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Insensibilização de aves: cuba de imersão e outras técnicas para pequenos e médios frigoríficos

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Descubra as técnicas de insensibilização de aves mais eficientes para pequenos e médios frigoríficos; conheça os métodos, requisitos e boas práticas nesse processo.

O setor de avicultura segue em constante crescimento no Brasil. Desde 2004, somos líderes na exportação mundial de carne de frango, dominando 35% deste mercado. Só em 2022, foram produzidas 14,3 toneladas de carne, e cerca de um terço disso foi exportado para mais de 150 países ao redor do mundo, gerando uma receita de mais de 7 bilhões de dólares. 

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) atribui a alta demanda internacional pela carne de aves brasileiras aos cuidados sanitários e iniciativas sustentáveis praticadas pelos produtores. Afinal, é isso que garante a qualidade do produto que o mercado global busca.

Diante deste cenário, é importante estar atento a todas as etapas do processo de comercialização da carne, desde a criação das aves até a chegada do produto nas prateleiras. Neste artigo, vamos abordar o momento do abate, em especial, uma etapa crucial desse procedimento, que é a insensibilização de aves

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O que é insensibilização de aves?

A insensibilização de aves é um processo que ocorre durante o abate dos animais, que visa reduzir a sensibilidade da ave ao estresse e à dor. O procedimento é importante não apenas por questões éticas e de bem-estar animal, mas também é uma medida econômica, que reduz perdas e ajuda a garantir a qualidade da carne. 

Para Josiane Busatta, gerente de bem-estar animal da BRF, que participou do Fórum ESG no segundo dia da Arena de Conteúdo TecnoCarne, investir em bem-estar animal gera lucro para os frigoríficos.

“Dá lucro sim, porque você consegue entregar um produto de qualidade, evita uma enormidade de perdas, tanto econômicas quanto ambientais. Sempre que chega no frigorífico um animal que se machucou e tem que ser condenado, você está gerando um impacto negativo”, afirma. 

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Técnicas de insensibilização de aves

Para garantir a insensibilização das aves na hora do abate, existem diferentes técnicas que podem ser utilizadas nos frigoríficos. A escolha da técnica depende de vários fatores e deve passar por uma avaliação profunda, considerando aspectos como:

  • Bem-estar animal;
  • Sustentabilidade da produção;
  • Porte do frigorífico e possibilidade de investimento; 
  • Qualidade do produto final;
  • Legislação e normativas do local de produção;
  • A qual mercado se destina o produto.

Os métodos de insensibilização animal são, normalmente, definidos por legislações e organizações internacionais, como a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Entre os mecanismos mais utilizados no abate de aves estão a cuba de imersão, atmosfera modificada e os dispositivos de dardo cativo.

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Insensibilização de aves utilizando cuba de imersão

Essa técnica envolve a submersão das aves vivas em água eletricamente carregada, geralmente de baixa voltagem. A eletricidade induzida pela água causa um efeito de inconsciência temporária nos animais, tornando-os insensíveis à dor durante o abate subsequente. Esse é o método de insensibilização de aves mais comum no Brasil. 

“Por se tratar de um método de insensibilização elétrico, ocorre pelo atordoamento elétrico induzindo, como se fosse uma epilepsia generalizada por meio de estímulo elétrico no cérebro”, explica Fabiana ​Ferreira, Professora Adjunta de Avicultura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ao Portal Food Connection.

Em comparação com outras abordagens, esse procedimento via cuba de imersão traz diversas vantagens para o frigorífico: costuma ter um custo mais baixo de aquisição, ocupa menos espaço, permite que várias aves sejam insensibilizadas ao mesmo tempo e é considerada mais segura para os trabalhadores. 

Apesar disso, há controvérsias quanto a sua eficácia, o que causa preocupações éticas e consequências negativas para a qualidade do produto final. 

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Insensibilização de aves por atmosfera modificada

 aves penduradas de ponta a cabeça em um frigorífico.

