Quando falamos em cortes como filé mignon, picanha, maminha, fraldinha, carré, t-bone, prime rib, entre outros, já pensamos na carne bovina. Porém, todas essas carnes nobres também podem ser encontradas na gôndola de suínos. A tradição do pernil na ceia de Natal e da linguiça no churrasco de Ano Novo não são as únicas opções, e o aumento da procura por diferentes cortes de porco é a prova disso.
O consumo de carne suína no Brasil deve registrar um aumento significativo neste fim de ano, impulsionado por fatores sazonais, econômicos e culturais. Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e do IBGE, a expectativa é de que o consumo per capita se mantenha próximo ao recorde de 19,5 kg por habitante, alcançado em 2024.
“A sazonalidade positiva típica do fim de ano, marcada pelas festas natalinas, reforça o apelo da proteína suína, especialmente em cortes como pernil, lombo e leitão”, afirma Gabriel Villela Dessimoni, doutor em nutrição e produção animal e nutricionista da Quimtia Brasil. Esses cortes, tradicionalmente presentes nas ceias de Natal e Ano Novo, concentram uma parcela relevante das vendas do setor no último bimestre do ano.
Nesse cenário, o período de festas também representa uma oportunidade estratégica para ampliar o cardápio com carne suína. “A experimentação de novos cortes e preparações durante as festas pode se converter em hábito de consumo ao longo do próximo ano, consolidando a presença da carne suína na rotina alimentar do brasileiro”, explica.
Mudanças no hábito de consumo
Beate von Staa, proprietária da Topgen, empresa brasileira especializada em genética suína, afirma que os números comprovam “uma mudança substancial nos hábitos alimentares e na relação do público com a carne suína”.
De acordo com a especialista, o aumento do consumo vai além da relação de custo-benefício. A carne suína vem ganhando novos mercados pelas descobertas e experiências dos consumidores, que têm considerado a proteína a melhor opção para diversas ocasiões.
“O aumento do preço da carne bovina também foi um fator que contribuiu para o interesse da população pela proteína suína como alternativa. Assim, o nosso desafio é mostrar que a suinocultura também produz cortes nobres de excelente qualidade”, diz Beate von Staa. “Além disso, com um bom trabalho de marketing da ABCS junto às grandes redes de supermercado, essas opções estão cada vez mais presentes na mesa dos brasileiros.”
Embora a carne de frango ainda seja a proteína mais consumida no país, com cerca de 45 kg per capita, a carne suína vem ganhando espaço no mercado interno. Segundo Dessimoni, o preço competitivo e a valorização cultural têm sido fatores decisivos para essa expansão, aliados a mudanças nos hábitos alimentares e ações estratégicas de reposicionamento do setor.
Nos últimos anos, o setor tem trabalhado para desmistificar preconceitos antigos, como a ideia de que a carne suína é “gorda” ou “suja”, promovendo-a como uma opção saudável, versátil e acessível. “Esses esforços têm contribuído para popularizar a proteína em ocasiões de consumo em que ela tradicionalmente não era a primeira escolha”, conclui Dessimoni.
Para atender à alta demanda, o mercado de suinocultura nacional tem se preparado com ajustes no manejo reprodutivo e no ritmo de abates, garantindo a oferta dos cortes mais procurados. Segundo a Conab, a projeção da carne suína indica produção de cerca de 5,8 milhões de toneladas, com disponibilidade interna de 4,3 milhões de toneladas e exportações acima de 1,5 milhão de toneladas em 2026.

Importância genética
A qualidade da carne suína começa com a genética dos animais, que tem impacto em características como maciez e sabor. No programa de melhoramento genético usado pela Topgen, por exemplo, mesmo nas linhagens maternas, os indicadores de qualidade de carne têm um grande peso, afinal, a matriz é responsável por 50% da carga genética da progênie.
Essa qualidade é medida por vários indicadores, como a porcentagem de gordura intramuscular (marmoreio), que é o principal responsável pelo sabor e suculência. Além disso, perda por gotejamento (fator que resulta em menos suculência), maciez e cor. “No nosso programa, o indicador de gordura intramuscular não pode ser menor que 2%. A qualidade (tipo) da gordura avaliada também é um diferencial”, pontua Beate.
O melhoramento genético, além da qualidade da carne e experiência do consumidor, resulta também em eficiência e uniformidade. “Queremos, com as nossas linhagens maternas batizadas por “Afrodite” e “Vênus”, a eficiência produtiva e reprodutiva para o produtor, a uniformidade e padronização para o frigorífico e, por fim, uma ótima experiência ao consumidor”, finaliza.
Com a combinação de sazonalidade, planejamento estratégico e reposicionamento cultural, a carne suína se consolida como uma opção cada vez mais presente nas mesas brasileiras, especialmente durante as festas de fim de ano.
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