*Por Débora Bianca Câmara Moreira Mora, pesquisadora do Radar Verde

A crescente conscientização ambiental tem levado algumas redes varejistas no Brasil a implementar práticas como a redução de plásticos, o uso de embalagens recicláveis, a promoção de produtos mais sustentáveis e a diminuição do consumo de energia elétrica. Embora importantes, essas ações ainda falham em abranger o controle sobre a cadeia produtiva da carne, onde políticas ambientais mais amplas são urgentemente necessárias. Para preservar a Amazônia, é essencial que os grandes supermercados incluam a rastreabilidade da carne em suas políticas de sustentabilidade.

A Pesquisa Radar Verde 2024, uma iniciativa conjunta do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Instituto O Mundo Que Queremos, revelou que 95,5% dos maiores varejistas do Brasil possuem um controle da cadeia pecuária muito baixo, refletindo a falta de transparência e eficácia no controle do desmatamento. Dos 67 supermercados analisados, apenas três mostraram esforços iniciais de controle sobre as fazendas fornecedoras indiretas, uma prática que, embora ainda limitada, aponta o caminho a seguir. Para um controle eficaz, é crucial que os varejistas estabeleçam e sigam políticas ambientais sólidas sobre todos os seus fornecedores e as fazendas de onde vêm os animais.

A cadeia da carne bovina envolve uma estrutura complexa, onde as fazendas fornecedoras diretas abastecem os frigoríficos, mas muitas vezes se abastecem de fazendas fornecedoras indiretas, menos monitoradas. A pesquisa do Radar Verde revela que, entre os grandes varejistas, somente Assaí Atacadista, Carrefour e Grupo Pão de Açúcar (GPA) implementam medidas de controle sobre as fazendas fornecedoras diretas.

Mesmo com o aumento de políticas de sustentabilidade voltadas à reciclagem e à redução do consumo de energia elétrica, o monitoramento da procedência do gado permanece uma área negligenciada, e esta falta de rastreabilidade compromete o esforço para frear o desmatamento.

Como está o monitoramento da cadeia da carne no Brasil por parte dos varejistas?

Para avaliar o grau de comprometimento dos varejistas, a pesquisa do Radar Verde em 2024 mapeou as 50 maiores redes brasileiras, conforme o ranking de faturamento da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), e adicionou as três principais redes regionais em cada estado da Amazônia Legal. O indicador-chave utilizado foi o Grau de Controle da Cadeia, que avalia a transparência nas políticas contra o desmatamento e a disponibilidade pública dessas informações. Empresas com um alto grau de controle se certificam, por meio de auditorias externas e independentes, de que sua carne não provém de áreas desmatadas, garantindo uma cadeia produtiva livre de práticas insustentáveis.

No entanto, apenas 6% dos maiores varejistas no Brasil demonstraram algum controle sobre a origem de sua carne bovina. A falta de políticas de sustentabilidade eficazes por parte dessas empresas impacta diretamente a Amazônia, perpetuando a pecuária como a principal causa do desmatamento na região. Para reverter esse cenário, é fundamental o desenvolvimento de diretrizes que promovam a transparência e a rastreabilidade entre os fornecedores, garantindo uma produção livre de desmatamento. A implementação de práticas agrícolas sustentáveis também se torna crucial, como a intensificação do uso de áreas já desmatadas, o combate ao desmatamento ilegal e a fiscalização rigorosa das propriedades rurais.

Exemplos de boas práticas no varejo

O Radar Verde tem o compromisso de divulgar as boas práticas das empresas que, embora não tenham alcançado a pontuação máxima, apresentam iniciativas para controle da sua cadeia de fornecedores. Os exemplos incluem:

  • Assaí Atacadista: alega ter metas para combater o desmatamento e a conversão de vegetação nativa em pastagens dentro de suas cadeias de suprimentos e promover a proteção dos biomas nativos. Além disso, adquire carne bovina exclusivamente de fornecedores que possuem o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), vinculado ao Ministério da Agricultura.
  • Carrefour: por meio do programa “Floresta Faz Bem”, promove o manejo sustentável das florestas, o reflorestamento e o desenvolvimento de práticas agrícolas responsáveis.
  • Grupo Pão de Açúcar (GPA): sinaliza que implementa práticas de sustentabilidade focadas na cadeia da carne, com o objetivo de minimizar impactos ambientais e promover responsabilidade na cadeia. A empresa informa que adota políticas de desmatamento zero e busca garantir que a carne bovina que adquire provém de fornecedores que respeitam critérios ambientais e sociais.

Estas informações foram obtidas por meio dos sites oficiais das empresas e evidenciam o início de uma transformação no setor, mas é preciso que as práticas se tornem mais abrangentes e exigentes.

Embora alguns dos maiores varejistas brasileiros tenham iniciado medidas para combater o desmatamento, há um longo caminho a percorrer. As boas práticas adotadas por algumas redes precisam ser replicadas e ampliadas para que o setor varejista contribua efetivamente para a preservação da Amazônia. A implementação de políticas de rastreabilidade robustas e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis não são apenas necessárias; são urgentes para que o compromisso ambiental seja de fato uma realidade e para que possamos assegurar um impacto positivo e duradouro na preservação do nosso meio ambiente.

*Débora Bianca Câmara Moreira Mora atua na pesquisa e desenvolvimento do Radar Verde. É consultora, gestora ambiental, bacharel em Direito, especialista em Sistema de Gestão Ambiental ISO 14001. Tem experiência nas áreas de meio ambiente, rastreabilidade e sustentabilidade de frigoríficos.