O Brasil tem uma biodiversidade única no mundo. São seis biomas principais reconhecidos pelo IBGE: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. Entre eles, os ingredientes dos biomas brasileiros com maior impacto na gastronomia vêm da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica.
Esses três territórios abrigam frutas, castanhas, raízes e plantas alimentícias não convencionais que carregam história, sabor e identidade. Muitos desses ingredientes fazem parte da sociobiodiversidade, um conceito que une conservação ambiental, cultura local e geração de renda para comunidades tradicionais.
A indústria de alimentos e bebidas tem muito a ganhar ao explorar esses insumos de forma responsável. A seguir, conheça os principais ingredientes dos biomas brasileiros, seus usos e o potencial que representam para novos produtos.

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O que são ingredientes dos biomas brasileiros?
Os ingredientes dos biomas brasileiros são alimentos que têm origem direta na vegetação nativa de cada região do país. Eles fazem parte da biodiversidade que cresce de forma espontânea ou é cultivada por populações locais, com práticas que respeitam o ambiente.
Entram nessa categoria frutas, raízes, sementes, ervas, folhas, castanhas e outros itens comestíveis presentes na flora de biomas como Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.
Mais do que alimentos, esses ingredientes são parte do modo de vida de povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas e pequenos agricultores, que ao longo de gerações aprenderam a manejar esses recursos de forma equilibrada.
Muitos desses ingredientes são utilizados há séculos na alimentação tradicional, com forte valor simbólico, medicinal e espiritual. Na prática, eles podem ser a base de novos produtos para a indústria de alimentos e bebidas.
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Polpas congeladas, farinhas, óleos, snacks, bebidas funcionais e condimentos são apenas algumas das possibilidades. O mais importante é que o uso desses ingredientes deve vir acompanhado de um compromisso com o uso sustentável e com o reconhecimento do saber local.
Ingredientes da Amazônia: sabores da floresta
A Amazônia é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta. Suas florestas abrigam uma variedade de ingredientes com alto valor nutricional, sensorial e cultural, que vêm ganhando espaço na indústria alimentícia.
Entre os mais conhecidos e utilizados, estão:
- Açaí: fruto versátil, usado em bebidas, sorvetes, snacks e polpas congeladas.

- Cupuaçu: parente do cacau, com polpa aromática usada em recheios, doces e sucos.
- Cacau nativo: base para chocolates de origem, com perfil sensorial único.

- Tucumã: fruto oleoso com sabor marcante, comum em recheios e sanduíches regionais.
- Buriti: rico em vitamina A, usado em doces, sorvetes, óleos e bebidas.
- Jambu: planta com efeito levemente anestésico, muito usada em molhos e pratos prontos.
- Tucupi: líquido fermentado da mandioca brava, tradicional na culinária paraense.
- Bacaba: fruto de palmeira usado em bebidas regionais e com alto teor antioxidante.
Esses ingredientes têm ganhado destaque no desenvolvimento de produtos como sobremesas, molhos, snacks, concentrados, sorvetes e bebidas naturais. Muito por conta do apelo sensorial e a relação com a floresta que tornam o portfólio amazônico atrativo para marcas que buscam inovação com propósito.
Além do uso interno, muitos desses insumos possuem alto potencial exportador. Produtos com origem amazônica reforçam valores como sustentabilidade, biodiversidade e comércio justo — atributos cada vez mais valorizados pelo consumidor global.
Isso cria um diferencial de branding importante para empresas que desejam se posicionar como responsáveis e conectadas à natureza.
Ingredientes do Cerrado: biodiversidade no coração do Brasil
O Cerrado é o segundo maior bioma do país e guarda uma das biodiversidades mais ricas do mundo. Suas paisagens abrigam frutas e sementes com sabores intensos, alto valor nutricional e potencial de uso em diferentes categorias de alimentos.
Entre os principais ingredientes e frutas típicas do Cerrado, podemos destacar:
- Pequi: fruto aromático e marcante, muito usado em pratos típicos, conservas e óleos.

- Guariroba: palmeira de sabor amargo, comum em saladas e recheios regionais.
- Jatobá: fruto com polpa farinácea rica em fibras, usado em farinhas, bolos e bebidas.
- Buriti: também presente na Amazônia, fornece polpa, óleo e farinha com alto teor de vitamina A.
- Baru: castanha com alto teor de proteínas e gorduras boas, usada em snacks, barras e farinhas.

