Descubra as principais tendências do mercado plant-based para 2024 e como estão transformando a indústria alimentícia. Desenvolvimento de matéria-prima nacional está entre os maiores desafios.
O setor de produtos plant-based no Brasil está prestes a superar a marca de R$ 1 bilhão em vendas no varejo - é o que aponta um levantamento da plataforma Euromonitor, divulgado pelo The Good Food Institute Brasil.
Só em 2022, o mercado teve um faturamento de R$ 821 milhões, cerca de 42% a mais que em 2021. Globalmente, o crescimento foi de 6%, atingindo o patamar de US$ 6,1 bilhões.
O comércio de bebidas a base de plantas, uma alternativa ao leite, também está em alta, tendo alcançado o faturamento de R$ 612 milhões no Brasil e US$ 19,1 bilhões globalmente em 2022.
Os dados da pesquisa demonstram o crescimento do mercado plant-based, que é impulsionado pela mudança no comportamento dos consumidores na última década.
A expansão do setor é devido não apenas ao aumento de vegetarianos e veganos, mas principalmente aos flexitarianos, que buscam produtos que tenham sabor, textura e aparência de carnes e laticínios. Essa semelhança tem sido um grande desafio para a indústria alimentícia.
A pesquisa “O consumidor brasileiro e o mercado plant-based”, do GFI Brasil, aponta que 67% dos brasileiros dizem ter diminuído seu consumo de carne em 2022, um aumento de 17 pontos percentuais em relação aos dados de 2020. Destes, 52% afirmam ter tomado essa decisão por vontade própria.
“O que a gente percebe (nas pesquisas) é uma redução no número de consumidores de carne no Brasil. Para se ter uma ideia, em 2019, 29% dos consumidores disseram que reduziram o consumo de carne; já em 2020, esse número subiu para 50%. Em 2022, na última pesquisa realizada, esse número tinha disparado para 67%”, diz Cristiana Ambiel, gerente de Ciência e Tecnologia do The Good Food Institute, em entrevista ao Food Connection.
Os motivos variam: o aumento do preço da carne lidera, com 45% das respostas, seguido pela vontade de melhorar a saúde, com 36%. A preocupação com os animais, com o meio ambiente, alergias, intolerâncias alimentares e motivos religiosos também foram citados pelos consumidores. O resultado é que quatro em cada dez brasileiros dizem consumir alternativas plant-based em substituição dos produtos de origem animal pelo menos três vezes por semana.
Preocupar-se mais com a saúde e com a sustentabilidade ambiental e social é uma característica do Consumidor 4.0. Esses ideais e convicções têm cada vez mais influenciado na tomada de decisão dos consumidores, impulsionando o mercado plant-base e trazendo inúmeras oportunidades de crescimento para os estabelecimentos e indústrias food service que decidem “surfar essa onda”.
Tendências para 2024
Confira 6 tendências que o mercado de substitutos à base de plantas traz para 2024.
1. Redução ao invés de eliminação
A pesquisa “O consumidor brasileiro e o mercado plant-based”, do GFI Brasil, aponta que o brasileiro vem buscando consumir carne bovina com menos frequência. O número de pessoas que consomem o produto pelo menos três vezes por semana caiu 6 pontos percentuais entre 2020 e 2022. Ao mesmo tempo, o número de consumidores que consome carne bovina com menos regularidade aumentou.
Esses dados demonstram uma tendência importante: os consumidores estão reduzindo o seu consumo de carne, ao invés de eliminá-lo por completo. Isso vai ao encontro de outro dado apontado pela pesquisa: 28% dos brasileiros se definem como “flexitarianos”, ou seja, pessoas que buscam ativamente reduzir o consumo de produtos de origem animal.
Nesse cenário, as proteínas plant-based aparecem não somente como substitutas no prato do brasileiro, mas também como mais uma opção de alimento para um grupo consumidor que não necessariamente é vegetariano ou vegano, ampliando a fatia de mercado.
“A proteína alternativa não deve ser vista como uma substituição à proteína de origem animal e nem como uma concorrente”, afirma Alysson Soares, especialista sênior em Políticas Públicas do The Good Food Institute Brasil.
2. Desenvolvimento de matérias-primas e ingredientes nacionais
O relatório “Oportunidades e Desafios na Produção de Produtos Feitos de Plantas Análogos aos Produtos Animais”, elaborado pelo GFI, aponta que 84% das empresas que atuam no setor plant-based afirmam que há pouca oferta de ingredientes e matérias-primas nacionais para o setor. Isso gera uma dependência de produtos importados.
Este cenário resulta em produtos mais caros e a consequência é o acesso a menos consumidores.
Atualmente, os produtos plant-based brasileiros são feitos, majoritariamente, à base da proteína de soja ou da proteína de ervilha.
