Na produção de alimentos de origem animal, as medidas que priorizam o bem-estar animal vêm sendo amplamente discutidas por pecuaristas, entidades de fiscalização e importadores. Neste contexto, o abate humanitário vem sendo assunto das principais discussões.
Muitas são as definições para o abate humanitário, mas basicamente essa forma de abate representa um conjunto de procedimentos que garantem o máximo bem-estar aos animais que serão abatidos.
Esses procedimentos englobam desde o correto embarque na propriedade rural, passando pela qualidade do transporte, até a operação de insensibilização e sangria, ocorrida dentro do abatedouro/frigorífico.
Porém, Liziè Buss, chefe de bem-estar animal e equideocultura do Ministério da Agricultura (MAPA), diz que ainda são muitos os erros que comprometem o bom andamento do abate humanitário. Estes irão atrapalhar seriamente a eficiência da atividade de abate e principalmente comprometer o bem-estar animal.
Sendo assim, conheça os principais erros relacionados ao abate humanitário e saiba como soluciona-los da melhor forma.
Erros que comprometem a eficácia do abate humanitário
Todos nós sabemos que o processo de abate é bastante complexo, envolvendo variadas etapas. Por essa razão, os erros podem ocorrer em qualquer uma dessas etapas, desde o embarque nas propriedades rurais até o processo de abate em frigoríficos ou abatedouros.
Liziè Buss explica que “os erros relacionados ao abate humanitário podem ser percebidos em praticamente todas as etapas”.
Mas, mesmo devido ao grau de perigos e danos ao processo, a chefe de bem-estar do MAPA cita que 3 são as etapas cujos erros são mais comuns e corriqueiros quando relacionados ao abate humanitário. São eles:
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Embarque e transporte dos animais
Dentre as etapas do manejo pré-abate, certamente o embarque e o transporte são bastante estressantes aos animais.
Mesmo as melhores condições não manterão os animais livres de estresse, por ser uma experiência desconhecida, onde estão expostos a ruídos, trepidação, mudanças de ambiente, além do esforço de se manterem em pé durante a viagem (no caso de bovinos) ou em espaços reduzidos (no caso de aves ou suínos).
Quanto à fase de transporte, Liziè lista as falhas mais comuns: “Veículos com desenhos mais antigos, circulação de ar insuficiente, densidades e jejuns inadequados são, na minha concepção, os problemas mais comuns ocorridos fora da indústria”.
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Procedimentos de condução e contenção
A falha nesta etapa tem relação direta com o ato de deixar os animais muito agitados, principalmente em razão de falhas nos métodos de contenção adotados.
“Podem existir boxes que não seguram adequadamente os bovinos, ganchos que não são corretamente ajustados para as aves, ou uso de restreiners, que apesar de eficientes tecnicamente, são caracterizados por serem bastante estressantes aos suínos”, salienta Liziè.
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Métodos de insensibilização
Do ponto de bem-estar animal relacionado ao abate humanitário, essa talvez seja a falha mais grave. Isso porque qualquer falha relacionada ao método de insensibilização (atordoamento) pode significar que o animal não foi atordoado corretamente, o que pode acarretar sérios problemas.
Neste sentido, Liziè Buss salienta que a principal razão para essa ocorrência é o uso de equipamentos de insensibilização que não recebem a devida manutenção.
Além disso, cansaço dos funcionários, falhas no desenho ergonômico dos equipamentos e falta de padronização técnica dos métodos de insensibilização são outras razões capazes de ocasionar problemas sérios no procedimento de abate humanitário.
Como não cometer os erros mais comuns?
Liziè explica que “os principais manuais foram feitos com base nas práticas de abate mais comuns que eram realizadas de forma equivocada”. Em razão disso, o ponto de partida para não errar no procedimento de abate humanitário é seguir todos os tópicos presentes nos manuais.
Além disso, a chefe de bem-estar animal e equideocultura do Ministério da Agricultura reforça que o abate humanitário engloba diversas etapas que vão desde o embarque/transporte, passando pela recepção/espera e finalizando no abate (insensibilização e sangria).
Assim, segundo ela, para que não haja erros, cada uma dessas etapas precisa ser conduzida com o máximo cuidado e respaldo técnico. “Todas as pessoas destinadas para a realização de alguma etapa do abate humanitário precisam ser devidamente treinadas”, salienta.
Segundo a chefe de bem-estar no MAPA, esse treinamento deve ocorrer com todos os profissionais, desde o pessoal responsável pelo embarque e transporte dos animais até aqueles profissionais que atuam diretamente dentro da indústria frigorífica.
Além do mais, Lizié explica que, para priorizar a garantia da qualidade é obrigatório que a indústria tenha profissionais capacitados para resolver problemas, além de fazer treinamentos internos para atualização técnica da mão-de-obra.
Assim como ocorre com o treinamento interno dentro da indústria, Lizié explica que o serviço veterinário oficial também deve ter o devido treinamento e capacitação.
“Será obrigação desse veterinário oficial identificar as falhas quanto ao abate humanitário dentro da indústria, tomando as medidas e ações de fiscalização cabíveis segundo a legislação vigente”.