- Araticum: fruta aromática com polpa doce, ideal para sucos, sorvetes e recheios.
Grande parte dos ingredientes do Cerrado são frutas e oleaginosas com propriedades nutricionais valiosas. Eles oferecem fibras, antioxidantes, vitaminas e compostos bioativos que podem contribuir para uma alimentação mais rica e variada.
Além disso, têm potencial para aplicações em produtos voltados ao bem-estar, como suplementos, alimentos naturais e receitas sem aditivos.
Com o crescimento do interesse por superalimentos e formulações funcionais, esses ingredientes ganham espaço como alternativa brasileira para o mercado de saudabilidade.
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Ingredientes da Mata Atlântica: tradição e frescor
A Mata Atlântica se estende por grande parte do litoral brasileiro e guarda uma variedade de sabores com forte ligação à história alimentar do país.
Seus ingredientes têm presença marcante nas culturas tradicionais do Sudeste e Sul, e muitos deles voltam a ganhar espaço graças ao movimento de valorização da produção local.
Entre os principais ingredientes da Mata Atlântica, estão:
- Pitanga: fruta azedinha, usada em sucos, geleias, molhos e licores.
- Cambuci: fruto aromático com acidez intensa, ótimo para geleias, sorvetes e cervejas artesanais.
- Jambu: usado também na Amazônia, ganha novos usos em drinques, azeites e infusões.
- Pinhão: semente da araucária, tradicional no Sul, usada em massas, farinhas e pratos típicos.

- Ora-pro-nóbis: folha rica em proteína, aplicada em massas, pães, caldos e patês.
- Araçá: fruta pequena e aromática, com potencial para compotas e doces.
- Goiaba: já conhecida nacionalmente, tem origem nativa e amplo uso em confeitaria e bebidas.

Esses ingredientes são versáteis e se encaixam bem em categorias como confeitaria, fermentados artesanais, geleias, sorvetes e infusões. O frescor, a acidez e os aromas naturais ampliam as possibilidades de aplicação, tanto em receitas tradicionais quanto em criações mais inovadoras.
Muitos desses insumos fazem parte da herança culinária de comunidades caipiras, caiçaras, indígenas e quilombolas. Valorizar os ingredientes da Mata Atlântica é também uma forma de manter viva a conexão com as raízes culturais do Brasil e incentivar práticas alimentares ligadas à diversidade do território.
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Marcas que investem e lançam produtos com ingredientes dos biomas brasileiros
O uso de ingredientes nativos tem chamado a atenção de grandes empresas interessadas em inovação com impacto social e ambiental. Um bom exemplo disso é o Mercado Livre, que em 2023 lançou a campanha “A Amazônia tá chegando”, com foco na divulgação de produtos com ingredientes dos biomas brasileiros.
A ação fez parte de um movimento maior da empresa para apoiar negócios que atuam com a sociobiodiversidade. Só em 2022, mais de 30 mil produtores locais foram beneficiados indiretamente pela campanha na América Latina, com a venda de mais de 20 mil produtos de oito biomas da região.
Além da campanha, o Mercado Livre também mantém o programa Empreender com Impacto + Biomas, criado em 2020. A iniciativa ajuda empreendedores locais a acessarem novos mercados, ampliando os benefícios gerados nas comunidades onde atuam.

Esse tipo de investimento mostra como o uso de ingredientes dos biomas brasileiros pode ir além do sabor e da inovação. Ele também abre espaço para negócios mais justos, conectados ao território e com valor compartilhado entre empresas e produtores.
Mission Chocolate: chocolates com ingredientes da Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado
A Mission Chocolate é uma marca brasileira que ganhou reconhecimento por transformar ingredientes nativos em barras premiadas. Fundada em 2013, tem sua fábrica e loja em São Paulo, e também conta com uma unidade na Califórnia, nos Estados Unidos. Toda a produção segue uma filosofia clara: poucos ingredientes, produção artesanal e respeito total à origem do cacau.

Os chocolates da marca são feitos com cacau 100% rastreável, cultivado em sistemas agroflorestais por pequenos produtores que usam práticas regenerativas, orgânicas e sustentáveis.
Os demais ingredientes são locais, muitas vezes nativos ou silvestres, e ajudam a contar a história de cada território. Nada de glúten, soja, aditivos ou transgênicos. Só o essencial para valorizar o sabor de verdade.
Um dos destaques é a Caixa Biomas do Brasil, com cinco barras artesanais inspiradas em ingredientes da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga.