A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) afirma que diversas culturas abundantes no Brasil, como feijão, milho, amendoim, soja, gergelim, girassol, aveia, centeio, cevada, entre outros, poderiam servir de base para produtos substitutos da carne.
Portanto, as indústrias que investirem em pesquisa e desenvolvimento para viabilizar a utilização desses ingredientes para a produção de alimentos plant-based sairão na frente neste próximo ano.
Para Sérgio Pflanzer, professor da Unicamp e pesquisador da área, a redução do custo de produção e a consequente diminuição no preço dos produtos é estratégica para o setor. “O consumidor brasileiro não terá problemas para migrar da carne para o análogo de carne, basta o produto ser mais barato, nutritivo e sensorialmente agradável”, afirma o especialista.
3. Ingredientes que mimetizam o sabor do produto de origem animal
Criar produtos com sabores cada vez mais similares aos dos produtos de origem animal é uma prioridade para 68% das empresas participantes da pesquisa divulgada pelo GFI Brasil.
Isso vai ao encontro da preferência do consumidor: 58% dizem que o sabor e textura da alternativa plant-based ser igual ou melhor ao produto original é um fator importante na hora de realizar a compra.
Além de tendência, esse também é um grande desafio para a indústria. É necessário investir cada vez mais em pesquisa e desenvolvimento, para criar ingredientes capazes de mimetizar o sabor original sem a existência de resíduos, que prejudicam a experiência sensorial.
4. Clean label
A Euromonitor aponta o Brasil como o quarto país no ranking das nações que mais consomem alimentos saudáveis. Esse setor teve uma alta de 25% entre 2009 e 2020 por aqui. Não é à toa que o motivo para reduzir o consumo de carne, para 36% dos brasileiros, é a preocupação com a saúde.
Diante disso, é importante que os produtos plant-based busquem não apenas a substituição da proteína animal, mas também o uso de ingredientes minimamente processados e considerados “saudáveis”, o que pode ser um grande desafio.
O consumidor que busca produtos saudáveis costuma ter receio com alimentos processados ou ultraprocessados, por considerá-los maléficos à saúde (o que nem sempre é verdade).
Atualmente, muitos substitutos de proteína animal possuem composições extremamente complexas, com muitos ingredientes, a fim de mimetizar o sabor e a textura da carne com mais fidelidade. Isso pode assustar o consumidor que busca por produtos clean label.
Portanto, a necessidade de investimento para pesquisa em desenvolvimento se faz presente mais uma vez, neste momento buscando simplificar as formulações e encontrar alternativas cada vez mais naturais capazes de substituir os aditivos utilizados pela indústria.
5. Investimento em comunicação
“Não adianta ter um produto excelente, orgânico e sem transgênicos se isso não é bem comunicado ao público”, explica Camila Lupetti Carvalho, especialista de dados e de engajamento corporativo do GFI, em entrevista à Revista Exame.
Com isso em mente, investir cada vez mais em embalagens, materiais e peças publicitárias capazes de cativar e informar o público a respeito das propriedades e benefícios dos produtos plant-based deve ser uma prioridade importante para as indústrias em 2024.
6. Aumento da escala da produção
Os dados de crescimento do mercado apontam que a demanda pelos produtos plant-based existe e não para de aumentar.
Apesar disso, ainda é difícil encontrar boas alternativas no mercado, especialmente em algumas regiões do país.
Na pesquisa do GFI, 53% dos consumidores disseram não terem encontrado alternativas vegetais nos seis meses anteriores à entrevista. No Nordeste, esse número foi ainda maior: 66%.
Portanto, crescer a produção em escala e investir em soluções logísticas capazes tornar esses produtos acessíveis não só nos grandes centros urbanos também precisa fazer parte dos planos para 2024.
O futuro do plant-based
O mercado de produtos plant-based no Brasil apresenta uma trajetória de crescimento notável. Não faltam ótimas oportunidades de mercado; oportunidades, porém, que também trazem consigo alguns desafios.
As tendências para 2024 destacam nuances importantes desse cenário em constante evolução.
Primeiramente, observa-se uma preferência dos consumidores por reduzir, em vez de eliminar completamente, o consumo de carne, destacando uma oportunidade para as proteínas plant-based como uma opção flexível para diversos perfis alimentares.
Enfrenta-se, também, a necessidade de mais pesquisa e desenvolvimento no setor, a fim de resolver problemas como a dependência de ingredientes importados, que encarece os produtos, a demanda por sabores que mimetizam produtos de origem animal e a busca por produtos "clean label" por parte dos consumidores.
A necessidade de uma comunicação mais eficaz sobre os benefícios dos produtos plant-based e o aumento da escala de produção e a expansão logística também se mostram áreas críticas para garantir a manutenção e o crescimento do setor.
Em síntese, o mercado plant-based no Brasil está em ascensão, impulsionado por mudanças nas preferências dos consumidores e apresenta um cenário promissor para inovações e investimentos nos próximos anos.
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