“Não aceitem nada menos do que vocês merecem; o lugar da mulher é no topo, liderando!” Foi nesse clima de empoderamento, com as palavras de Cida Pastori, especialista em desenvolvimento humano, que começou a segunda edição do Women’s Networking Breakfast. O evento, exclusivo para mulheres profissionais da indústria de ingredientes, alimentos e bebidas, aconteceu durante a Food ingredients South America (FiSA), neste dia 7 de agosto.

O reconhecimento de mulheres em cargos de liderança

Embora o tema esteja em alta, apenas 38% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres, conforme pesquisa da FIA Business School de 2023. Isso reforça a importância de criar espaços que motivem e capacitem mulheres a se tornarem líderes, gestoras e empreendedoras que inspiram e apoiam outras profissionais na conquista do topo.

“A Informa Markets é uma empresa que valoriza e reconhece as mulheres. Sentimos grande satisfação em criar esses espaços em nossos eventos, proporcionando oportunidades para que as mulheres interajam, compartilhem desafios e experiências”, afirmou Clelia Iwaki, Diretora do Núcleo de Alimentos e Bebidas da Informa Markets Latam, empresa organizadora da feira.

Durante esse encontro, foram discutidos assuntos como maternidade, inovação, visão estratégica dentro das empresas e a construção de uma cultura organizacional que priorize humanização e desenvolvimento pessoal e profissional. 

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É possível conciliar a maternidade com a carreira? 

Um dos grandes desafios da mulher moderna é conseguir conciliar a jornada dupla – às vezes até tripla. Ser mãe, esposa e profissional não é uma missão fácil. “Tive que ter coragem para reconhecer que priorizar a festa de fim de ano da minha filha, em vez da reunião com o presidente da empresa, era a decisão certa. Só eu podia estar presente na festa da minha filha, enquanto outras pessoas poderiam participar da reunião”, contou Araceli Silveira, VP de Audiência e Sustentabilidade da Informa Markets Latam. Ela destacou que ter um gestor compreensivo, que reconhecia a importância dessa questão, foi essencial para o seu processo.

Já para Gabriela Migotol, Gerente de Pesquisa & Desenvolvimento da Pepsico, a escolha foi outra. Ela estava em uma multinacional, ganhando projeção, mas tomou a decisão de priorizar sua família, casou-se e foi morar no Chile. “Eu sempre tive o privilégio de conseguir tomar minhas decisões e misturar minha carreira e minha vida pessoal. Hoje estou exatamente no lugar que quero, fazendo o que amo. Mesmo com essa pausa, tudo deu certo”, disse ela. 

Em contraponto às duas histórias anteriores, Rosana Goldbeck, Professora e Pesquisadora da Unicamp, dividiu com o público que sempre deu muito mais importância para o seu lado profissional e foi deixando os sonhos pessoais de lado. Se pudesse fazer diferente, optaria por equilibrar melhor esses aspectos. “Minha dica é não esperar o momento certo para ter filhos, por exemplo, porque depois pode ficar mais difícil. Equilíbrio é fundamental”, afirmou. 

Araceli compartilhou uma dica valiosa para líderes que desejam apoiar suas colaboradoras que decidem ser mães: “Seja a líder que se alegra com a gravidez de suas funcionárias. Seja a líder que incentiva ela a ser feminina, mãe e profissional ao mesmo tempo. Muitas de nós enfrentamos dificuldades em oferecer o que não recebemos, mas precisamos fazer isso”, destacou.

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A empresa pode e deve ajudar as mulheres a se tornarem mães

Mais da metade das mulheres (56,4%) já foi demitida ou conhece outra mulher que foi desligada após voltar da licença-maternidade, isso é o que diz um estudo realizado pelo portal Empregos.com.br. Junto com esse medo, vem o papel da empresa em garantir que essa mãe esteja amparada e tenha uma rede de apoio para continuar seu trabalho após a licença maternidade. 

Em relação a isso, Fernanda Martins, Senior Nutrition & Health Advocacy Manager Latin America da Unilever, foi muito feliz de trabalhar onde trabalha. “Ter um berçário dentro da empresa é uma ferramenta que ajuda as mães a manterem suas carreiras. Eu trabalho no mesmo andar onde meus filhos ficam no berçário, o que facilita a amamentação e cuidados rápidos”, conta.

Além disso, ela destacou como a empresa transformou a licença maternidade em uma oportunidade de crescimento para os demais funcionários. Antes mesmo de se tornar mãe, Fernanda se beneficiou dessa política ao cobrir a licença de uma colega na Holanda, uma experiência que acabou impulsionando sua carreira.

A compreensão da Ambev com Annelise Alves também foi um dos pontos destacados. A Diretora de Marketing Beyond Beer tirou duas licenças maternidade em dois anos. “Em ambas, chegou no quinto mês de licença e eu percebi que era impossível ficar em casa. Liguei para minha chefe e pedi para voltar antes do prazo. Isso também foi importante para eu dar o meu melhor como mãe, da minha forma”. 

