Gustavo Cardamoni, presidente da Apubra, fala sobre aumento no número de pizzarias e o que pode ser feito para reduzir o nível de mortalidade dessas empresas
No cenário de expansão do empreendedorismo no Brasil, a Lei complementar nº. 123/2008, que regulamenta a atuação do microempreendedor individual (MEI), completa 15 anos em dezembro de 2023. Essa nova modalidade de empresa ajudou na expansão do setor de pizzaria no Brasil, mas ela impõe algumas limitações para o setor.
De maneira geral, a lei que criou o MEI impulsionou recordes de adesão de novos empreendedores, com mais de 14,8 milhões de cadastros ativos em todo o país, representando 73,4% das empresas ativas. Nesse cenário, há mais de 36 mil pizzarias enquadradas pelo regime MEI no Brasil. Os dados são da Associação Pizzarias Unidas do Brasil (Apubra).
O Food Connection entrevistou Gustavo Cardamoni, presidente da Apubra, para entender como a adesão de empreendedores tem aumentado a competição no mercado de pizzarias e o que fazer para se destacar.
O executivo avalia que a modalidade MEI tem ajudado a empreender diante da necessidade, mas que o empresário deve buscar novas maneiras de atuar ao longo do tempo sob risco de o negócio não atender padrões mínimos de exigência e entrar para a realidade dura do alto nível de mortalidade para MEIs.
Veja a entrevista na íntegra.
1. Essa adesão de MEIs ao setor de pizzarias tem sido mais por necessidade ou por planejamento?
A grande maioria dos empreendimentos MEIs surgem a partir da necessidade. Na maioria dos casos, a possibilidade de abrir o próprio negócio se tornou a única alternativa para garantir uma renda. Mas, por ser um início nesse mundo dos negócios, boa parte dos novos empreendedores não sabe como começar.
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2. Os novos entrantes do setor de pizzaria migram de onde geralmente?
Normalmente, os entrantes são novos empreendedores que nunca tiveram contato com o mercado de pizzarias anteriormente. O nosso setor tem uma barreira de entrada pequena, em que é possível começar dentro de casa.
Como disse anteriormente, muitos escolhem começar a trabalhar na área como alternativa para sair de uma dificuldade financeira. Entretanto, também encontramos um panorama de pequenos investidores, que já passaram ou tiveram contato com o universo das pizzarias e gostariam de abrir o próprio negócio.
A situação do MEI no mercado de pizzarias
- Nos últimos três anos, o número de aberturas de MEI no segmento de pizzarias superou o de fechamentos, com 24,5 mil empresas abrindo contra o fechamento de 14 mil empreendimentos do tipo.
- O Sudeste é o maior representante do mercado de pizza. A região concentra 50% dos empreendimentos em operação.
- Em seguida estão Nordeste (21%), Sul (15%), Centro-Oeste (9%) e Norte (5%).
3. Como o novo entrante deve se preparar para abrir uma pizzaria? Quais os requisitos para integrar o setor?
Antes de qualquer coisa, é importante dizer que a modalidade MEI não pode ser traçada como um plano final de negócio. A modalidade é uma porta de entrada para iniciar uma carreira empreendedora. É um processo migratório para conseguir se estruturar e assim chegar a uma ME.
Reiteramos isso porque é essencial que o pequeno empreendedor tenha em mente que uma pizzaria (seja ela delivery ou salão) precisa atender regras sanitárias de funcionamento, que exigem mais estrutura e preparo para obter as licenças necessárias para a execução do trabalho.
Mas para integrar o setor, o pequeno empreendedor precisa gerenciar os processos, já que ele assume boa parte do trabalho sozinho. Por isso, para que o negócio consiga se expandir, é importante conseguir categorizar cada etapa, desde a produção até a entrega.
Além disso, outro ponto essencial para empreender no setor de pizzarias é a busca por aperfeiçoamento, com capacitações, orientações e certificações para alcançar outro patamar.
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4. Como podemos explicar o avanço no número de pequenos empreendedores no setor? Eles têm ocupado espaço de redes maiores ou aproveitam um eventual aumento na demanda?
O avanço no crescimento de MEIs no Brasil acontece a partir de um cenário no qual as pessoas encontram no empreendedorismo uma alternativa para ter mais rentabilidade financeira ou para suprir suas necessidades após a saída do mercado formal de trabalho. Também, um dos fatores que justifica este aumento é a facilidade da abertura de uma MEI.
Apesar do alto número de MEIs pelo país, as MEs e grandes redes permanecem com seu espaço consolidado no mercado. Os microemprendedores que investem na abertura de MEIs acabam fortalecendo o ecossistema de pizzarias junto a quem já está no setor, e isso agrega no crescimento da área no país.
5. A durabilidade desses empreendimentos menores do ramo de pizzarias ainda é um desafio? Tendo em vista que no Brasil a taxa de mortalidade das pequenas empresas é muito alta.
Acreditamos que seja um desafio porque, como dito antes, entendemos que a modalidade MEI é uma atuação provisória. Compreendemos que a adesão a essa modalidade faz sentido em um curto período ou em um momento de necessidade. Mas sempre buscamos alternativas e queremos que o empreendedor transforme isso em um negócio de longo prazo, que permita que ele cresça e promova expansão do empreendimento e até, quem sabe, abrir novas unidades.
Atualmente, 10,96% das MEIs fecham as portas com menos de três anos de existência, por isso, é essencial conseguir estruturar o pequeno negócio para que ele consiga escalar é uma das alternativas que precisam ser consideradas no dia a dia do trabalho como MEI. Assim, o empreendedor consegue viabilizar as suas necessidades pessoais e também, começa a projetar o futuro do negócio.
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