Esse processo de insensibilização utiliza de gases em alta concentração para atordoar, anestesiar e levar as aves à morte. Normalmente, são utilizados os gases argônio, dióxido de carbono ou nitrogênio. 

Se comparado à cuba de imersão, a insensibilização por meio de gases costuma ser mais eficaz em garantir o bem-estar animal e a qualidade da carne. Isso porque as aves não precisam passar pelo estresse de, ainda conscientes, serem penduradas de cabeça para baixo e submergidas em água, o que acaba reduzindo os hematomas na carcaça.

Apesar de mais eficiente, esse é um método pouco utilizado no Brasil, principalmente porque costuma ter um custo mais elevado do que a cuba de imersão. 

Além disso, a insensibilização por meio de gases traz consigo alguns dilemas religiosos: de acordo com os preceitos do islamismo, a ave precisa ser sangrada ainda viva. O uso de gases costuma levar os animais à morte, fazendo com que sejam penduradas e sangradas já mortas. Ou seja, optar por esse método pode significar uma perda de mercado consumidor, em especial se você deseja exportar para países majoritariamente islâmicos. 

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Insensibilização de aves por pistola de dardo cativo

Esse é um método já muito utilizado na Europa, principalmente para insensibilizar bovinos e ovinos. Nesta técnica, a insensibilização do animal é feita por uma pistola, mas normalmente o tiro não penetra a cabeça do animal. Ao invés disso, causa uma explosão de ar comprimido que gera dano cerebral na ave, deixando-a inconsciente.

A insensibilização por dardo cativo em aves ainda é pouco utilizada. Alguns estudos mostram que a pistola precisa estar posicionada de forma muito precisa para causar o atordoamento do animal, caso contrário, a insensibilização torna-se ineficaz. Atualmente, esse método é mais indicado para o abate emergencial de algumas aves, em especial, perus. 

Requisitos legais para a insensibilização de aves

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Existem legislações específicas no Brasil que regulamentam o abate humanitário dos animais. A primeira delas é a Instrução Normativa nº 3, do ano 2000, que visa padronizar os métodos de insensibilização para o abate humanitário no país. O texto estabelece requisitos mínimos para a proteção dos animais antes, durante e depois do abate, a fim de evitar que passem por dor e sofrimento.

Seja qual for o método de insensibilização de aves praticado pelo frigorífico, é de extrema importância conhecer o texto da Instrução Normativa nº 3, especialmente no item 5, em que são abordadas as técnicas do procedimento e seus regulamentos específicos. 

Outra regulamentação importante é o chamado Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA). De acordo com o documento, os frigoríficos são obrigados a adotar técnicas de bem-estar animal, evitando maus tratos e buscando sempre a proteção dos animais, desde sua chegada na propriedade até o momento do abate. 

O não-cumprimento dos preceitos de bem-estar animal podem gerar advertência, multa e até mesmo a suspensão das atividades do estabelecimento.

Em julho de 2021, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) atualizou a Portaria Nº 365/21, que entrou em vigor em 1º de agosto de 2023. Por meio deste documento, são definidos os procedimentos humanitários para o manejo pré-abate e abate de animais destinados ao comércio, assim como os critérios necessários para o cumprimento dessas diretrizes.

A portaria aborda pontos importantes como a infraestrutura, o manejo pré-abate e as práticas humanitárias obrigatórias durante o procedimento. De acordo com Roberto Roça, médico veterinário, professor da Unesp de Botucatu, a portaria apenas uniformiza práticas que já eram amplamente utilizadas no Brasil. Para ele, a atualização da legislação é positiva e deve trazer retorno financeiro aos frigoríficos.

“Todo investimento em bem-estar animal tem retorno para os frigoríficos, principalmente na redução das contusões das carcaças, redução drástica de carne DFD (dark, firm, dry), com pH alto e de baixa qualidade”, diz o especialista.

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