Além de ser conhecido como um país alegre e receptivo, o Brasil também é mundialmente famoso por ser a terra do churrasco e do futebol. Futebol com churrasco, de preferência! Isso com certeza não deixou de ser verdade, mas de uns tempos para cá algumas mudanças têm acontecido e os brasileiros começaram a desenvolver novos interesses. Não estou me referindo a vôlei ou basquete, o futebol continua sendo queridinho das pessoas por aqui. Digo em relação aos hábitos alimentares, que tem impulsionado o desenvolvimento de novos mercados – dentre eles o de alternativas vegetais para os produtos com origem animal.

Em outubro de 2018, o The Good Food Institute publicou a primeira pesquisa a respeito do mercado de alternativas vegetais feita totalmente no Brasil. A ideia era verificar se os mesmos comportamentos de consumo já vistos em outros países também seriam encontrados por aqui, trazendo dados confiáveis para orientar o crescimento dessa indústria. Os resultados foram impressionantes!

Quase 30% dos brasileiros já estão num movimento de reduzir o consumo de produtos com origem animal, ou são vegetarianos

Isso quer dizer que esse mercado já tem um potencial de atingir 60 milhões de pessoas, número que mostra a relevância de se trazer mais soluções para atender esse público. Como comparativo, o mercado de produtos voltados a idosos no Brasil é considerado hoje uma grande oportunidade de negócios e atende cerca de 30 milhões de pessoas – metade do número de consumidores de produtos vegetarianos.

O número de simpatizantes também vem aumentando muito, uma vez que 76% das pessoas que ainda não começaram a reduzir o consumo de produtos com origem animal consideram que essa atitude seria positiva. Nesse caso, a pesquisa analisou quais fatores estão impedindo essas pessoas de mudar seus hábitos e identificou questões como comportamento familiar e praticidade.

Ainda não é possível ver esses números em dados financeiros porque faltam produtos que atendam esses clientes. Isso, porém, está mudando a passos largos! Somente em 2018 o The Good Food Institute deu suporte a mais de 50 empreendedores e viu nascer uma dezena de empresas que começam a atuar nesse setor, que também tem chamado atenção dos grandes grupos de alimentos e até dos varejistas. Para essas empresas, a pesquisa também proveu informações valiosas.

Também perguntamos qual a motivação do público ao reduzir ou eliminar o consumo de produtos com origem animal. Falamos com vegetarianos, reducitarianos e com quem não está aberto à ideia ainda. Tanto entre vegetarianos quando entre os que reduzem consumo, a principal razão encontrada foi a saúde, com bastante vantagem em relação ao segundo colocado, que é a preocupação com animais. Cerca de 50% dos vegetarianos e 70% dos reducetarianos estão nesse movimento para serem mais saudáveis, ou se livrarem dos transtornos causados por alergias e intolerâncias. Isso mostra a relevância de desenvolver produtos nutricionalmente adequados.

Fatores decisivos do consumidor durante a escolha do produto

Além disso,  a pesquisa confirmou um dado que já se conhecia internacionalmente: os três fatores mais decisivos para a escolha de um produto são Sabor, Preço e Conveniência. Assim como em outros países, as pessoas buscam produtos que considerem saborosos, num preço justo e vendidos nos mesmos lugares em que já estão acostumadas a comprar.

Também investigamos quais produtos esses consumidores gostariam de ver nas gôndolas dos supermercados. Com certeza há espaço para todas as categorias, mas em primeiro lugar, também com bastante destaque, vemos que os brasileiros desejam substituição para carne de vaca. Neste link é possível baixar nossa pesquisa completa, para ter mais detalhes e ver todas as perguntas feitas.

Está claro que os brasileiros não querem deixar de ser o país do futebol com churrasco, mas estão em busca de novas alternativas para esse churrasquinho ser mais saudável, ético e sustentável. Não há porque ver isso como uma ameaça ao mercado tradicional de alimentos, ao contrário! Essa pesquisa mostra enormes possibilidades de negócio para quem desenvolver produtos que possam suprir as necessidades desses clientes em potencial, sendo um excelente momento para empresas aumentarem sua rentabilidade ao expandir a gama de produtos ofertados.

* Gustavo Guadagnini é diretor do The Good Food Institute e colunista da Fispal Tec Digital.