A produção de carnes no Brasil alcançou números recordes em 2024, com 31,57 milhões de toneladas, somando bovinos, suínos e frangos — o maior volume já registrado pela Conab. Só a carne bovina respondeu por 10,91 milhões de toneladas, reflexo do auge do ciclo pecuário.

Para 2025, a projeção é de estabilidade no total, com leve retração na bovinocultura, que deve cair cerca de 4,9%, chegando a 10,37 milhões de toneladas em função da retenção de fêmeas e da redução no ritmo de abates. Mesmo assim, o Brasil permanece entre os principais produtores e exportadores globais.

O olhar agora se volta para 2026, ano em que a indústria de proteína animal deve equilibrar estabilidade produtiva, novas exigências de consumo e pressões por sustentabilidade. É nesse contexto que surgem as principais tendências, desafios e oportunidades que vão moldar o futuro do mercado de proteína animal.

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Panorama da indústria de proteína animal

Infográfico sobre a indústria de proteína animal de 2024 a 2026, destacando crescimento, tendências de sustentabilidade, inovação e desafios do setor.

Expectativas de crescimento e consumo per capita

O consumo de proteína animal no Brasil deve atingir 47,8 kg por habitante em 2025, cerca de 5,1% acima de 2024. A tendência é de estabilidade nesse nível em 2026, reforçando a importância da proteína na dieta nacional.

Há avanços também na indústria: a produção de frango deve chegar a 15,4 milhões de toneladas em 2025, alta de 3% sobre o ano anterior. Já a carne suína deve alcançar 5,45 milhões de toneladas, o que representa crescimento próximo de 2,7% frente a 2024.

Consumo por perfil: jovens e nichos fitness

O estudo “O Perfil Proteico 2025” mostra que a proteína animal ocupa lugar central na dieta do brasileiro: 74% consideram a carne indispensável, 61% aumentaram a ingestão nos últimos anos e 60% planejam refeições a partir da escolha da proteína.

Essa preferência se deve à percepção de que a proteína de origem animal oferece mais nutrientes por porção e maior aproveitamento pelo organismo. Fatores como energia, saciedade, sabor, vitalidade e saúde a longo prazo aparecem entre os principais motivos.

Entre os jovens e os nichos fitness, a demanda cresce por cortes magros, opções práticas e produtos ligados à saudabilidade.

Para acompanhar essa tendência, a indústria de proteína animal investe em inovação em produtos cárneos e em estratégias que unem saúde e prazer — conceito cada vez mais presente no mercado de carnes.

Tendências na indústria de proteína animal

A indústria de proteína animal entra em 2026 impulsionada por novas demandas de consumo e pela pressão por modelos mais sustentáveis. O mercado passa a combinar conveniência, inovação e responsabilidade ambiental como diferenciais de competitividade.

De um lado, crescem os investimentos em produtos prontos para consumo, embalagens inteligentes e tecnologias que estendem o shelf life. De outro, práticas de sustentabilidade e bem-estar animal ganham espaço, reforçadas por rastreabilidade e certificações que elevam a confiança do consumidor.

Essas tendências sinalizam que a próxima etapa do setor será guiada tanto pela inovação em produtos cárneos quanto pela consolidação de padrões ambientais e sociais, que se tornam parte da estratégia de crescimento e exportação de proteína animal.

Inovação em produtos cárneos

A busca por conveniência transformou o mercado. O consumo de produtos prontos para consumo (ready-to-eat) cresce rapidamente no Brasil, impulsionado pelo ritmo acelerado das cidades e pelo aumento de lares com dupla renda. 

Empresas como a Seara, controlada pela JBS, já investem bilhões em fábricas de alta tecnologia para atender essa demanda com variedade e qualidade.

Outro vetor de transformação é a inovação em embalagens. No setor de carnes, embalagens sustentáveis e funcionais ajudam a reduzir desperdícios, melhorar a conservação e até baratear o preço final. 

O uso de materiais mais seguros e menos poluentes se tornou prioridade, já que a indústria de proteína animal é uma das maiores consumidoras de plásticos e precisa de alternativas mais eficientes.

Entre as tendências também está o conceito de shelf life. A vida útil define quanto tempo um produto cárneo pode ser armazenado sem perder qualidade ou segurança. 

Tecnologias como o vácuo, o shrink wrapping (filme retrátil) e soluções de atmosfera modificada estendem esse prazo, garantindo alimentos livres de riscos microbiológicos e com aroma, sabor e textura preservados. 

