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Engenharia genética e sua evolução para a indústria da carne

Article-Engenharia genética e sua evolução para a indústria da carne

imagem em 3D de construção de DNA representando a engenharia genética

A utilização da engenharia genética vem crescendo na indústria de proteína animal, como auxiliar na melhora da qualidade e maciez da carne, e fortalecimento do gado contra doenças. Conheça suas principais aplicações e desafios para implementação no Brasil.

Uma vez que a engenharia genética é a manipulação e multiplicação total de um DNA, ela é cada vez mais necessária no desenvolvimento sustentável da indústria da carne.

Quando o assunto é a crise climática e a necessidade de adaptações, tornam-se essenciais as mudanças e multiplicações genéticas nos animais para atender às altas demandas e tendências de consumo.

Qual a importância da engenharia genética na produção animal?

De acordo com o portal europeu DW News, a produção pecuária em todo o mundo gera 14,5% das emissões globais de gases com efeito de estufa. E, segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), o metano é o gás com maior proporção, sendo que, em média, 20% das emissões de metano estão relacionadas à genética das vacas. Esse gás tem o poder de aquecimento global 21 vezes maior que o dióxido de carbono. Aí entra a engenharia genética como uma grande aliada na redução da emissão destes gases, como aponta a Fundação de Tecnologia de Informação e Inovação dos EUA.

A alteração genética no gado permite modificar o DNA dos animais para melhorar diferentes características, como:

  • Resistência a doenças;
  • crescimento rápido;
  • conversão alimentar;
  • qualidade da carne.

E, muito mais do que isso, a manipulação do DNA animal é grande aliada na erradicação de doenças. Afinal, ela pode ser usada para criar animais geneticamente resistentes. Isto é: a engenharia genética se mostra como uma solução para rebanhos mais saudáveis. 

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Como funciona a indústria da carne hoje no Brasil?

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A indústria da carne brasileira é uma das maiores no mundo, com um rebanho bovino de mais de 234 milhões de cabeças em 2022, segundo o IBGE. Inclusive, o maior até então. E, para 2024, a previsão é que o Brasil permaneça sendo o maior exportador de carne bovina no mundo.

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a previsão é que as exportações globais cheguem a 11,9 milhões de toneladas neste ano, com crescimento de 1%.

E, por isso, cada vez mais, a indústria frigorífica é impulsionada pela tecnologia e automação, sobretudo por soluções de cortes precisos e monitoramento das etapas da produção.

O fato de sermos a maior indústria de carne do mundo se dá por diversos motivos, como:

  • Ampla área de pastagem;
  • rebanho bovino numeroso;
  • indústria cada vez mais moderna;
  • logística eficiente;
  • política comercial favorável;
  • investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Além disso, a abertura de novos mercados também é bastante propícia para a indústria brasileira. Países como os Estados Unidos, onde a produção da carne bovina tem diminuído, tendem a exportar mais a carne do Brasil.

Como a engenharia genética vem sendo implementada na indústria?

A engenharia genética tem sido implementada em diferentes indústrias, de diversas formas. Em geral, com um único objetivo: melhorar os processos de produção e desenvolver produtos mais eficientes.

Na indústria farmacêutica, por exemplo, essa tecnologia permite a produção de medicamentos como insulina, hormônios de crescimento e anticorpos monoclonais em microrganismos ou células animais. Já na alimentícia, atua na produção de enzimas e no desenvolvimento de alimentos funcionais.

Enzimas geneticamente modificadas são utilizadas em alguns processos industriais como na produção da cerveja e do queijo. Essas enzimas podem melhorar a qualidade dos produtos, aumentar a produtividade e reduzir custos.

No supermercado, encontramos muitos produtos marcados com um triângulo amarelo com um “T” em preto no centro, sinalizando a presença de ingredientes transgênicos, que são organismos geneticamente modificados (OGM). Os OGM têm trechos de seu genoma alterados por meio da engenharia genética. Os principais alimentos transgênicos comercializados no Brasil são a soja, o milho e o algodão.

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Além disso, a engenharia genética também está cada vez mais presente na indústria química e ambiental. Seja com a produção de biocombustíveis, biorremediação ou biopesticidas.

Alteração genética no gado: a principal prática da engenharia genética

O melhoramento genético é uma ferramenta crucial na história e no futuro da indústria da carne, e já faz parte da realidade brasileira há algum tempo.

Segundo a Embrapa, uma das maiores contribuições da ciência para a pecuária bovina brasileira foi a melhoria da genética do rebanho. Um exemplo é a introdução do gado zebu na região central do Brasil, que se tornou a base do rebanho brasileiro, onde outros avanços acontecem hoje, como técnicas de fecundação in vitro, produção de embriões e clonagem.

As técnicas de engenharia genética são usadas para modificar o DNA do gado para melhorar características como:

Crescimento

Animais geneticamente modificados podem crescer mais rápido e atingir o peso para o abate mais cedo, aumentando a produtividade do rebanho e reduzindo custos. Na década de 70, por exemplo, a idade de abate dos bovinos brasileiros era de 45 meses. Hoje, há rebanhos cuja idade de abate é de 24 meses. 

