O design higiênico é “uma forma de projetar que facilita a aplicação de práticas que mantêm as melhores condições sanitárias na indústria”, e está redefinindo os padrões de produção alimentícia. A definição é da especialista em segurança de alimentos da Intralox Brasil, Sabrina Ferretti.

Com 25 anos de experiência, sendo 21 no chão de fábrica e os últimos quatro como consultora, Sabrina participou da Arena Fispal Tecnologia 2025 e levou aos participantes uma perspectiva sobre a transição da conformidade para a eficiência operacional.

Este conceito vai além da simples limpeza, englobando cinco princípios fundamentais: materiais compatíveis resistentes tanto ao produto processado quanto aos químicos de limpeza; acessibilidade para inspeção, manutenção e limpeza; construção que evite acúmulo de produto ou líquido; áreas ocas hermeticamente fechadas; e ausência de nichos onde possam formar biofilmes.

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Desafios da indústria alimentícia

Sabrina apresentou dados alarmantes sobre a realidade atual da indústria alimentícia. Quanto à força de trabalho, o turnover médio no Brasil, em 2024, foi de 51%, com 60% das empresas relatando dificuldade em contratar mão de obra qualificada. Além disso, 45,1% da população, em 2022, tinha mais de 40 anos, e 27% da mão de obra mundial já é da geração Z, com turnover de 40% e permanência média de apenas nove meses nas empresas.

As mudanças no perfil do consumidor também são significativas: 78% pagariam mais por produtos com ingredientes reconhecíveis, 30% afirmam ler rótulos com atenção, e 58% acreditam que aditivos fazem mal à saúde. Um único recall por suspeita da bactéria listeria chegou a gerar 1 milhão de menções em uma rede social, demonstrando o impacto das crises de segurança alimentar.

O contexto climático traz desafios adicionais: 263 espécies de mariposas e borboletas começaram a formar uma geração adicional por verão desde 1980, aumentando o desafio de controle de pragas. “O aumento de temperatura favorece a transferência horizontal de genes de resistência, promovendo patógenos mais fortes. Até 2030, a demanda por água superará a oferta em 40%, e o fluxo de rios importantes no Brasil cairá entre 38% e 57%, afetando a geração de energia renovável”, destacou.

Sabrina apresentou ainda estatísticas preocupantes sobre perdas operacionais. “Em 2022, 11% do faturamento das empresas listadas na Fortune Global 500 foi perdido em função de paradas não planejadas, representando mais de 3,3 milhões de horas de produção paradas. Dessas paradas, 42% foram devido a problemas com equipamentos, 19% a fatores humanos e 13% a manutenção não planejada. O descarte de alimentos na indústria já supera US$ 100 bilhões por ano, correspondendo a cerca de 10% das emissões globais de gases do efeito estufa.”

Um dado particularmente relevante para o contexto nacional é que a idade média dos equipamentos no Brasil é de 15,5 anos, enquanto nos Estados Unidos é de 10,5 anos e na Alemanha apenas cinco anos. “Isso significa que muitas indústrias brasileiras operam com equipamentos que não foram projetados considerando princípios modernos de design higiênico”, comentou a especialista da Intralox.

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Design higiênico como prioridade estratégica

Sabrina destacou os motivos do design higiênico ser prioridade estratégica:

  • Produto mais seguro: equipamentos mais fáceis de limpar reduzem erros na higienização, diminuem riscos e resultam em produtos mais seguros.
  • Processo mais eficiente: menos erros levam a melhor uso do tempo, redução de controles e otimização de recursos, culminando no cumprimento dos cronogramas de manutenção preventiva, redução de paradas não programadas e, consequentemente, menos horas extras e custos.
  • Cultura fortalecida: processos mais simples geram mais acertos, proporcionando feedbacks positivos à operação e resultando em times mais motivados, com menor turnover e maior capacitação.

Um conceito fundamental apresentado foi o do “custo total de propriedade”, comparado a um iceberg. A parte visível representa o investimento inicial até a entrega do equipamento, enquanto a parte submersa (muito maior) inclui todos os custos operacionais ao longo da vida útil: mão de obra, manutenção, paradas, limpezas, controles, reprocessos, multas, atrasos, perdas, descartes, retrofites, água, químicos, peças, lubrificação, turnover e treinamentos.

“Design higiênico não é sobre limpeza, é sobre inteligência operacional”, disse Sabrina. Trata-se de um pilar estratégico ainda ignorado, mas fundamental para o presente e futuro da indústria de alimentos.

“Ao investir em design higiênico, as empresas não apenas melhoram a eficiência operacional e facilitam a limpeza, mas também previnem contaminações, atendem normas e certificações, evitam crises, reduzem paradas de máquina, aumentam a vida útil dos equipamentos e promovem segurança e sustentabilidade”, finalizou.

Para os decisores da indústria alimentícia, a mensagem é clara: olhar além do investimento inicial e considerar o impacto do design higiênico no custo total de propriedade pode ser a chave para uma operação mais eficiente, segura e lucrativa.