiana do brasileiro, é apontado como vilão por alguns especialistas, enquanto outros defendem que, exceto em casos de intolerância alimentar, não há problema em consumi-lo. 

Se alguns retiram o glúten da dieta por escolha, muitos outros o fazem por necessidade. 

No Brasil, de acordo com a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (FENACELBRA), não há um estudo multicêntrico que afirme com certeza qual a prevalência da doença celíaca na população. Algumas estimativas falam de cerca de 2 milhões de portadores da doença no Brasil, outras apontam que 1 em cada 400 brasileiros são celíacos. Mas a maioria dos estudos concorda: a condição ainda permanece não diagnosticada em grande parte dos brasileiros.  

Seja qual for a motivação para cortar o componente da dieta, o segmento de alimentos sem glúten, ou “gluten free”, como são chamados, está em pleno crescimento. Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria internacional Euromonitor, o setor deve crescer cerca de 40% no período entre 2022 e 2024. O mesmo levantamento aponta o Brasil como o 4º colocado no consumo de alimentos saudáveis, um mercado que movimenta U$ 35 milhões por ano no país. 

Considerando o tamanho e a importância deste segmento na indústria alimentícia, este artigo traz informações sobre o que é glúten e quais são as razões que levam as pessoas a buscarem uma dieta livre de glúten, além de discutir a produção de alimentos gluten free no mercado de ingredientes.

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O que é glúten?

O glúten é uma rede de proteínas presente em algumas farinhas, como o trigo, a cevada e o centeio. Do ponto de vista químico, ele é formado pela mistura de duas proteínas menores: gliadina e glutenina, que possuem uma propriedade de, ao serem adicionadas a água, formarem uma massa elástica, conferindo boa textura, maciez e aderência ao alimento. 

No preparo de uma massa à base de alguma farinha, como a de trigo, o contato da água com o ingrediente estimula essas duas proteínas e formam o glúten, responsável por dar elasticidade e resistência à massa. É por isso que durante a produção de pizza e macarrão, é comum ver aquelas massas bonitas sendo esticadas sem arrebentar.

Além disso, o glúten auxilia no crescimento de certos alimentos, como pães e biscoitos. Ao sová-los, a substância é ativada e impede que o gás carbônico gerado ao longo da fermentação escape. Como resultado, tem-se uma massa resistente e bem desenvolvida. A textura macia desses produtos também é adquirida pela proteína, que os tornam fáceis de mastigar. 

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Quais alimentos contêm glúten?

 pão de fermentação natural fatiado sobre uma mesa de madeira.

Em geral, todo alimento preparado com farinha de trigo, cevada, centeio ou malte contém glúten. Por isso, a lista é bastante extensa, com comidas que ingerimos diariamente, como:

  • Pães, bolos, torradas e biscoitos;
  • Massa de pizza;
  • Macarrão;
  • Cerveja;
  • Salsicha e outros embutidos;
  • Alguns queijos;
  • Molhos como ketchup, maionese, mostarda e shoyu;
  • Temperos prontos e sopas desidratadas;
  • Cereais.

Já produtos como frutas, verduras, cereais (arroz, milho, quinoa), proteínas (carne, frango, ovos, peixes), doces (chocolate, gelatina, açúcar) e tubérculos (batata, inhame, mandioca) estão no grupo dos ingredientes que, naturalmente, não possuem a substância em sua composição.

Porém, quando manipulados, todos podem recebê-la por contaminação cruzada, ocorrida quando há transferência de traços ou partículas de glúten de um produto para outro, de forma indireta ou direta. São vários os fatores que influenciam nessa contaminação.

Desde a higiene local, assim como processos de armazenamento e manuseio de alimentos. Por isso, todo o cuidado é importante, desde a colheita, produção até a chegada na mesa do consumidor. 

Glúten faz mal à saúde?

Não existem pesquisas, estudos ou testes científicos definitivos que comprovem a ação negativa do glúten no organismo.

O que se sabe até hoje é que sim, ele pode fazer mal à saúde, porém, apenas para indivíduos com doença celíaca, sensibilidade ao glúten não celíaca ou alergia ao trigo. Para essas pessoas, evitar o consumo da proteína é essencial para não ter reações adversas à saúde.

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O que é a doença celíaca?

A doença celíaca é uma doença autoimune na qual o sistema imunológico do portador reage negativamente às proteínas presentes no glúten. Essa reação causa danos ao revestimento do intestino delgado e, se não for tratada, pode ter consequências graves como:

  • surgimento de câncer no intestino;
  • desnutrição;
  • infertilidade ou abortos espontâneos;
  • osteoporose;
  • problemas neurológicos.

