A produção de carne no Brasil segue em alta e reforça o protagonismo do país no cenário global. Em 2024, a produção total de carnes (bovina, suína e de frango) atingiu 31,57 milhões de toneladas, o maior volume da série histórica da Conab — Companhia Nacional de Abastecimento. Só a produção de carne bovina no Brasil alcançou 10,91 milhões de toneladas, impulsionada pelo auge do ciclo pecuário.
Para 2025, a expectativa da Conab é de estabilidade na produção total de carnes, com leve retração na carne bovina, que deve cair 4,9%, chegando a 10,37 milhões de toneladas.
Essa redução está associada ao início de um novo ciclo, com retenção de fêmeas para reprodução e menor ritmo de abates. Ainda assim, o país deve manter-se como um dos principais produtores e exportadores mundiais.
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O Brasil lidera o ranking global com o maior rebanho bovino do mundo em 2024, totalizando mais de 234 milhões de cabeças, segundo dados do MAPA e do IBGE. Essa escala produtiva reforça o papel estratégico do país na cadeia global da carne, com presença consolidada em mais de 150 mercados internacionais.
De acordo com o próprio Ministério da Agricultura, o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, o segundo maior produtor e o terceiro maior consumidor.
Esse protagonismo vai além dos números: o país também se destaca pelos investimentos em tecnologia, sustentabilidade e bem-estar animal, com instalações modernas que elevam a qualidade do produto, reduzem perdas e ampliam a competitividade no mercado global.
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A cadeia produtiva da carne bovina no Brasil segue sendo uma das mais relevantes do agronegócio nacional e internacional.
Em 2023, o PIB total da cadeia foi de 179,2 bilhões de dólares, o equivalente a 8,2% da riqueza gerada pelo país, considerando o PIB brasileiro de 10,85 trilhões de reais no período. Dentro do agronegócio, o setor de carne bovina representou 34,68% do PIB agroindustrial, conforme dados da Embrapa.
O desempenho da cadeia envolve diferentes elos, como insumos, serviços, produção e processamento. Em valores absolutos, o setor produtivo da pecuária de corte movimentou 185,76 bilhões de reais, enquanto a indústria frigorífica respondeu por 216,43 bilhões de reais em faturamento. O segmento de insumos e serviços também teve destaque, somando 148,67 bilhões de reais.
Nas exportações brasileiras, 28,53% da carne bovina produzida em 2023 foi destinada ao mercado externo, sendo que 85,93% desse volume corresponde à carne in natura.
A China liderou as compras, com 59,62% da carne in natura exportada, seguida por Chile (4,95%) e Estados Unidos (4,87%). Já na carne industrializada, os principais destinos foram EUA (40,93%), Reino Unido (20,84%) e União Europeia (10,61%).
O preço médio da carne bovina exportada foi de 4,59 dólares/kg, cerca de 19% inferior ao valor registrado no ano anterior. Apesar da queda nos preços médios, o Brasil segue como maior exportador de carne bovina do mundo, sendo o principal fornecedor da chamada “carne ingrediente”, usada na industrialização em mercados estrangeiros.
O cenário internacional segue favorável, especialmente com a restrição de oferta por parte de outros grandes exportadores. A projeção do MAPA é que a produção brasileira de carne bovina cresça 10,17% até 2034, alcançando 11,26 milhões de toneladas. No mesmo período, as exportações devem aumentar sua participação na produção nacional, passando de 28,53% para 40,32%.
Esse crescimento depende, no entanto, de ações coordenadas em sanidade animal, segurança alimentar, rastreabilidade e sustentabilidade.
A adoção de padrões governamentais e rastreabilidade será determinante para manter a confiança dos compradores internacionais e conquistar novos mercados, transformando riscos em oportunidades.

Carne suína
A suinocultura brasileira manteve ritmo de crescimento em 2024, atingindo um novo recorde histórico.
De acordo com o IBGE, foram abatidas 57,86 milhões de cabeças de suínos no ano, um aumento de 1,2% em relação a 2023 — o que representa mais 684 mil animais processados.
Esse resultado reflete não só o bom desempenho da produção nacional, mas também a consolidação do Brasil como um dos grandes players globais na cadeia da carne suína.
As perspectivas para 2025 também são promissoras. Com a carne mais competitiva entre os grandes exportadores, o Brasil deve aumentar a produção em 2,2%, alcançando 4,6 milhões de toneladas, e elevar as exportações em 4,5%, totalizando 1,6 milhão de toneladas, segundo projeções do setor.
Caso esses números se confirmem, o país será o único entre os cinco principais exportadores globais a registrar crescimento nas exportações em 2025, renovando os recordes alcançados em 2024.
A projeção reforça o protagonismo brasileiro na suinocultura mundial e evidencia o potencial do país em conquistar novos mercados e ampliar sua presença internacional.
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A avicultura brasileira consolidou-se como um dos pilares do agronegócio nacional, com desempenho expressivo em 2024.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de carne de frango foi estimada em 15,3 milhões de toneladas, representando um aumento de 2,48% em relação a 2023. As exportações somaram 5,16 milhões de toneladas, crescimento de 2,95% no mesmo período.
Para 2025, as projeções indicam continuidade no crescimento. A produção nacional de carne de frango está estimada em 15,6 milhões de toneladas, um aumento de 2,31% em comparação a 2024.
As exportações devem alcançar 5,3 milhões de toneladas, crescimento de 2,9%. A disponibilidade interna está projetada em 10,3 milhões de toneladas, garantindo o abastecimento do mercado doméstico.
O consumo per capita de carne de frango no Brasil em 2025 é estimado em 46,6 quilos, um aumento de 2,2% em relação ao ano anterior. A alteração da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) de pedaços e congelados de frango pode fazer com que os valores variem nos supermercados.

