Brasil é um grande produtor de carne. Em razão disso, nossas indústrias geram grande volume de partes não consumidas pelo homem. E se não houvesse a reciclagem animal? O que seria feito com esses produtos? Para onde iriam?

Possivelmente, os destinos seriam os aterros, gerando gás metano, chorume e atraindo pragas e demandando novos custos de tratamentos ambientalmente corretos para evitar disseminação de doenças. Daí a importância da reciclagem animal. Saiba neste post as vantagens desta prática, os números do mercado e as principais normas para o setor.

Conceito da reciclagem animal

A reciclagem animal visa transformar algo com potencial poluidor em produtos com valor agregado.

São encaminhados para a reciclagem animal as partes não comestíveis do abate, caso das penas, ossos, sangue, vísceras e aparas. Por meio de um processamento térmico e físico essas partes são transformadas em gorduras e farinhas de origem animal.

As farinhas e gorduras são usadas como base para a fabricação de diversos produtos em outras indústrias. Entre eles estão:

  • Ração para a alimentação animal – aves, suínos, peixes, animais de estimação entre outros;
  • Biodiesel na indústria Petroquímica;
  • Shampoo, sabonete, detergente, cosméticos na indústria de higiene e limpeza;
  • Tintas, vernizes e lubrificantes na indústria química;
  • Adubos na indústria de fertilizantes.

Além das farinhas e gorduras, também são gerados pelo setor outros produtos, caso da gelatina, que tem como matéria-prima o colágeno, obtido da pele, orelhas e cartilagens dos animais.

Números do mercado da reciclagem animal

De acordo com o presidente da ABRA (Associação Brasileira de Reciclagem Animal), Clênio Gonçalves, o setor agregou um valor de aproximadamente 12 milhões toneladas de matéria-prima oriundas dos abates de ruminantes, suínos, aves e pescados.

Tal volume agregado ajudou a evitar maiores impactos ambientais e perdas econômicas ao país.

Estima-se que no ano de 2016, o setor produziu mais de 5 milhões toneladas de farinhas e gorduras de origem animal. Estes produtos foram destinados aos mercados interno e externo, principalmente para as indústrias de nutrição animal, petfood, biodiesel e higiene e limpeza.

O setor tem expectativas de crescimento para os próximos anos diante da retomada do consumo brasileiro de proteína animal e consequentemente dos abates”, afirma o Gonçalves.

Além disso, o setor é responsável por 55 mil empregos diretos, tendo um PIB de quase R$ 8 bilhões.

No mercado internacional, os principais destinos são: Vietnã, Bangladesh, Chile, Argentina, Moçambique, Alemanha, África Do Sul, Itália e Hong Kong.

Reciclagem animal e sustentabilidade: sintonia perfeita

Em todos os setores da produção animal, a sustentabilidade é uma ação que sempre deve estar em pauta. E a reciclagem animal tem papel fundamental neste contexto.

A reciclagem animal transforma algo com potencial poluidor em produtos com valor agregado, portanto é altamente sustentável. Gonçalves explica que do volume de produto não consumido pela população, o setor processa 12,4 bilhões de quilos de matéria crua anualmente no Brasil.

“Esse volume é suficiente para preencher todo o espaço de dois estádios de futebol como o Maracanã”, explica.

Ainda segundo o presidente da ABRA, a reciclagem animal também reduz a emissão de gases de efeito estufa. “Dados indicam que a decomposição da carcaça de um boi libera, em média, 1,2 toneladas de gás carbônico, portanto a reciclagem contribuirá com a menor liberação dos gases”.

Desafios logísticos e regulamentação do setor

As indústrias brasileiras de Reciclagem Animal estão divididas em dois grupos.

  • Integrados aos frigoríficos – também conhecidos por graxarias; e
  • Indústrias independentes, ou seja, que não são vinculadas a frigoríficos e abatedouros.

Dentre os desafios do setor, a extensão territorial do Brasil representa o maior deles, dificultando a logística. Mesmo assim, existem produções regionalizadas que facilitam a logística, como por exemplo, a concentrada produção aves no oeste do estado do Paraná. “É preciso que haja fornecedores regulares”, salienta Gonçalves.

O presidente da ABRA acrescenta ainda que “a matéria-prima é sempre originária de estabelecimentos com fiscalização dos órgãos de inspeção sanitária, seja municipal, estadual ou federal”, o que garante a qualidade do produto final.

Vale ressaltar que as indústrias de reciclagem animal são reguladas pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) com norma específica: a Instrução Normativa nº 34/2008; e também pelo Decreto nº 30.691/1952 (Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal – RIISPOA), que foi alterado pelo Decreto N° 9.013/2017.

“É a partir das especificações destas normatizações que as fábricas e os processos são estruturados”, ressalta Gonçalves.

A reciclagem animal é questão de utilidade pública

Segundo o presidente da ABRA, em outros países, como Canadá, Estados Unidos, e quase todos os países da União Europeia, as indústrias de reciclagem animal são reconhecidas como de utilidade pública e, por isso, recebem incentivos governamentais.

Há uma compreensão sobre a importância do trabalho realizado e sua ligação com a sustentabilidade ambiental”, observou.

Para Gonçalves, no Brasil, também é necessário esse reconhecimento tanto pela sociedade quanto pelo Poder Público. “O trabalho de sensibilização e esclarecimento sobre o setor vem sendo desenvolvendo pela ABRA, entidade que completa 12 anos de atuação em 2018, mas ainda há muito para se construir e divulgar de positivo sobre o setor”.