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E a mulher que decide não ser mãe?

A maioria das palestrantes do Women’s Networking Breakfast são mães muito orgulhosas dessa escolha. Mas, e quem decide não ser mãe? Esse foi o dilema que Cristina Faganello, Diretora de Marketing da Cargill, enfrentou nos seus 30 e poucos anos. 

“Eu nasci já sem essa vontade de ser mãe. Por algum tempo, senti uma culpa muito grande, me perguntando se havia algo de errado comigo. O que contou muito para mim foi o meu reencontro comigo mesma. Eu precisava ser honesta comigo”, desabafou.

Mesmo sem as questões que envolvem a maternidade, Cristina enfrentou tantos desafios quanto as outras palestrantes. “Em uma negociação, um cliente perguntou se ele terminaria com meu gestor homem ou comigo, a ‘Barbie’. Meu gestor me empoderou dizendo que seria comigo porque eu tinha capacidade e expertise para isso”, conta. 

Com esse apoio dado pelo gestor, ela entendeu a importância de ter aliados. Por isso, como gestora, investe em um trabalho muito forte de cultura, com mentorias, treinamentos e redes de diversidade com participação ativa dos homens

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Homens e aliados: qual o papel deles no empoderamento feminino? 

Claudia Maia, Diretora de People na PepsiCo, destaca que as discussões sobre diversidade na empresa envolvem a participação ativa dos homens. “Ao trazer à tona os problemas, fomentamos mudanças reais. Incluir os homens nas discussões os incentiva a praticar a escuta ativa e a compreender profundamente as questões antes de agir. Isso é fundamental”, afirmou.

Já para Alexandra Söderberg, CMO e co-fundadora da Naveia, que nasceu e cresceu na Suécia, a percepção é diferente. Ela destaca que no seu país, as licenças maternidade e paternidade são iguais, permitindo que ambos os pais se apoiem mutuamente. “Não sou mãe, mas vi muitos casais dividirem esse tempo para que ambos pudessem conciliar trabalho e filhos.”

Ela observa que, devido à diferença cultural, os problemas também são diferentes. Em um país mais desenvolvido e com essa mentalidade, as diferenças de gênero são muito menos acentuadas. Por isso, Alexandra chegou ao Brasil com a certeza de que poderia empreender e ser uma líder, mesmo que enfrentasse preconceitos. 

Mesmo com a maioria dos seus chefes sendo homens, Soledad Almeida, Gerente Geral da AH&N (Applied Health & Nutrition) Latam da Kerry, conta que eles foram seus maiores aliados. “Isso é fundamental para a evolução e desenvolvimento da carreira”, afirmou.

Atualmente, como gestora de outras mulheres, Soledad assegura que há muitos programas dentro das empresas para capacitar mulheres para a liderança, e que é crucial aproveitar essas oportunidades. “As empresas valorizam as colaboradoras que demonstram interesse nos programas de desenvolvimento”, concluiu.

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História que transformam

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A vida de uma mulher é marcada por constantes desafios, como pudemos perceber em todos esses relatos. No entanto, nenhuma história evidenciou tanto a força feminina quanto a de Kátia Regina, Diretora de Total Rewards da Nestlé.

Kátia começou sua carreira na Nestlé há mais de 20 anos, ingressando como estagiária e galgando cada degrau da empresa até alcançar uma posição de diretoria. No entanto, um episódio da sua vida pessoal mudou completamente o rumo da sua história. 

Em 2022, ela foi vítima de um brutal ataque de seu então marido, que a deixou paraplégica. Apesar do trauma físico e emocional, Katia encontrou forças para iniciar o caminho da recuperação. Ela destacou a importância de não carregar o peso do ódio e da vingança, optando por perdoar para poder seguir em frente e focar em sua recuperação. Também mencionou o impacto positivo de manter uma atitude mental positiva e como isso contribuiu para sua recuperação física.

“Eu dei sorte de trabalhar em uma empresa que, além de ter um bom plano de saúde, ainda me apoiou em tudo que eu precisei, desde o momento da denúncia até a recuperação”, contou. 

Katia encerrou sua palestra com uma mensagem poderosa sobre resiliência e a importância de manter a esperança. Ainda deixou uma reflexão: “Desde que eu nasci, me dedico a fazer o meu melhor e não me preocupar com o que os outros vão pensar. Sou mulher, negra, assexuada e agora PCD, quando completar 50 anos, vou gabaritar todas as minorias; e isso nunca me impediu de chegar onde cheguei”, finalizou.

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Serviço: Food ingredients South America 2024

Data: de 6 a 8 de agosto de 2024.
Local: São Paulo Expo (Rodovia dos Imigrantes, 1,5 km – Vila Água Funda, São Paulo – SP, 04329-900)
Horário: 13h às 20h
Ingressos: www.fi-events.com.br/pt/credenciamento.html