Cada chocolate foi pensado para expressar a identidade de seu bioma, trazendo notas aromáticas únicas, insumos típicos e cacau de origem. É uma homenagem em forma de sabor à biodiversidade brasileira.
Linha Bioporã Biomas Brasil: tahine do Cerrado, caramelo da Caatinga e mais
A Bioporã é uma empresa com raízes na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e carrega uma missão clara: regenerar a biodiversidade brasileira por meio da alimentação.
Com ingredientes vindos da pequena agricultura agroecológica e do extrativismo comunitário, a marca cria produtos que valorizam o território, a cultura alimentar dos biomas do Brasil e quem vive da terra.

Parte das vendas é destinada à associação Cerrado de Pé, formada por famílias coletoras de sementes nativas que atuam em prol da regeneração do bioma.
A linha Bioporã Biomas Brasil traduz esse compromisso em forma de sabores. Todos os alimentos são produzidos com ervas e raízes da Caatinga, colhidos por comunidades tradicionais que conhecem profundamente o ambiente em que vivem.
A proposta é simples: conectar o consumidor à história de cada bioma por meio de produtos autênticos e nutritivos.
Swift + SoulBrasil: molhos com ingredientes dos biomas brasileiros
A Swift, conhecida pela atuação no setor de alimentos, uniu forças com a SoulBrasil para lançar uma linha de molhos produzidos com ingredientes nativos dos biomas brasileiros.
A parceria valoriza práticas sustentáveis, insumos naturais e o trabalho de comunidades tradicionais, conectando o sabor e a preservação da floresta.
Entre os destaques está o molho de Jiquitaia Baniwa com Açaí, feito com pimentas cultivadas pelas mulheres indígenas Baniwa, na região do rio Negro, na Amazônia.

As pimentas são secas ao sol, moídas artesanalmente e combinadas com sal, criando um produto forte em sabor e identidade. A presença do açaí complementa o molho com notas amazônicas que refletem a cultura local.
A linha também traz o molho de Pimenta Fidalga com Manga, de aroma marcante e base picante equilibrada pela doçura da fruta. E o molho de Pimenta de Bode com Goiaba, que combina o ardor de uma pimenta pequena e potente com o frescor e a suavidade da goiaba.
Com essa iniciativa, Swift e SoulBrasil mostram como é possível criar produtos inovadores a partir da biodiversidade brasileira. Além do sabor, os molhos carregam histórias, saberes e modos de vida que ajudam a fortalecer uma cadeia de produção mais justa, conectada à floresta e ao território.
Ingredientes dos biomas brasileiros no setor de bebidas
Os ingredientes dos biomas brasileiros também têm ganhado espaço no desenvolvimento de bebidas criativas, tanto alcoólicas quanto sem álcool. Bartenders e mixologistas vêm apostando em frutas, ervas e especiarias nativas para criar drinques autorais que valorizam o sabor local e a conexão com o território.
Muitos profissionais renomados, como Marcelo Pereira, Caio Bonneau e Yvens Penna, já utilizam insumos como jambu, cambuci, cajuí, catuaba, araruta e cascas aromáticas em suas composições.

No setor de food service, bares e restaurantes encontram nesses insumos uma oportunidade para se diferenciar e entregar experiências únicas ao consumidor.
Molhos, xaropes, infusões, fermentados e composições à base de ingredientes nativos abrem caminho para cardápios mais autênticos, sustentáveis e alinhados às tendências de consumo consciente.
Oportunidade para a indústria de alimentos e bebidas
Os ingredientes nativos dos biomas brasileiros representam uma chance real de transformar a indústria de alimentos e bebidas. Cada fruto, semente ou erva carregam histórias, saberes e culturas que podem ser traduzidos em produtos únicos.
Marcas que apostam em ingredientes nativos conseguem se diferenciar, aproximam-se da cultura brasileira e constroem uma comunicação mais transparente com o consumidor. Investir nesse caminho é, ao mesmo tempo, uma estratégia de mercado e um posicionamento de impacto positivo.
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Nos três dias de evento é realizado o Summit Future of Nutrition, mais tradicional congresso para as indústrias de alimentos e bebidas, que buscam inovações em ingredientes.
No primeiro dia, o painel Biodiversidade Brasileira e os Desafios para Inovação (Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica) explora o potencial dos biomas brasileiros para novos ingredientes e o papel do conhecimento tradicional, como garantir inovação respeitando comunidades e biomas. Saiba mais e garanta sua vaga!
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