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Gerenciamento de perdas na cadeia de produção

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Desperdiça-se um terço de tudo o que é produzido no mundo em alimentação. Seria possível reverter esse quadro?

A sociedade tem procurado por uma relação mais sustentável com o seu consumo. Roupas, cosméticos, calçados e produtos no geral que não impliquem o maltrato animal e uma produção exacerbada de resíduos são alguns exemplos. No entanto, a sustentabilidade também pode ser pensada para a alimentação, mesmo entre quem não se identifica com o vegetarianismo e o veganismo.

Para se ter uma ideia, desperdiça-se um terço de tudo o que é produzido no mundo em alimentação. Se essa mercadoria desperdiçada fosse um país, seria o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa (GEE) no mundo, responsável por 8% a 10% das emissões — perdendo apenas para Estados Unidos e China.

No Brasil, não há muitos dados sobre a perda de alimentos pela cadeia de produção. Contudo, um estudo recente da Embrapa aponta que cada consumidor brasileiro desperdiça até 41 kg de alimentos em um ano.

Entenda um pouco mais sobre o desequilíbrio da cadeia de produção de alimentos e como cada um pode atuar para torná-la mais sustentável.

Sobrepeso e desnutrição em proporções parecidas

O mundo desperdiça alimentos e boa parte da população está acima do peso, mas, proporcionalmente, outra parte está passando fome. A crise humanitária foi agravada pela pandemia.

Considerando a análise do cenário de 2020, dados divulgados pela ONU no relatório "O estado da insegurança alimentar e nutrição no mundo (SOFI)" mostram que a prevalência da subnutrição no mundo aumentou depois de permanecer inalterada nos cinco anos anteriores.

Em 2020, até 811 milhões de pessoas passaram fome. Mais de 161 milhões de pessoas entraram no cenário de fome no mundo durante esse período. Para piorar, nessa mesma época quase uma em cada três pessoas no mundo (2,3 bilhões) não teve acesso a uma alimentação adequada – um aumento de 320 milhões quando comparado ao ano anterior.

No Brasil, a situação é a mesma. A chegada da pandemia, em março de 2020, abalou o quadro socioeconômico do país. Mais de 50% da população passa por algum grau de insegurança alimentar, ou seja, não tem acesso a pelo menos um prato de comida por dia. Desse número, mais de 20 milhões de pessoas passam fome, ou seja, passam 24 horas ou mais sem ter o que comer.

Alcione Silva, fundadora e CEO da ONG Connecting Food Brasil, ressalta a importância de diferentes organizações observarem seus papéis diante desse cenário. "Por ser um problema sistêmico, precisamos trabalhar em conjunto, como sociedade civil — empresas, governos, indústrias, organizações da sociedade civil — para enfrentar essa grande questão", afirmou a especialista durante evento digital Warm Up 2021da Food Ingridients South America.

Desperdício e sustentabilidade

Segundo estimativa da ONU, o planeta já produz comida suficiente para suprir todas as 7,3 bilhões de pessoas no planeta. No entanto, há um grande problema de acesso a esses alimentos. Um dos principais problemas é o desperdício do que é produzido ao longo da cadeia.

Uma das estratégias do Programa Mundial da Fome aponta que a recuperação desses alimentos desperdiçados é uma estratégia para acabar com a fome no mundo. "É extremamente importante falar sobre ações relacionadas à redução das perdas não apenas para acabar com a fome do mundo, mas também porque todo alimento desperdiçado está relacionado à perda dos recursos utilizados para produzi-lo", explicou Alcione, que é engenheira de alimentos e já realizou trabalhos de consultoria técnica na área para a FAO e o Ministério da Cidadania.

O trabalho em rede, em parcerias, com trocas e conexões, é essencial para resolver um problema dessa magnitude. Cada etapa da cadeia de produção de alimentos traz em si soluções. Cada elo pode fazer um bom uso dessas ferramentas para diminuição de desperdícios.

Outras formas de uso

A indústria tem um papel extremamente estratégico para evitar o desperdício. Um estudo americano cita que grande parte do desperdício ocorrido dentro da produção industrial de alimentos está relacionado à falta de aproveitamento do subprodutos e resíduos da linha de produção. Até 90% dos excedentes estão relacionados a isso.