Desafio da produção de carne no Brasil: sustentabilidade
Com o Brasil consolidado entre os maiores produtores e exportadores de proteína animal do mundo, o debate sobre sustentabilidade na cadeia da carne se torna cada vez mais urgente.
O país enfrenta o desafio de equilibrar crescimento econômico com preservação ambiental, rastreabilidade e práticas produtivas alinhadas às exigências internacionais.
Segundo a CNN Brasil, a pressão por melhores práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) deve aumentar nos próximos anos, especialmente com a realização da COP30 em Belém (2025) e a implementação da nova reforma tributária, que pode incluir benefícios fiscais para cadeias produtivas com menor impacto ambiental.
Empresas da cadeia de carne bovina já avançam em iniciativas como:
- Rastreabilidade da produção, com sistemas que evitam compras de áreas com desmatamento ilegal;
- Redução de emissões de gases de efeito estufa, com manejo sustentável de pastagens e menor uso de insumos poluentes;
- Adoção de critérios socioambientais na compra de animais e na seleção de fornecedores.
No entanto, o desafio é estrutural e exige integração de toda a cadeia produtiva, do campo à indústria: capacitação técnica, incentivos a boas práticas e políticas públicas que promovam a regularização fundiária, a restauração ambiental e a valorização da produção legal e responsável.
A sustentabilidade na produção de carne, portanto, deixa de ser apenas uma demanda ética e se transforma em requisito de mercado — tanto para manter a competitividade internacional quanto para garantir acesso aos mercados mais exigentes do mundo.
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O Centro de Inteligência da Carne Bovina (CICARNE) realizou um mapeamento amplo a respeito do futuro da produção de carne no Brasil. O estudo foi produzido em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
O material é repleto de informações sobre as principais estratégias do setor e quais os grandes vetores de transformação que trarão fortes impactos para a cadeia produtiva. A seguir, conheça alguns dados importantes.
Produtos biológicos
A indústria pode esperar um avanço no desenvolvimento de fármacos biológicos para combater resíduos na carne e melhor controle de doenças e parasitas nos animais. Será um cenário com maior ajuste sanitário e diminuição dos riscos de contaminação ambiental.
É um horizonte positivo para evitar embargos comerciais de órgãos sanitários internacionais, o que impacta em mais números para a exportação de carnes.
Biotecnologia
Os avanços em biotecnologia trarão melhorias genéticas nos animais e até nos alimentos que nutrem os rebanhos. As ferramentas de controle genético são as protagonistas dessa tendência. Esperam-se números significativos na produção e valor para os gados de corte, principalmente.
Prioridade do bem-estar animal
A preocupação com o bem-estar animal não está mais restrita aos ativistas veganos e/ou vegetarianos. Há o desenvolvimento de um público que ainda consome proteína animal, mas que se mostra cada vez mais consciente e interessado pelo processo de produção.
Isso significa que o bem-estar animal será cada vez mais mandatório para que a indústria de proteína animal seja reconhecida, qualificada e mais aceita no mercado. Grupos que não se adequarem a essa tendência perderão espaço no mercado.
Exigência tecnológica
O mercado ficará mais exigente em relação ao estabelecimento de parâmetros tecnológicos em todas as fases da cadeia produtiva de carne no Brasil.
Esse movimento indica aumento da profissionalização do setor, além do avanço das demandas em quantidade, qualidade e produtividade, com uso inteligente do espaço e da mão de obra disponível.
Relacionado: Apesar do custo, automação na indústria de carnes é questão de sobrevivência: Produção de carne no Brasil: dados, tendências e oportunidades para a indústriaFrigoríficos mais naturais
As demandas por consumo mais consciente e sustentável afetam o formato de produção dos frigoríficos. Estes terão de ser mais exigentes com o uso de matérias-primas, considerando uso de produtos biológicos, manejo sustentável do produto e prioridade do bem-estar animal em todas as etapas.
Diferenciação dos cortes de carne
Essa tendência simboliza a sofisticação e elevação da exigência do consumidor final do produto, que está cada vez mais interessado em ter acesso às origens do produto que está comprando.
O processo seguirá o exemplo do que acontece em níveis mais acentuados com os queijos e os vinhos. Os frigoríficos devem trabalhar na distinção dos cortes, porções e tipos de carne, atendendo ao público que deseja viver experiências gastronômicas marcantes.

Exportação de animais vivos
Em 20 anos, o Brasil será cada vez mais relevante no mercado genético internacional, por meio da exportação de animais vivos para abate, cortes de origem e outros subprodutos que alcançarão mercados emergentes e desenvolvidos. Devemos esperar relações comerciais mais consolidadas entre o Brasil e os grupos internacionais.
Distribuição tecnológica e mais digital
Toda a cadeia produtiva do setor de carnes vai sentir os efeitos do desenvolvimento tecnológico. O destaque vai para a etapa de distribuição, que ficará com menos intermediários e mais conectada entre as partes cruciais do processo, economizando tempo e dinheiro.
Profissionais mais qualificados no campo
Hoje, 87,4% da população brasileira já é urbana e em 20 anos esse número será ampliado.
A tendência a ser observada é a da inserção mais robusta de robôs na produção de carne e tecnologia de ponta que possa dar conta dessa falta de mão de obra humana, ao mesmo tempo que vai exigir profissionais mais qualificados presentes na indústria frigorífica e de carnes como um todo.