Secas, enchentes e geadas fora de época já afetam o dia a dia da indústria. Além disso, diversos alimentos impactados pelas mudanças climáticas estão sofrendo com a queda na produtividade, o que, consequentemente, gera aumento de custos, instabilidade na cadeia de suprimento e risco à segurança alimentar.

Essas alterações climáticas também geram mudanças no calendário agrícola, modificando épocas de plantio e colheita e dificultando o planejamento da produção. Como resultado, o setor torna-se mais vulnerável e menos previsível, tanto no campo quanto na indústria.

Por isso, quem atua no setor precisa ficar atento aos efeitos diretos da crise climática. A seguir, entenda quais alimentos já são afetados e conheça alternativas e substituições que estão surgindo no mercado.

Banner do evento Summit Future of Nutrition realizado em São Paulo, de 26 a 28 de agosto de 2025, com foco em inovações científicas em ingredientes, saúde, sustentabilidade e segurança alimentar.

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Alimentos mais vulneráveis às mudanças climáticas

Nem todos os alimentos reagem da mesma forma às mudanças do clima. Por outro lado, alguns são mais sensíveis a variações de temperatura, à escassez de água ou ao excesso de chuvas, portanto, tornam-se mais vulneráveis a perdas de produtividade e qualidade.

Essa instabilidade climática pode afetar diretamente a indústria, que depende de matérias-primas disponíveis, com preços controlados e entrega garantida. Quando esses fatores ficam ameaçados, todo o sistema sofre, da produção ao consumidor final.

Confira a seguir quais são os alimentos mais vulneráveis às mudanças climáticas e porque eles merecem atenção especial.

Culturas em risco

Diversos alimentos consumidos no mundo todo estão cada vez mais vulneráveis aos efeitos da crise climática. A combinação entre eventos extremos, aumento da temperatura e desequilíbrio hídrico tem impactado diretamente a produtividade, qualidade e estabilidade de colheitas essenciais para a indústria de alimentos e bebidas.

Café

O café depende de temperaturas amenas, chuvas bem distribuídas e períodos definidos de seca para florescer. No entanto, com o avanço do aquecimento global, essas condições ficam cada vez mais raras. O calor intenso e a falta de chuva comprometem o desenvolvimento dos grãos e reduzem a produtividade das lavouras.

O café, especialmente o tipo arábica, já vem sofrendo com secas prolongadas e calor intenso. No Brasil, as altas temperaturas e a falta de chuva reduziram significativamente a produção, o que provocou aumento nos preços da saca e pressão sobre toda a cadeia.

Em países como Vietnã e Indonésia, o impacto climático na produção agrícola vem gerando um desequilíbrio entre oferta e demanda que afeta o mercado global.

Imagem de café tipo arábica e utensílios de cobre em uma mesa de café, incluindo grãos de café, uma cafeteira antiga, e especiarias.

Cacau

A crise do cacau é um dos exemplos mais visíveis dos impactos climáticos. Uma forte quebra de safra em 2024, provocada por doenças como o vírus do broto inchado e por temperaturas acima dos 32 °C, afetou a produtividade em países da África Ocidental, responsáveis por 65% da produção mundial.

A planta do cacau exige um clima úmido e estável para se desenvolver bem. Entretanto, temperaturas elevadas e a falta de chuvas regulares afetam diretamente a quantidade e a qualidade das amêndoas. 

O El Niño também intensificou o problema, alternando períodos de seca e excesso de chuvas. O resultado foi uma disparada nos preços e um alerta para a sustentabilidade dessa cultura.

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Milho

O milho precisa de solo fértil e um bom volume de chuva durante o ciclo produtivo. Por isso, com a irregularidade climática, principalmente no Centro-Oeste e Sul do Brasil, a cultura tem sido diretamente prejudicada.

A estiagem prolongada e o calor extremo reduzem a germinação das sementes e impedem o desenvolvimento pleno das espigas. Em 2025, os prejuízos se estenderam desde a soja até o milho, com perdas significativas na colheita e aumento dos custos para os produtores.

Arroz

Embora seja uma cultura tradicionalmente cultivada em regiões alagadas, o arroz também sofre com o desequilíbrio do clima. Enchentes intensas, como as registradas no Sul do Brasil, e variações de temperatura comprometem o desenvolvimento das lavouras, podendo gerar perdas significativas.

Pessoa segurando arroz branco sendo despejado de um saco em mãos, foco na manipulação do alimento e produção de arroz.

Uvas

A produção de uvas, especialmente para vinhos, enfrenta um cenário desafiador com a alternância entre estiagens e enchentes. No Rio Grande do Sul, práticas adaptativas vêm sendo implementadas por vinícolas e produtores, mas a pressão do clima exige constantes ajustes.

A produção da fruta requer estabilidade climática durante o florescimento e a maturação dos frutos. Oscilações bruscas de temperatura e o excesso ou a falta de chuvas podem prejudicar a qualidade da safra.

Frutas tropicais (como banana e manga)

Essas frutas exigem calor e umidade na medida certa para se desenvolver. A combinação de altas temperaturas com períodos de seca, somada ao aumento de pragas, compromete a produção.

No caso da banana, estima-se que dois terços das áreas produtoras da América Latina e Caribe possam se tornar inadequadas até 2080. Países como Colômbia, Costa Rica e Guatemala já enfrentam queda de produtividade, afetando comunidades que dependem da fruta como fonte de renda e alimento.

Pecuária e alimentação animal

As mudanças climáticas não afetam apenas as plantações, a produção de carnes e laticínios também está sob forte pressão. Com o aumento das temperaturas e a irregularidade das chuvas, a escassez de água e pastagens tem dificultado a criação de animais, especialmente em sistemas extensivos.