A imagem mostra um pedaço de carne vermelha fresca, embalada a vácuo em uma bandeja plástica preta, colocada sobre uma tábua de madeira.

Sustentabilidade e bem-estar animal

O debate sobre sustentabilidade ganha força com novas alternativas produtivas. 

A carne cultivada em laboratório, por exemplo, surge como promessa para reduzir emissões de gases de efeito estufa, diminuir o uso de água e solo e até eliminar a necessidade de abate, ampliando o alinhamento com práticas de bem-estar animal.

A produção de carne orgânica também representa um avanço nesse sentido. Criada sem antibióticos, hormônios ou agrotóxicos, ela garante alimentação natural aos animais e respeita critérios ambientais e sociais rigorosos. 

Esse modelo responde à demanda de consumidores que associam o produto a um estilo de vida mais saudável e consciente. Além das mudanças no campo produtivo, certificações e selos de inspeção reforçam a confiança e agregam valor competitivo. 

O Selo SIF, por exemplo, garante que carnes, ovos, leite e outros produtos de origem animal tenham passado por rigorosos controles de qualidade, do manejo ao processamento. Para o mercado, ele funciona como um diferencial estratégico, assegurando rastreabilidade e segurança alimentar.

Essas iniciativas mostram como a sustentabilidade e o bem-estar animal deixaram de ser apenas exigências éticas para se tornarem também vantagens comerciais no mercado de proteína animal.

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Comportamento do consumidor e oportunidades de mercado

O consumidor de proteína animal mudou o jeito de escolher o que vai para a mesa. Há maior atenção à origem, à sustentabilidade e à conveniência, fatores que hoje pesam tanto quanto preço ou sabor. 

Esse movimento impulsiona tendências como o crescimento de proteínas alternativas, a valorização de produtos funcionais e a exigência de transparência por meio da rastreabilidade.

Tendências de consumo

Os novos hábitos alimentares estão transformando o mercado de proteína animal. 

O crescimento de produtos funcionais e proteínas alternativas ganhou relevância, com marcas nacionais como NotCo e Conví Foods conquistando espaço em supermercados por meio de itens plant-based que unem sabor, sustentabilidade e inovação. 

Globalmente, o mercado de proteínas alternativas pode movimentar 35,5 bilhões de dólares até 2027, impulsionado pela mudança no comportamento do consumidor.

Ao mesmo tempo, cresce a preferência por alimentos de origem controlada e rastreável. Segundo a Anvisa, a rastreabilidade permite acompanhar cada etapa, desde a matéria-prima até o produto final. 

O processo envolve registros de produção, notas fiscais, etiquetas com QR Codes e sistemas de gestão especializados, garantindo transparência e credibilidade em toda a cadeia.

Como destacou o Auditor Fiscal Federal Agropecuário Leandro Casagrande, em palestra sobre o tema na TecnoCarne: “A rastreabilidade envolve garantia e transparência e, principalmente, credibilidade”.  

Essa percepção reforça por que a rastreabilidade na indústria da carne vem se tornando um pilar para atender consumidores mais exigentes e abrir mercados internacionais.

A imagem mostra dois profissionais dentro de um estábulo, ambos vestindo jalecos brancos, luvas azuis e botas de borracha, o que indica que estão realizando uma inspeção técnica ou avaliação sanitária.

Estratégias de marketing e fidelização

A comunicação sobre sustentabilidade e qualidade se tornou prioridade na indústria de proteína animal. Consumidores querem saber a origem do que consomem e como a produção impacta o meio ambiente, os animais e as comunidades. 

Selos como o Rainforest Alliance e o Selo Verde Brasil funcionam como garantia de práticas responsáveis e, ao mesmo tempo, como diferenciais competitivos que fortalecem a confiança na marca.

Para além da certificação, marcas têm apostado em narrativas de valor. Amália Sechis Farina, diretora comercial da Beef Passion, destaca: “Por meio da integração lavoura-pecuária-floresta e da nutrição adequada, conseguimos diminuir expressivamente a emissão de gases de efeito estufa, indicando um ganho ambiental expressivo”. 

Essa conexão entre práticas sustentáveis e benefícios claros é usada em campanhas que associam qualidade do produto a impacto positivo no planeta.

Outra frente estratégica é a criação de produtos para nichos específicos, como cortes premium para o público gourmet, carnes carbono neutro para consumidores engajados em ESG, ou opções plant-based para veganos, vegetarianos e flexitarianos. 

Essa segmentação amplia o alcance das marcas e estimula a fidelização de consumidores que desejam alinhar suas escolhas alimentares aos próprios valores.

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