As soluções em automação, processos, produtos e demais práticas para o setor de sorvetes apresentadas durante a Fispal Sorvetes foram celebradas por Amadeu Gonçales, vice-presidente da Abrasorvete (Associação Brasileira do Sorvete e Outros Gelados Comestíveis) como estando ao nível das feiras italianas, as mais famosas do mundo.
Gonçales, que é empresário do segmento a décadas, destacou também a troca de conhecimento entre empreendedores, que vem amadurecendo soluções para diversos desafios que surgem à frente das fábricas, sorveterias, gelaterias e demais estabelecimentos que produzem ou vendem sorvetes.
“A Fispal Sorvetes está cada dia mais profissional e, saindo da pandemia, neste ano, a gente sente a movimentação mais forte, com fornecedores satisfeitos, clientes encontrando soluções, novas ideias e novos produtos. Recentemente, estivemos em uma feira na Itália, que tem as mais famosas do mundo, e arrisco dizer que não estamos perdendo em nada”, destacou.
Desafios do setor de sorvetes
Um dos desafios mais duros para a indústria tem sido a substituição de parte da quantidade de açúcar, iniciativa que vem sendo exigida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que regula o setor.
Além disso, iniciativas para aumentar o consumo no país são urgentes, segundo Gonçales, para que o Brasil realize todo o potencial de consumo do produto em seu amplo território, considerando que a média do país é cerca de metade dos principais mercados do mundo.
Futuro do sorvete no Brasil
A associação fechou a meta de aumentar 50% do consumo em dez anos, com a possibilidade de chegar na meta na metade do tempo, segundo o vice-presidente da associação. Para isso, “o principal das ações tem que vir das empresas do setor. É pouco o consumo que ainda temos no Brasil, um país tropical cheio de frutas exóticas”, arremata.
Confira na íntegra a entrevista da Food Connection com o vice-presidente da Abrasorvete, Amadeu Gonçales.
Food Connection: Como o mercado tem se beneficiado da Fispal Sorvetes?
Amadeu Gonçales: A feira está cada dia mais profissional e, saindo da pandemia, neste ano a gente sente a movimentação mais forte, com fornecedores satisfeitos, clientes encontrando soluções, novas ideias e novos produtos. Recentemente, estivemos em uma feira na Itália, que tem as mais famosas do mundo, e arrisco dizer que não estamos perdendo em nada. Na nossa delegação, de mais de 20 pessoas, essa percepção foi unânime.
FC: Quais as principais dificuldades hoje enfrentadas pelo segmento de sorvetes, e as soluções em discussão para superá-los?
Gonçales: As principais dificuldades estão em questão de preço, redução de custo mantendo qualidade, além de novas exigências de rotulagem, onde o açúcar virou vilão nacional. É uma batalha de reformulação para que a gente continue enquadrado como um produto saudável.
Na Fispal encontramos novas ideias, novas maneiras de enfrentar o mercado, novos produtos, equipamentos que automatizam a produção. Além disso, esse encontro de sorveteiros serve para entender como o mercado deve reagir para enfrentar esses e outros problemas que vem enfrentando.
Na questão do açúcar, por exemplo, que é comum a todos, conversando, a gente tem achado muita solução em comum. A Anvisa é bastante rígida. Principalmente com relação ao açúcar, que virou vilão, mas estamos no caminho
FC: Com relação ao açúcar, como enfrentar essas novas restrições?
Gonçales: Estamos com uma assessoria na Abrasorvete para ajudar nesse sentido. Além disso, há iniciativas de pesquisa e desenvolvimento (P&D). No caso dos fornecedores, eles também têm atuado no fornecimento de novas matérias-primas e novas formulações. O mercado está se mexendo muito.
FC: E na questão de aumento de mercado, como facilitar o acesso ao consumo?
Gonçales: No segmento de sorvete, a gente encontra diversos preços. Hoje, é difícil qualificar para deixar claro que é mais caro porque é melhor, ou o contrário, mais barato porque a qualidade é inferior.
No leite, já resolvemos esse problema com as definições de leites A, B e C, e está implícito porque um custa mais que outro. Estamos trabalhando nisso. Primeiro estamos apresentando a ideia dentro de casa antes de levar às autoridades. Existe alguma resistência interna ainda, o que é normal, mas as etapas serão cumpridas.
FC: Como debatem uma retomada no consumo?
Gonçales: Lançamos a campanha “Cinquenta por cento em 10 anos”. O nosso objetivo é aumentar em 50% o consumo em 10 anos. Eu sou muito mais otimista e digo que a gente vai fazer em 5 anos.
FC: Como chegar a isso? Vai depender de iniciativas governamentais?
Gonçales: Com certeza, o apoio governamental é importante para isso, mas, se não causar problema, já é importante. Porém, o principal das ações tem que vir das empresas do setor. É pouco o consumo que ainda temos no Brasil, um país tropical cheio de frutas exóticas. A gente consome de cinco a seis litros per capta por ano. Em um país onde o frio é rigoroso, esse consumo é de 12 a 15 litros per capita por ano.
FC: O que explica o baixo consumo?
Gonçales: Cultura e renda, mas é mais cultural porque, anos atrás, a gente era criado acreditando que, quando havia alguma dor de garganta, você não deveria tomar sorvete, mas a realidade vai no sentido oposto, é ainda mais saudável tomar sorvete no frio.
FC: Diante do aumento da demanda por produtos mais saudáveis, como a indústria de sorvetes está se comportando?
Gonçales: Nós estamos com essa reformulação de rotulagem e busca de novos valores. O sorvete é um alimento cuja composição é 75% leite. Então, é um produto saudável, e estamos muito mais próximos de um iogurte, que é saudável, do que de qualquer outra coisa. Por isso temos que bater nesta tecla: sorvete é alimento.