O setor de P&D de uma empresa é o coração da inovação. Um celeiro onde novas ideias, projetos e planos estratégicos são desenvolvidos para conceber novos produtos, reformulações, oportunidades que se alinhem melhor às necessidades do mercado e às exigências dos consumidores.
Na indústria de ingredientes, o mindset orientado para pesquisa e desenvolvimento culmina no lançamento de novas soluções que contribuem para a inovação da indústria de alimentos e para a obtenção de mais valor do fluxo de ingredientes.
Hoje, a demanda do consumidor por alimentos com claim de saudabilidade, impulsionam o desenvolvimento de ingredientes funcionais, ingredientes alimentícios especiais, ingredientes nutracêuticos e outros que contribuem para os processos de inovação da indústria alimentícia e para a aceleração do lançamento de novas soluções com esse tipo de apelo, por exemplo.
Inovação da indústria de alimentos está atrelada à indústria de ingredientes
Em certa medida, a gênese da inovação dos alimentos está em seus ingredientes. Por isso, o P&D da indústria de ingredientes é tão requerido e cada vez mais central.
Para a indústria de alimentos que, muitas vezes, possui uma estrutura organizacional mais verticalizada e equipes enxutas, inovações demandam grande esforço, investimento e análise de mercado. Nesse contexto, as inovações proporcionadas pelos ingredientes permitem que sejam desenvolvidos e lançados mais rapidamente no mercado novas formulações ou adaptações na composição dos produtos alimentícios.
De fato, conforme dados da PINTEC 2008, 68% das empresas alimentícias consultadas reconheceram o papel influente de seus fornecedores como fonte para as inovações em produtos desenvolvidas.
Um dos motivos para isso é que, muitas vezes, a indústria de alimentos não possui um setor de P&D bem-estruturado. Em muitos casos, essas atividades são realizadas por setores correlatos, como o de Qualidade, por exemplo.
Benefícios da colaboração entre indústria de ingredientes e de alimentos
Estudos reconhecem que a colaboração fornecedor-cliente no desenvolvimento de novos produtos exerce um impacto positivo na qualidade do produto final, no custo e na velocidade para início de sua comercialização.
Nesse contexto, uma colaboração mais próxima entre os atores da cadeia de alimentos não só facilita a inovação como também ajuda a diminuir o tempo de resposta e a encontrar soluções para problemas comuns do setor - como reduzir custos e desperdícios, elevar o shelf life do produto, etc.
Cristina Leonhardt, diretora de Inovação e Marketing da Tacta Food School, ressalta que "quando a indústria de produtos acabados se aproxima não só da área comercial da indústria de ingredientes como também do P&D, os dois P&Ds conseguem colaborar mais profundamente. Essa aproximação é muito benéfica para a indústria de produtos acabados e para o varejo porque são duas áreas que conversam e falam uma linguagem técnica e se entendem bem. Acho salutar que as áreas de pesquisa e desenvolvimento das indústrias de ingredientes possam ter contato com seus clientes - as empresas de produto acabado".
Por isso, quando o P&D da indústria de ingredientes atua em parceria com a indústria de alimentos, ele consegue compreender melhor suas dores e necessidades para ajudar na prototipagem e personalização de produtos que atendam tanto as demandas da empresa quanto de seu consumidor. Com isso, é possível agir mais proativamente para que os lançamentos e reformulações sejam ágeis e bem-sucedidos.
Por exemplo, se a indústria de alimentos está reformulando um molho ou sopa cremosa e quer encontrar maneiras de reduzir o uso de creme de leite ou gorduras em sua composição, ela terá o desafio de encontrar os ingredientes certos para manter a textura e perfis de sabor originais. Com uma parceria com o P&D da indústria de ingredientes, poderá ser feita uma cocriação para se encontrar as proporções adequadas, opções de formulação ideais, requisitos de cisalhamento, temperaturas ideais, etc.
Ainda, sob a luz das demandas trazidas e aceleradas pela pandemia de COVID-19, esse tipo de atuação conjunta deverá se mostrar ainda mais benéfica e estratégica. Novos requisitos de segurança do alimento, de formulações clean label e de alegações de saudabilidade, por exemplo, estão na pauta do consumidor nesse "novo normal". E, para que ele encontre rapidamente nas gôndolas dos supermercados esse tipo de produto, será necessário maior nível de flexibilidade e inovação para a indústria de alimentos.
Em consonância, uma pesquisa internacional com empresas de alimentos, realizada durante um evento recente do F&A Next, verificou que 72% dos participantes indicaram que a COVID-19 havia aumentado o senso de urgência para inovação em suas empresas. E, para atender a essa demanda, o P&D da indústria de ingredientes será um parceiro essencial para a indústria de alimentos.
Contribuições do P&D da indústria de ingredientes para acelerar o desenvolvimento de produtos alimentícios
Testes de bancada, plantas-piloto e testes industriais. Todos esses procedimentos são a base para o desenvolvimento de produtos seguros e que tenham a qualidade esperada pelas empresas, pelos órgãos regulatórios e pelo mercado consumidor. É na análise da planta-piloto que a equipe de P&D poderá analisar a viabilidade do projeto em todas as etapas.
No entanto, conforme afirma Cristina Leonhardt, "a indústria de produto acabado, de varejo, tem uma menor capacidade de testes em relação à indústria de ingredientes. Isso porque suas equipes de P&D geralmente são menores e também porque a indústria de varejo tem menos acesso a plantas-piloto, que são laboratórios importantes para que se consiga dar velocidade aos projetos de P&D. Muitas vezes, isso faz com que a indústria de ingredientes se frustre, porque ela lança produtos novos e que acabam não gerando o volume de negócios esperado - não porque não sejam boas soluções, mas porque lá na indústria de varejo há uma limitação. Por vezes, nessas indústrias, as equipes de P&D são compostas por uma, duas, três pessoas, que precisam tocar 20, 30, 40 projetos ao mesmo tempo".
A especialista complementa destacando que existe um desafio para a indústria de varejo para que ela consiga dar velocidade a seus projetos. "De modo geral, essa indústria tem acesso apenas a uma bancada, que é o laboratório mais simples que há, não tendo acesso a uma planta-piloto. Conforme uma pesquisa recente que fizemos, apenas 42% dos participantes têm acesso a uma planta-piloto, enquanto 67% dos P&Ds da indústria de ingredientes participantes têm esse acesso. Isso faz com que os testes a serem realizados pelas equipes de P&D sejam primordialmente de produção, que são testes muito grandes e caros".
Diante desse cenário, a contribuição do P&D da indústria de ingredientes para os processos de inovação da indústria de alimentos, para redução dos riscos, agilização de lançamentos e desenvolvimento de produtos alinhados às novas demandas do consumidor pode ser fator-chave para o sucesso de ambos os negócios.
"Para a indústria de ingredientes, há o desafio de ajudar a indústria de varejo a acelerar seus projetos, trazendo soluções para testes, mais robustas, mais finalizadas, trabalhando mais em cocriação e parceria, para encontrar formas de fazer com que seu cliente seja mais capaz de testar, considerando que as equipes são bem enxutas", ela finaliza.