Alcione explica que uma forma de evitar esse desperdício é por meio do upcycling. "O estudo faz um convite a olhar esses excedentes por meio de um upcycling, abrindo a utilização (dos excedentes) para outras fases da cadeia de produção ou como ingrediente em novas linhas ou aplicações, como a compostagem e o consumo animal", afirmou.

Boa parte desse descarte não pode ser utilizada para consumo humano, mas reaproveitada como matéria-prima em outros produtos. Isso evita que eles parem em aterros sanitários, principalmente clandestinos. "É importante destinar esses alimentos em sua totalidade na cadeia de produtos", disse Alcione.

Além disso, a indústria deve olhar para suas instalações e operações. É possível identificar e reduzir desperdícios feitos por processos que podem ser otimizados. Vale o convite à reflexão de como fazer o retorno desses alimentos, muitas vezes próximos ao vencimento, à cadeia de produção.

"É verdadeiramente possível doar parte desses alimentos. No Brasil, temos a Lei 14016/20, que isenta o doador de alimentos da responsabilidade civil e legal da doação. Então, hoje temos uma lei que traz um arcabouço legal que facilita esse processo. Por isso, é totalmente possível doar tanto do ponto de vista legal quanto do sanitário destinar esses alimentos de maneira segura", explicou a CEO da Connecting Food.

O papel da Connecting Food, aliás, é justamente esse: a startup de impacto social usa a tecnologia para conectar alimentos que sobram nas indústrias, mercados e restaurantes, sem valor comercial, mas que ainda estão próprios para o consumo, com Organizações da Sociedade Civil (OSCs), que utilizam os produtos doados para o preparo de refeições oferecidas à pessoas em situação de vulnerabilidade social. Fundada em 2018, a ONG monitora 500 pontos de varejo pelo Brasil e mais de 350 OSCs beneficiadas com mais de 4 mil toneladas de alimentos, como frutas, legumes e verduras.

Subsídios legais

Somado a tudo isso, há também a necessidade de um grande esforço de atuação em políticas públicas. "O Brasil tem um bom histórico de políticas públicas relacionadas à segurança alimentar e nutricional, mas recentemente muitas delas foram desarticuladas. É extremamente importante o direcionamento dessas políticas, porque trazem o arcabouço legal e necessário para que empresas e sociedade civil também possam colaborar", analisou Alcione.

A CEO explica que a Lei 14016 é um incentivo muito importante, mas que pode ser melhorado com mais detalhes e subsídios técnicos. "Também podemos estudar mais incentivos fiscais relacionados à doação. Precisa ficar mais claro e ter uma abordagem maior, como já acontece em vários países", sugere.

O comprador também não pode ficar de fora de uma cadeia de produção e consumo mais sustentável. No geral, o cidadão relaciona à qualidade do alimento ao aspecto estético, mesmo que ele não mostre nenhum sinal de deterioração. Ele acaba escolhendo o mais bonito ou apalpa a fruta ou o legume, que faz com que ele se deteriore mais rápido.

"O varejo tem um papel fundamental por ser um elo com o consumidor, mas não se descarta a presença da indústria na conscientização na compra e armazenagem desses produtos. Por exemplo, fazendo uma lista para comprar alimentos que estejam dentro de suas necessidades e orçamento", finalizou Alcione SIlva.

Trazer tecnologia, processos e conexões em rede voltadas a grandes casos de impacto são iniciativas da sociedade civil que devem ser valorizadas. Essa inteligência de redistribuição de alimentos já ajudou a complementar mais de 4 milhões de porções de frutas, legumes e verduras. Alimentos que seriam descartados foram disponibilizados para organizações da sociedade civil.

Para assistir à palestra completa de Alcione Silva sobre o gerenciamento de perdas na cadeia de produção e acompanhar outros conteúdos exclusivos da Food Ingridients South America, assine o BrainBOX. Você também pode se inscrever gratuitamente para Jornada de Eventos da FiSA 2022.

 

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