Qualidade da carne

A marmorização e a maciez são as principais características da carne melhoradas pelas modificações genéticas. Como consequência, a modificação do DNA resulta em carnes mais saborosas. 

Resistência a doenças

Certamente, a maior vantagem da alteração genética no gado. Afinal, um DNA melhorado possibilita o gado mais saudável, tornando a erradicação de doenças uma realidade palpável.

Através da modificação precisa do DNA, é possível criar animais naturalmente resistentes a doenças, reduzindo drasticamente a necessidade de antibióticos e promovendo um futuro mais saudável para a produção animal.

Desenvolvimento de carnes cultivadas em laboratório

A carne cultivada em laboratório é produzida a partir dos genes de animais sem o processo de abate. Certamente, uma solução sustentável e eficiente a partir da engenharia genética. É um alimento que requer menos terra, água e outros recursos naturais para a produção. 

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O primeiro hambúrguer de laboratório foi degustado pelo público em 2013, em Londres. Pesquisadores holandeses usaram células de uma vaca e reconstruíram uma carne bovina combinando outros ingredientes. Segundo a BBC, o projeto teve um custo de 750 mil reais e teve como mola propulsora a preocupação ambiental. 

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As palavras do cientista Mark Post, um dos pesquisadores responsáveis pela produção feita pela Universidade de Maastricht, na Holanda, foram:

"Vamos apresentar ao mundo o primeiro hambúrguer feito em laboratório a partir de células. Estamos fazendo isso porque a criação de animais para abate não é boa para o meio ambiente, não vai suprir a demanda mundial (por comida) e também não é boa para os próprios animais", ressalta Post.

Em janeiro deste ano, Israel foi o primeiro país a aprovar a venda de carne bovina de laboratório. A liberação foi dada à Aleph Farms, startup de biotecnologia israelense que possui projetos com a BRF para lançar produtos no Brasil ainda em 2024.

“O fato de que este produto específico já está programado para chegar ao Brasil, em parceria com a indústria local, é um testemunho do potencial que a carne cultivada tem para revolucionar o sistema alimentar, oferecendo alternativas sustentáveis e éticas sem comprometer o sabor ou a tradição”, afirmou o Presidente do The Good Food Institute Brasil, Gustavo Guadagnini.

“Este também é um momento crucial para Brasil, que publicou seu o primeiro caminho regulatório para produtos do tipo e pode se posicionar como líder na adoção e na inovação de proteínas alternativas, trazendo benefícios tanto para a nossa economia como para o meio ambiente”, disse Guadagnini, se referindo à RDC Nº 839, que regulamenta alimentos e ingredientes inovadores, como falaremos mais adiante. Estados Unidos e Singapura são os únicos outros países que já permitem a venda, mas apenas para carne de frango cultivada. A Aleph Farms já solicitou autorização para venda de carne bovina cultivada em Singapura, Suíça, Reino Unido e nos Estados Unidos, além de avançar com solicitações em outros mercados. 

Qual a diferença da carne cultivada e carne vegetal?

Embora ambas apresentem a ausência de abate animal e sejam alternativas para a redução dos impactos ambientais, a carne de laboratório e as carnes vegetais precisam ser distinguidas. 

As carnes vegetais são produzidas a partir de proteínas vegetais. Ou seja: soja, ervilha, lentilha, grão-de-bico, entre outras. Já a carne cultivada em laboratório é produzida a partir das células de animais: retira-se o DNA do gado para produzir o alimento.

Desafios no cenário brasileiro

Apesar do grande impacto da engenharia genética para a indústria da carne no Brasil e no mundo, ainda há muitos desafios a serem superados. Entre os principais, podemos destacar:

Regulamentação

Publicada pela Anvisa em 18 de dezembro de 2023, a resolução RDC Nº 839 regulamenta o registro de alimentos e ingredientes inovadores, incluindo os oriundos de cultivo celular e fermentação, e entrou em vigor em 16 de março de 2024. A nova legislação fortalecerá ainda mais a posição de destaque do Brasil no cenário internacional.

No entanto, ainda há a necessidade de agilizar os processos de avaliação e registro de novos produtos por parte das empresas.

Custos

Embora tenha avançado, a engenharia genética ainda é uma tecnologia complexa – o que significa custos altos com pesquisas, desenvolvimento e produção. Tudo isso implica em produtos finais com custos elevados.

Aceitação do consumidor

Em geral, ainda há certa resistência por parte dos consumidores em relação à carne cultivada em laboratório. Essa resistência se dá, principalmente, devido à falta de conhecimento sobre a tecnologia e as preocupações com a segurança alimentar.

Infraestrutura

O Brasil ainda precisa investir em infraestrutura para que a engenharia genética possa ser utilizada em larga escala. Isso inclui a criação de laboratórios especializados, a formação de mão de obra qualificada e a modernização da infraestrutura de produção.

Bioética

A utilização da engenharia genética levanta questões éticas importantes, como a potencial interferência na natureza, o impacto no bem-estar animal e a concentração de poder nas mãos de grandes empresas.

A superação desses desafios exige um esforço conjunto. Mas, embora sejam grandes, o potencial de crescimento da engenharia genética para a indústria da carne no Brasil é enorme.

 

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