A
segurança alimentar sempre foi uma das preocupações mais recorrentes de
indústrias alimentícias em todo o mundo. Nesse sentido as embalagens tiveram e
continuam tendo significativa importância, com suas escolhas sendo baseadas nas
características de cada tipo de alimento.
A
carne bovina, por exemplo, costuma ser acondicionada em embalagens plásticas a
vácuo. Estas são capazes de aumentar a conservação do produto, impedir odor e
facilitar o transporte. Porém, há a possibilidade que compostos presentes nas
embalagens migrem para a carne bovina, contaminando-a, mesmo que minimamente.
Diversas
metodologias são utilizadas para verificar a migração destes compostos
presentes nas embalagens para a carne. Porém, pesquisadores do Laboratório
Innovare de Biomarcadores, vinculado à Unicamp, identificaram que tais métodos
podem não ser capazes de detectar com eficiência a migração de
contaminantes das embalagens plásticas para a carne.
Por
isso desenvolveram uma nova metodologia muito mais eficaz que os métodos
analíticos empregados atualmente na detecção de migração de compostos das
embalagens para as carnes.
Conheça
mais sobre essa nova metodologia e veja como ela pode contribuir com a
segurança alimentar no melhor acondicionamento de carnes e seus derivados!
O problema das modelagens para verificar a
migração de contaminantes
A
verificação da migração de contaminantes das embalagens para carnes e derivados
é uma preocupação constante das indústrias, por isso atualmente são adotados
variados métodos para avaliar essa possível contaminação.
Porém,
segundo estudos da UNICAMP, esses métodos mais tradicionais não são capazes de
detectar a migração de contaminantes das embalagens plásticas para os alimentos,
como explica Rodrigo Ramos
Catharino, professor e coordenador do Innovare e um dos
idealizadores da pesquisa.
Segundo
ele, as metodologias utilizadas para verificar a migração de compostos
presentes nas embalagens para os alimentos nelas contidos são aplicadas por
meio de uma modelagem, e não a partir de testes em alimentos propriamente
ditos.
“Sempre houve a discussão se esse tipo de
análise conseguiria estabelecer um retrato real da migração dos compostos que
constituem o plástico para os alimentos. A resposta dada pelo nosso trabalho é
não, visto que as análises anteriores apontavam para a não ocorrência dessa
transferência”, explica o docente.
O
professor explica ainda que os resultados do estudo indicam a necessidade de se
repensar os métodos analíticos empregados atualmente, principalmente porque
eles não são capazes de detectar a migração de contaminantes das embalagens
plásticas para os alimentos.
Nova metodologia para verificar a migração de
contaminantes das embalagens para carnes: como funciona?
A
metodologia desenvolvida pelos pesquisadores da Unicamp especificamente para
esse fim contou com o uso da espectrometria de massas. Segundo os
pesquisadores, essa técnica analítica é extremamente versátil e precisa.
A
espectrometria de massas tem a capacidade tanto de determinar quanto de
quantificar a presença de determinadas moléculas numa dada amostra, mesmo que
ela seja muito pequena. “Isso
nos dá uma segurança muito grande quanto à qualidade da análise”,
salienta Catharino.
O
coordenador do Innovare aponta que nos testes realizados pelo laboratório foram
utilizados cortes de carnes bovinas adquiridos em supermercados.
“Primeiro, nós caracterizamos a
embalagem para identificar a sua composição. Depois, analisamos cortes de
carne que não foram embalados a vácuo e cortes que estavam em embalagens, de
modo a estabelecer parâmetros para comparações”.
Resultados do estudo e expectativas futuras
para a área
Segundo
os pesquisadores, os resultados deste estudo foram extremamente relevantes.
Como
era esperado, a carne que não tinha sido acondicionada em invólucro não
apresentou qualquer traço de compostos. Entretanto, nos cortes que foram
embalados a vácuo foram identificados quatro compostos (Phthalic Anhydride,
Stearamide, Diisooctyl phthalate e Polyethylene glycol). Segundo o pesquisador,
todos são impróprios para ingestão.
Além
disso, há um dado do estudo que trouxe preocupação ainda maior. Segundo
Catharino, os contaminantes não estavam presentes somente na superfície da
carne, parte que entra em contato direto com as embalagens, mas também
internamente. “Nós também
encontramos esses compostos nas partes internas do alimento”,
comenta.
Além
disso, os contaminantes deste tipo de embalagem são termoestáveis, ou seja, não
são destruídos durante o processo de cocção. “Ao contrário, eles se concentram”, explica o
professor.
Com
os resultados destes estudos, os pesquisadores explicam que há expectativas de
novas pesquisas. Estas devem se basear na busca pelas respostas para os
seguintes questionamentos:
- Qual o nível de exposição a essas substâncias proporcionado por essa migração?
- Qual o nível de toxicidade desses compostos?
- Que efeitos eles podem proporcionar para o organismo em caso de consumo prolongado?
- Como criar embalagens que reduzam a passagem de contaminantes para a carne e seus derivados?
Portanto
muita pesquisa ainda deve ser conduzida, mas Catharino finaliza dizendo que os
temas investigados pelo seu grupo de pesquisa sempre se relacionam ao cotidiano
das pessoas. “Nós procuramos
dar respostas científicas a problemas que preocupam o cidadão comum ou que
possam contribuir para ampliar a sua qualidade de vida.“
Segundo
o pesquisador, essa é uma forma de retribuir os impostos pagos pela sociedade,
que financiam a universidade pública.