O setor de alimentos – em todas as suas etapas, do campo ao varejo – lida quase sempre com margens de lucros espremidas. Uma imperfeição que se prolongue é capaz de, ao longo do tempo, varrer do mapa uma considerável quantidade de agentes. Nesse sentido, a rastreabilidade surge como uma das possibilidades para aumentar a eficiência na indústria alimentícia, reduzir custos e, com isso, tornar os negócios mais saudáveis.

Para tanto, algumas tecnologias já consagradas, como o código de barras e os QR codes, seguem sendo eficientes, ainda mais agora, com o aumento da capacidade de armazenagem de informações dentro de um único código e à facilidade de leitura, que hoje pode ser feita por qualquer celular.  

Mas há também novas tecnologias ajudando – e muito – nesse processo. Embora pareçam um pouco enigmáticas para boa parte dos agentes, algumas delas têm levado eficiência para o setor. É o caso do blockchain, por exemplo, que ficou famoso por ter permitido a existência do bitcoin e outros criptoativos ao criar uma cadeia confiável de registro de informações. Hoje, essa tecnologia é utilizada nos mais diversos setores da economia.

O blockchain permite que cada etapa da cadeia de suprimentos (produção, transporte, venda) seja capaz de registrar dados em blocos, “os quais são conectados e compartilhados entre todos os envolvidos”, explicam Dianini Huttner, Indianara Dias e Lilian Barosky, do Instituto Senai. Essa transparência ajuda em auditorias, certificações e facilita recalls para o setor de alimentos.

Além disso, a tecnologia RFID (Identificação por Radiofrequência) avança ao possibilitar a leitura de dados em tempo real sem contato físico com o produto, o que é particularmente útil para alimentos perecíveis.

Os já mencionados códigos QR e de barras continuam sendo largamente utilizados, sobretudo por pequenas e médias empresas, graças ao seu baixo custo e à capacidade crescente de armazenar informações detalhadas sobre o produto com uma simples leitura de smartphone.

Outras soluções reforçam a rastreabilidade em etapas menos visíveis ao consumidor, como softwares de gestão (ERPs), sensores logísticos e sistemas de controle em frigoríficos. “Essas abordagens são mais direcionadas à rastreabilidade de produtos onde a embalagem individual nem sempre está presente, como alimentos a granel e in natura”, detalham as especialistas do Senai.

PMEs

A adoção de algumas dessas tecnologias também é viável para pequenos e médios negócios. QR Codes e sistemas baseados em nuvem vêm sendo utilizados como soluções de entrada, acessíveis e eficazes.

“Alguns softwares de rastreabilidade mais acessíveis economicamente e leitores de RFID portáteis estão democratizando o acesso à tecnologia”, apontam Huttner, Dias e Barosky.

Com isso, a rastreabilidade se consolida como uma ferramenta estratégica para toda a cadeia alimentar — do pequeno produtor ao grande exportador.

“Embora algumas tecnologias tenham um custo mais elevado, o avanço da digitalização e a popularização de soluções baseadas em nuvem têm tornado a rastreabilidade cada vez mais acessível também para pequenas e médias empresas. Há opções escaláveis e customizáveis, o que permite a adoção gradual conforme a capacidade e maturidade de cada empresa”, afirma Claudio Zanão, presidente executivo da Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados).

Rastreabilidade garante valor agregado ao segmento premium

A multinacional Tetra Pak é um exemplo de como a rastreabilidade pode ser integrada à estratégia de negócios. Seu sistema de Rastreabilidade Ativa permite monitorar todo o processo, da fazenda à prateleira. “As linhas controladas são mais eficientes, o que impacta diretamente no tempo de resposta a crises ou falhas ocasionais”, explica Luís Ramirez, diretor de Portfólio de Embalagem da Tetra Pak Brasil. O executivo acrescenta que mais de 300 índices de processo e qualidade são analisados em tempo real para garantir a conformidade do leite, por exemplo.

Além da segurança alimentar, há impactos diretos na produtividade e no relacionamento com o consumidor. “Registrar o caminho percorrido pelo alimento é mais do que uma exigência legal, é uma ação proativa das empresas preocupadas com o alimento seguro”, reforçam os representantes do Senai. Ramirez, da Tetra Pak, complementa: “As ferramentas tecnológicas que disponibilizamos podem ser usadas dentro do processo de produção e envase, além das fases de consumo e pós-consumo.”

As chamadas embalagens inteligentes elevam esse conceito a outro nível. Equipadas com sensores que indicam variações de temperatura, umidade e até presença de gases, elas alertam sobre potenciais riscos à qualidade do alimento. “Estes sistemas são utilizados, por exemplo, em produtos onde se deseja garantir a autenticidade como alimentos orgânicos e premium”, destaca o Senai.

Para o professor Rafael Fagnani, da Universidade Estadual de Londrina, o avanço tecnológico torna possível ir muito além do básico. “Hoje, é possível saber se o bife consumido veio de animais que foram tratados dentro dos preceitos de bem-estar animal ou se foram alimentados com grãos transgênicos, tudo por meio de suas embalagens rastreáveis”, afirma. Segundo ele, esses recursos ajudam também na construção da confiança entre marca e consumidor.

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