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Como China e Brasil podem cooperar para que a carne bovina seja livre de desmatamento

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Levantamento recente encontra lacunas no monitoramento de fornecedores por frigoríficos que exportam para China e Hong Kong

*Por Dayane Nascimento

Um dos principais importadores de carne bovina brasileira, a China, tem potencial para influenciar as práticas da indústria aqui no país. Entre 2009 e 2022, de acordo com dados da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina (ABIEC), as exportações chinesas aumentaram em impressionantes 476%. O crescimento reflete a crescente demanda chinesa por carne bovina, mas também aponta para a necessidade de condutas mais sustentáveis no setor.

Desde dezembro de 2021, a  Associação de Carne da China (CMA, na sigla em inglês) conta com uma nova regulamentação, a Especificação para o Comércio Verde da Indústria da Carne. A medida que busca promover a sustentabilidade e a segurança alimentar, ainda não possui uma data definida para ser totalmente implementada, mas é um forte sinal que o Brasil precisa se preparar para atender às exigências.

Segundo um novo estudo realizado pelo Radar Verde, das 176 plantas frigoríficas operando na Amazônia, 72 possuem licença para exportar para a China (31) e Hong Kong (71). Hong Kong foi incluída na avaliação, pois a carne exportada para o território pode ser re-exportada para a China continental. 

Nenhuma das plantas habilitadas a exportar para a China comprova ter controle dos fornecedores indiretos e apenas 20 demonstram controlar os fornecedores diretos. Pelo menos 25 das 31 empresas licenciadas a exportar para a China operam em regiões com mais de 300 mil hectares expostos a riscos de desmatamento.

No caso das plantas autorizadas a exportar para Hong Kong, 38 das 71 demonstram controle dos fornecedores diretos e nenhuma controla os fornecedores indiretos.

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A avaliação foi baseada nos resultados da Pesquisa Radar Verde 2023, que indicou o compromisso das empresas frigoríficas em combater o desmatamento na Amazônia através do monitoramento completo da cadeia de fornecimento, compromisso fundamental para assegurar que a carne exportada seja produzida de maneira sustentável.

Por isso, para que a carne brasileira seja livre de desmatamento, algumas ações são necessárias:

  1. A CMA deve definir uma data para a implementação das políticas anti desmatamento e optar por adquirir exclusivamente de empresas com políticas ambientais bem estabelecidas, que demonstrem controle sobre toda a cadeia e que compram gado de áreas com baixo risco de desmatamento.
  2. Os frigoríficos brasileiros precisam expandir seus esforços para incluir e relatar o monitoramento de fornecedores indiretos da cadeia. Além disso, devem ser mais transparentes em relação às suas políticas ambientais, incluindo o combate ao desmatamento da Amazônia, e os resultados dessas políticas, para promover mais responsabilidade e confiança no setor. 
  3. Os importadores chineses podem solicitar a divulgação de dados sobre o transporte de gado (GTA) para a China, aumentando a transparência e a responsabilidade na cadeia de suprimentos, além de incentivar o governo a implementar uma política de rastreabilidade individual de animais mais robusta.
  4. A colaboração entre instituições financeiras privadas, públicas e agências governamentais para criar incentivos às práticas produtivas e sustentáveis. Isso pode incluir subsídios ou linhas de crédito específicas para os produtores.

A cooperação entre China e Brasil para assegurar que a carne bovina seja livre de desmatamento envolve um esforço coordenado para implementar políticas rigorosas, monitorar toda a cadeia de suprimentos, promover transparência e incentivar práticas sustentáveis entre os produtores. Somente desta forma o Brasil estará preparado para atender às exigências ambientais cada vez mais rígidas do mercado asiático.

Melhorar a reputação internacional da carne bovina brasileira abrirá novos mercados e consolida a posição do Brasil como líder também em sustentabilidade pecuária, mas acima de tudo garantirá a proteção da Amazônia, a segurança alimentar e o futuro da agropecuária brasileira, que também precisa das florestas para se manter.

*Dayane Nascimento é jornalista e coordenadora de projeto no Instituto O Mundo que Queremos.

 

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