Em várias regiões do Brasil, produtores enfrentam períodos longos de seca, que prejudicam o crescimento da forragem e forçam o uso de suplementos e ração, elevando os custos de produção.

Imagem de solo seco e rachado em um ambiente que demonstra os efeitos da seca, com pouca vegetação e água escassa ao fundo, evidenciando a crise ambiental e a importância da preservação.

Além disso, as alterações no clima impactam diretamente a disponibilidade e o preço dos grãos usados na alimentação animal, como o milho e a soja. Com a redução de safras por eventos climáticos extremos, os insumos ficam mais caros e isso afeta toda a cadeia de carnes e laticínios.

Basicamente, a instabilidade no fornecimento de ração pode reduzir o ganho de peso dos animais e comprometer a qualidade e quantidade da produção de leite, ovos e derivados.

Outro ponto importante é o impacto ambiental da própria pecuária, principalmente a bovina. O setor é responsável por uma parcela significativa das emissões de metano, um gás com potencial de aquecimento global muito maior que o CO2.

Por isso, a cadeia de proteína animal está cada vez mais pressionada a se adaptar, tanto para lidar com os efeitos do clima quanto para reduzir sua contribuição com os efeitos do aquecimento global na agricultura.

Substituições e adaptações possíveis

Diante da escassez de alimentos por variações climáticas, muitas empresas e pesquisadores buscam alternativas para garantir a continuidade da oferta e minimizar os riscos para a cadeia produtiva.

Uma das principais estratégias tem sido substituir ingredientes de alto impacto por versões mais resistentes às novas condições climáticas ou menos exigentes em recursos naturais.

Alimentos alternativos e substitutos viáveis

Um dos movimentos mais relevantes como alternativa aos produtos de origem animal é o da alimentação plant-based, feita exclusivamente com ingredientes de origem vegetal, como carnes vegetais, laticínios e sobremesas à base de plantas. Essas opções imitam o sabor, textura e aparência dos alimentos tradicionais, usando proteínas de soja, ervilha, grão-de-bico, entre outros.

Pessoa segurando embalagem de carne vegetal à venda em supermercado, representando uma opção de carne à base de plantas para consumo consciente e sustentável.

O mercado plant-based cresce mais de 7% ao ano no Brasil e tem previsão de expansão média de 12% até 2027, segundo o The Good Food Institute. Essa tendência é impulsionada pela busca por saúde, sustentabilidade e bem-estar animal. O país, com sua biodiversidade e força agrícola, tem potencial para se tornar referência mundial na produção de proteínas vegetais.

As carnes vegetais também se destacam. Desenvolvidas para replicar a experiência da carne tradicional, elas utilizam menos água, emitem menos gases poluentes e não envolvem abate animal. Estimativas apontam que esse mercado pode movimentar até 140 bilhões de dólares até 2030, representando 10% do consumo global de carne.

Outras inovações incluem a carne cultivada, feita a partir de células animais em laboratório, e as proteínas derivadas da fermentação de microrganismos. 

Pote de vidro com fermento tampado com papel manteiga.

Ambas prometem reduzir o impacto ambiental da produção de alimentos, oferecendo alternativas nutritivas, seguras e com maior durabilidade. Essas soluções mostram que é possível alinhar tecnologia, sustentabilidade e alimentação em um cenário cada vez mais desafiador.

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Tecnologia agrícola e soluções para o futuro dos alimentos

A inovação no campo tem se mostrado essencial para garantir a produção de alimentos em um cenário mais instável e exigente. A adoção de tecnologias e práticas sustentáveis está mudando a forma como produzimos, cuidamos do solo e utilizamos os recursos naturais.

A agricultura regenerativa é um exemplo de adaptação de alimentos às novas condições climáticas. Ela propõe restaurar a saúde do solo, da água e da biodiversidade por meio de práticas como rotação de culturas, compostagem, plantio direto e agrofloresta.

Além de melhorar a produtividade a longo prazo, esse modelo contribui para capturar carbono no solo, combater as mudanças climáticas e produzir alimentos mais nutritivos e saudáveis.

Outra frente importante é o uso de sistemas de irrigação inteligente e monitoramento climático. Equipamentos com sensores e automação permitem que o produtor aplique apenas a quantidade de água necessária em cada fase da cultura, evitando desperdícios e melhorando o desempenho das lavouras mesmo em períodos de seca ou temperaturas elevadas.

Já a bioengenharia tem ampliado as possibilidades de adaptação genética das culturas alimentares. Por meio da biotecnologia, é possível desenvolver plantas mais resistentes a pragas, secas e outras adversidades climáticas.

Além disso, essa tecnologia permite enriquecer os alimentos com vitaminas e minerais, como no caso do arroz dourado com vitamina A, e também é usada na produção de proteínas alternativas e alimentos fermentados com melhor valor nutricional.

O investimento em agroflorestas e ingredientes de baixo carbono também vem crescendo exponencialmente. Proteínas vegetais, derivadas de algas, cogumelos e ingredientes cultivados em sistemas verticais ou hidropônicos são exemplos dessa nova geração de alimentos.

Três objetos de madeira com símbolos verdes relacionados à sustentabilidade e combate às mudanças climáticas, incluindo redução de CO2, globalização ecológica e Zero Net.

Essas soluções, mostram que o futuro dos alimentos passa pela inovação sustentável, com foco na eficiência dos recursos, na preservação ambiental e na qualidade dos produtos oferecidos à população.

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