Você já
ouviu falar sobre o Matopiba, localizado na região Norte/Nordeste do
Brasil? Essa região vem sendo considerada como a última grande fronteira
agrícola brasileira, gerando alta produtividade. Prova disso, é que o Matopiba
já responde por 10% de toda a safra nacional de grãos. Mas, mesmo diante do
sucesso agrícola, poucas pessoas sabem que o Matopiba tem também grande
potencial para a realização de projetos pecuários.
O que é Matopiba?
O
Matopiba é uma grande área que fica localizada na região Norte/Nordeste do
Brasil. Gustavo Spadotti Amaral Castro, Supervisor do GGTE (Grupo de
Gestão Territorial Estratégica) e pesquisador da Embrapa Territorial, explica
que a expressão MATOPIBA resulta de um acrônimo criado com as iniciais dos
estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. “Essa expressão designa uma
realidade geográfica que recobre parcialmente estes quatro estados, sendo caracterizada
pela expansão de uma fronteira agrícola baseada em tecnologias modernas capazes
de proporcionar alta produtividade”, comenta.
Do ponto
de vista de organização, o Matopiba compreende o bioma Cerrado, sendo composta
por 31 microrregiões, 337 municípios e 250.238 estabelecimentos distribuídos
num total de aproximadamente 73 milhões de hectares, conforme seu decreto de
criação: Nº 8.447 – 06/05/2015. E combina terras férteis, disponibilidade de
água, relevo plano e fácil acesso o ano inteiro, fatores que permitem o uso de
tecnologia de alta precisão.
Características do Matopiba para a pecuária
Leonardo
Moreno, pesquisador da Embrapa Pesca e
Aquicultura, localizada em Tocantins, explica que o Matopiba é uma região
de fronteira agrícola, mas antes era baseada na pecuária extensiva. “O Matopiba
tem grande potencial para ampliação do cultivo intensivo de grãos, embora a
pecuária seja uma atividade bastante antiga na região e predominante em termos
de área ocupada”.
Moreno
explica ainda que a existência de terra barata sempre foi um grande estimulador
da pecuária pela necessidade de grandes áreas que possibilitem a geração de
escala, por essa razão, o pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura diz que a
pecuária ainda é a primeira opção de uso dessas terras.
Os
números citados por Moreno mostram isso: “De acordo com o MAPA, os abates no
MATOPIBA em 2018 corresponderam a aproximadamente 7,5% dos abates de bovinos do
país”. Neste contexto, Spadotti, da
Embrapa Territorial, explica que o maior incentivo do Matopiba para a pecuária
se dá em função da dificuldade na execução de uma safrinha com alta chance de
sucesso.
“Com a
redução na competição com outra cultura granífera na mesma área, é possível
adotar o sistema ILPF (em especial a modalidade Integração Lavoura-Pecuária),
com o cultivo de uma forrageira para pastoreio após a colheita da cultura
principal”.
Spadotti
diz ainda que é estimada uma área de aproximadamente 800 mil hectares com ILPF
no Matopiba, destacadamente no estado do Tocantins, mostrando todo o potencial
da pecuária nesta área.
Diferenças do Matopiba para o resto do país
Segundo
Spadotti a resiliência é considerada a maior qualidade do produtor no Matopiba,
sendo essa a grande diferença quando comparamos um produtor dessa região para o
resto do país. “Mesmo com anos de adversidade, eles se mantêm firmes no
propósito da produção pecuária”, explica o pesquisador.
Além
disso, o pesquisador da Embrapa Territorial salienta que a chegada de maiores
investimentos, puxados pelo início de uma agricultura empresarial trará enormes
desafios aos pecuaristas tradicionais do Matopiba, que terão de se adequar à
padrões mais altos na comercialização de animais para abate.
“Hoje,
com a instalação de grandes abatedores, criou-se uma condição peculiar, onde
muitos bovinos da Matopiba precisam ‘aprender’ a comer no coxo para sua
terminação adequada”, diz.
Do ponto
de vista da região, Moreno explica que a região do Matopiba apresenta
similaridades com outras áreas de Cerrado do país. Entretanto, apresenta
algumas particularidades relacionadas à grande ocorrência de solos pedregosos e
ao clima quente e seco entre maio e setembro.
“Por
isso, é recomendado cuidado extra no estabelecimento de pastagens em áreas
pedregosas e bom planejamento da alimentação do rebanho para a época seca”,
sugere o pesquisador.
Além
disso, o pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura diz que a posição
geográfica da região é favorável para o atendimento do mercado interno de
carne, principalmente nas regiões Nordeste e Norte, além do mercado externo,
como ele mesmo explica.
“É
possível também atender ao mercado externo, com saídas pelos portos de
Barcarena (PA) e São Luís (MA), tanto para o mercado de carne quanto para o
mercado de animais vivos”.
Dificuldades transformadas em oportunidades
Algumas
são as dificuldades para a produção pecuária em larga escala no Matopiba, mas é
exatamente por causa das dificuldades que surgem as oportunidades.
Neste
sentido, tanto o pesquisador da Embrapa Territorial quanto da Embrapa Pesca e
Aquicultura sugerem o foco no trabalho dos cruzamentos genéticos em busca de
animais adaptados às condições e necessidades locais – onde a oportunidade se
faz presente no cruzamento de raças tradicionais do local, como Curraleiro,
Pé-Duro, Caracu e Crioulo Lageano, com animais comerciais, Nelore e Senepol –
mas também no aprimoramento dos manejos nutricional e sanitário.
“Ao
priorizar isso, o produtor pode buscar abertura de mercados por meio da
qualidade da carne e da carcaça no frigorífico, possibilitando a oferta de
bovinos de qualidade ao mercado interno e externo”, explica Gustavo.
Os
pesquisadores também indicam que a profissionalização da produção e o emprego
de tecnologias, dentre elas a adubação e o manejo intensivo de pastagens, uso
de suplementação a pasto e a irrigação de pastagens, permitirão grandes ganhos
em produtividade à atividade na região.
