Não é de hoje que o mercado de alimentação fora do lar é reconhecido pelo potencial de crescimento e faturamento. Os dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 34% dos brasileiros gastam 25% da renda com esse tipo de consumo, o que corresponde a R$ 170 bilhões por ano. Os números, portanto, deixam claro o tamanho do mercado. O que parece ainda não muito evidente é a percepção sobre o forte crescimento do público vegano nos últimos anos e como o atendimento a este público poderia agregar valor ao faturamento de bares, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais.

Atualmente, 14% da população brasileira se declara vegetariana, segundo pesquisa divulgada pelo Ibope Inteligência, em abril de 2018. Em grandes capitais como São Paulo, Recife, Curitiba e Rio de Janeiro, esse percentual sobe para 16% — o que representa um crescimento de 75% da população vegetariana nessas regiões, nos últimos seis anos. Em linha com essa tendência, empresários do setor estimam que o mercado vegano tenha crescido a uma taxa anual de 40%, nos últimos anos, em média. Embora não existam dados específicos sobre o número de veganos, a mesma pesquisa mostrou que 55% dos brasileiros consumiriam mais produtos veganos se existissem indicações sobre os produtos. Em outras palavras: a falta de comunicação adequada nos pontos de venda ou o desinteresse de parte do empresariado pode estar limitando uma demanda gigantesca.

 

Cardápio vegetariano

 

É verdade que já existe certa movimentação no mercado para atender a essa demanda. No Brasil, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) calcula que existam cerca de 240 restaurantes vegetarianos e veganos, sem contar os inúmeros lançamentos de pratos e lanches veganos em lanchonetes e restaurantes não vegetarianos. Para termos uma ideia do tamanho da procura por produtos veganos, entre janeiro de 2012 e dezembro de 2017, o volume de buscas pelo termo vegano no Google cresceu 14 vezes.

No entanto, entre as grandes redes de alimentação, a inclusão tem sido feita majoritariamente com opções que possuem ingredientes derivados de origem animal, como o leite. Faz algum tempo que o Burguer King lançou um lanche, cujo hambúrguer é produzido com cogumelo, mas com queijo como recheio. Mais recentemente, o McDonald’s lançou um sanduíche Veggie, só que com queijo coalho. As iniciativas são importantes, mas ainda excluem uma boa parcela da população: os veganos, reducionistas e algumas pessoas que evitam leite por questões de saúde.

 

Bons exemplos

 

Outras empresas como a Baccio di Latte, uma das maiores redes de sorveteiras do Brasil, já oferecem opções veganas no cardápio. A empresa acaba de lançar um sorvete cremoso de chocolate, sem nada de origem animal, chamado Cioccolato D’Acqua. Entre as lanchonetes, o clássico hambúrguer Quitandinha passou por uma reformulação e agora possui uma versão vegana. O lanche é de autoria da Lanchonete da Cidade, tradicional rede paulistana com cinco unidades na Capital Paulista. A casa ainda oferece outro tipo de sanduíche vegano batizado de ‘VegPower’, cujos ingredientes foram selecionados em parceria com o Programa Opção Vegana, da SVB. O projeto tem como objetivo oferecer consultoria gratuita para restaurantes, bares e outros estabelecimentos que tenham o desejo de oferecer comida vegana no cardápio, mas ainda não têm ideia de como fazer.

Os números e o novo comportamento do consumidor revelado pelas pesquisas mostram que um novo mercado está surgindo. Ficou interessado em se abrir para esse novo público? Então é melhor não vacilar. Inclua opções veganas no cardápio. O meio ambiente e a saúde também agradecem.

 

* Por Roberto Tenório, Redator da Sociedade Vegetariana Brasileira, colunista da Fispal Food Digital.