*Por Salvador Marino, diretor industrial das fábricas da Tetra Pak de Monte Mor (SP) e Ponta Grossa (PR)
Misturar, pasteurizar, homogeneizar, processar, verificar, higienizar, embalar, armazenar, inspecionar, distribuir. Todos os dias, os mesmos processos se repetem incansavelmente dentro de diversos segmentos industriais ao redor do mundo. As maneiras de produzir e de consumir, ao longo dos anos, se transformaram concomitantemente. E em dias de alta conectividade dos consumidores, a indústria também precisou se digitalizar.
Surgiu assim, já no século XXI, a quarta Revolução Industrial. Conectividade, Big Data, Realidade aumentada, Inteligência Artificial, IoT (Internet of Things ou, em português, Internet das Coisas) foram algumas das novas tecnologias implementadas – ou desejadas – para melhorar os processos e aumentar a produtividade e a qualidade.
Em poucos anos, com uma velocidade impressionante, iniciou-se uma nova era – a quinta. Na Indústria 5.0, percebeu-se que essas novas tecnologias seriam ainda mais eficientes se combinadas com a experiência dos seres humanos. A conexão entre máquinas e dispositivos cria ambientes de trabalho mais adaptáveis e colaborativos, de modo que as habilidades dos trabalhadores sejam potencializadas.
O capital humano continua desempenhando um papel central na tomada de decisões, na resolução de problemas complexos e na aplicação de criatividade, enquanto a tecnologia oferece suporte em tarefas repetitivas e na análise de dados. No fim das contas, o intuito é sempre tornar a produção o mais produtiva possível – mas essa não é uma ideia que nasceu somente agora nos anos 2000.
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Primeiro veio a máquina a vapor, na Inglaterra do século XVIII. James Watt aprimorou o equipamento que usava o carvão para aquecer água e gerar energia a partir do vapor. Na manufatura da indústria têxtil por exemplo, os fios eram produzidos de maneira muito mais rápida. Foi assim que o surgimento da maquinofatura marcou a primeira fase do que chamamos hoje de “Revolução Industrial”.
Já na segunda metade do século XIX, iniciou-se a segunda fase, que marca novos avanços tecnológicos com o surgimento de novas indústrias e o aumento de suas capacidades produtivas. No lugar do carvão, do ferro e da energia a vapor, ganham espaço o aço, a eletricidade e o petróleo. Surgiram as linhas de montagem, barateando os produtos, efoi nesse momento que o mercado consumidor se expandiu.
Mais de duzentos anos separam a atualidade do momento em que essas mudanças começaram a acontecer. Nesses anos, foi possível perceber os efeitos do consumo desenfreado – influenciado pela produção em massa – para o planeta. Essa consciência também afeta os consumidores que, hoje, têm novas demandas.
Estudo feito globalmente todos os anos para compreender comportamento e tendências de consumo de alimentos e bebidas, o Tetra Pak Index 2023 especifica a mudança de paradigma: 70% dos consumidores acreditam que produtos sustentáveis, cada vez mais procurados, não devem prejudicar o meio ambiente; ao mesmo tempo, são 62% os que acreditam que a tecnologia é uma das maneiras de garantir um futuro mais sustentável.
As inovações que começaram nas fábricas de tecido, hoje podem ser vistas em todos os ramos industriais, inclusive no de alimentos e de bebidas. Com a adoção de linhas integradas, a indústria abre caminho para uma série de benefícios econômicos, sustentáveis e operacionais. Uma linha de produção homogênea assegura consistência na qualidade dos produtos, o que é vital para a segurança alimentar.
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O controle rigoroso dos processos minimiza riscos de contaminação, garantindo que os alimentos cheguem aos consumidores de maneira segura. Além disso, a padronização dos processos permite uma maior eficiência operacional, reduzindo desperdícios e otimizando o uso de recursos naturais, o que resulta em menores impactos ambientais.
É possível, por meio da alimentação, cuidar de pessoas e do meio ambiente. A homogeneização da produção auxilia na implementação de práticas sustentáveis e seguras ao longo de toda a produção de alimentos e protege não apenas a saúde dos consumidores, mas também contribui para a preservação do meio ambiente.
Com uma abordagem que prioriza a segurança e a sustentabilidade, a indústria alimentícia não só atende às expectativas dos consumidores, mas também desempenha um papel crucial na promoção de um futuro mais equilibrado e sustentável.
Uma linha de produção homogênea pode significar, de início, um grande investimento em tecnologias e reestruturação. Porém, à medida em que as economias – de ingredientes e de energia, por exemplo – e melhoria na qualidade do produto vão se materializando, os custos iniciais vão sendo compensados.
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Conforme os benefícios se tornam tangíveis, a empresa consolida sua posição competitiva, preparando-se para os desafios e oportunidades que surgirão pelo caminho. Se adaptando às novas necessidades e padrões de consumo, a indústria caminha em direção ao futuro – mas sem nunca se esquecer do que aprendeu ao longo desses séculos de revoluções.
*Salvador Marino é Engenheiro de Produção-Materiais pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar (SP), possui MBA em Gestão Empresarial e cursos de especialização na Inglaterra e Espanha. Salvador acumula 32 anos de experiência em Supply Chain, sendo 22 anos na Tetra Pak, dos quais 4 anos na matriz na Suécia. Possui experiências anteriores em Supply Chain pelas empresas 3M, Electrolux e Valeo. Salvador é diretor industrial responsável pelas fábricas da Tetra Pak no Brasil, em Monte Mor e Ponta Grossa, ambas reconhecidas internacionalmente com a certificação JIPM – Japaneses Institute of Plant Maintenance.