Nem toda intolerância ao glúten é doença celíaca. Algumas pessoas possuem sensibilidade ou intolerância ao ingrediente, apresentando sintomas semelhantes aos da doença celíaca, mas sem danos ao intestino. Apesar de menos grave, a intolerância ou sensibilidade ao glúten deve ser tratada da mesma forma, para evitar os sintomas e trazer mais qualidade de vida ao paciente. 

A doença celíaca não é uma alergia, onde normalmente a má reação do organismo vem imediatamente após o consumo do alimento. No caso do glúten, a intolerância é silenciosa, com sintomas indo de leves a intensos, se manifestando por um longo período. Por isso, o diagnóstico pode ser tão difícil. 

Não há cura para esta condição, portanto, o único tratamento é levar uma dieta livre da proteína. 

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O consumo de glúten deve ser evitado?

Apesar de muitas vezes ser visto como um grande vilão, o glúten não faz mal à saúde de uma pessoa que não sofra de sensibilidade, intolerância ou de doença celíaca, como já mencionado. Ainda assim, algumas pessoas optam por viver uma dieta livre de glúten, pois afirmam que cortar o ingrediente da alimentação traz mais bem-estar e energia. 

No entanto, isso acontece porque, ao cortar o glúten, a pessoa acaba cortando também muitos produtos industrializados e calóricos da sua dieta, substituindo bolachas, massas e bolos por opções gluten free que também calham de ser mais saudáveis, como frutas, vegetais, leguminosas, cereais e proteínas. 

Apesar de poder ser benéfica à saúde nesse sentido, a dieta livre de glúten é extremamente restritiva e não é fácil de ser seguida. Muitos alimentos contêm glúten por contaminação cruzada, o que pode tornar a tarefa de buscar alternativas gluten free nos mercados e restaurantes bastante exaustiva. 

Produção de alimentos gluten free

 pão com uma plaquinha de "gluten free" posicionada sobre ele.

A pandemia de covid-19 trouxe diversas mudanças sociais e econômicas que afetaram nossos hábitos de consumo. A pesquisa “O Futuro do Food Service”, apresentada pela Fispal Food Service em 2022, apontou que quase 40% dos consumidores afirmam terem passado a buscar uma alimentação mais saudável no pós-pandemia. 

“De maneira geral, os consumidores passaram a ter uma visão holística do alimento. Estão mais preocupados com o que comem, valorizando os alimentos que tragam conforto, bem-estar físico e emocional, benefícios à saúde, que sejam seguros, produzidos de forma sustentável e sem deixar de lado a indulgência”, reflete Maria Luiza Marchiori Visintin Formigoni, docente do curso de Tecnologia de Alimentos do SENAI-SP, em entrevista ao portal Food Connection.

Seja pelo tratamento de uma doença autoimune como a doença celíaca, ou por uma opção pessoal, muitos consumidores têm optado por uma dieta livre de glúten no dia a dia. Com a expansão desse mercado, a indústria alimentícia deve buscar oferecer cada vez mais alternativas gluten free, desde a prateleira dos supermercados até a mesa dos restaurantes.

“Além da alimentação saudável no cardápio tradicional, o restaurante pode apostar no delivery. Além disso, pode oferecer essas opções para o cliente comprar e guardar em casa e, assim, prepará-las no momento que mais lhe convém”, afirma o especialista Norman Vo, do restaurante Miss Saigon, em entrevista ao Food Connection.

Assim como os alimentos vegetarianos e veganos, os alimentos livres desta proteína podem ser consumidos por qualquer pessoa, não apenas aquelas que possuem uma restrição alimentar. Portanto, trazer opções gluten free no seu cardápio ou portfólio de produtos é uma maneira de garantir que todos os públicos possam consumir seus alimentos. 

Legislação para rotulagem de alimentos gluten free

Vale lembrar que, no caso dos alimentos industrializados, a Lei Nº 10.674, de 16 de maio de 2003, obriga que o rótulo do produto traga as inscrições “contém glúten” ou “não contém glúten”, conforme o caso. Essa é uma legislação federal que deve ser seguida em todo o território brasileiro.

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A advertência deve ser impressa nos rótulos e embalagens dos produtos respectivos, assim como em cartazes e materiais de divulgação em caracteres com destaque, nítidos e de fácil leitura. 

No caso dos restaurantes, não existe regulamentação que obrigue os estabelecimentos a trazer essa informação no cardápio. Algumas cidades e estados possuem legislações específicas sobre o assunto, por isso, é importante se informar a respeito das regulamentações na sua região. 

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