Desenvolver embalagens para produtos infantis está cada vez mais desafiador. Parte da complexidade vem de leis, regras e decretos, como o de número 8.552, de novembro de 2015, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que trata a comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e de produtos de puericulturas correlatos. O documento prevê banir no prazo de um ano “fotos, desenhos ou representações não necessárias para ilustrar métodos de preparação ou de uso do produto” de embalagens de fórmulas infantis, leites fluidos ou em pó, leites modificados e similares de origem vegetal. Além de expressões como “baby”, “kids”, “ideal para o bebê” e “primeiro crescimento”.
Tal decisão segue uma tendência global para o mercado de alimentos, em que há maior legislação - ainda que “limitante” - e busca por mais informação nutricional, junto ao esforço para melhorar a percepção do público em relação ao produto. É que o afirma a professora de marketing e comportamento do consumidor da ESPM-Sul (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Liliane Antunes Rohde.
O decreto não é radical como o de alguns países europeus que baniram completamente imagens de seus rótulos, mas lança um desafio em que é necessário cada vez mais cuidado para seguir a legislação, com pouco espaço para fabricantes ousarem em suas estratégias de marketing. As marcas que talvez mais sofram serão as que possuem produtos licenciados, com itens relacionados a personagens infantis.
Nos países nórdicos, as embalagens para leite são todas brancas, sem identificação de marca, constando apenas informações nutricionais
Porém, na opinião de Liliane, é hora de debater a influência das embalagens e como trabalhá-las, pois há uma negociação acontecendo em supermercados, por exemplo, entre pais e filhos quanto à compra de produtos específicos, em que geralmente os pais perdem e compram o que as crianças querem.
Entretanto, essa presença infantil no momento da compra acontece já que, atualmente, esse público participa cada vez mais da escolha dos produtos destinados a eles, e estão desafiando a indústria a acompanhá-las. Parte dessa análise do coordenador acadêmico de pós-graduação do núcleo de estudos de embalagem da ESPM, Fabio Mestriner, é que as crianças hoje são “muito precoces, têm raciocínio muito superior ao que tinham as gerações em sua idade”.
O desafio das embalagens com todas essas limitações é seguir com sua premissa básica de fazer o produto ser visto, desejado e comprado. Sem isso, o produto fracassa e a empresa que o produz deixa de vender. Como então ajudar a diminuir o embate familiar, seguir as leis e continuar vendendo? Os professores dão algumas sugestões:
- Lembre-se que embalagens para esse público naturalmente devem incorporar o universo lúdico das crianças;
- Estudos brasileiros e europeus mostram que crianças entre três e cinco anos reconhecem cores de embalagens, personagens estampados e marcas. Mesmo sem os personagens, é possível usar tons relativos ao nome do produto;
- Invista em embalagens com novas texturas, para estimular interação tátil;
- Outra solução tátil são os recortes em embalagens vazadas, para que as crianças possam ver e eventualmente tocar os produtos;
- Trabalhar com jogo de cores, deixando a embalagem visualmente atrativa;
- Pensar em embalagens lúdicas, com cores e possibilidade de interação com o produto, reforçam o conceito de que infância é a época certa para brincar;
- Ainda de acordo com Liliane, essas embalagens terão um impacto mais racional no momento da compra, invés do atual impulso emocional;
- Um aspecto a ser trabalhado a longo prazo será a localização desses produtos nos pontos de venda, para que itens pesados ou que ofereçam risco às crianças estejam longe de seus alcance;
- O tamanho de tampas ou a presença de sacos plásticos devem ser considerados, para que crianças muito pequenas não os engulam ou se sufoquem com eles;
- Use materiais e tintas atóxicas;
- Embalagens que são elas mesmas os próprios brinquedos ou as que trazem algo dentro, além daquelas que podem ser recortadas para se transformarem em peças de jogos ou passatempos, são uma solução de mercado;
- Outra tendência crescente é o das embalagens que oferecem acesso a portais de jogos online, por meio de senhas e códigos, ou aquelas em que o brinde vem na embalagem.