Durante minha jornada na área de compras corporativas em grandes organizações, identifiquei um ponto crítico que se repetia com frequência: a ideia equivocada de que, por estar pagando por um serviço, o contratante sempre deve ter a palavra final sobre todas as decisões técnicas.

Essa percepção é particularmente prejudicial quando falamos da contratação de serviços criativos, como marketing, branding, design gráfico, publicidade e comunicação. Nessas áreas, a tentativa de impor controle absoluto por parte de quem contrata pode anular exatamente aquilo que se espera do trabalho: criatividade, originalidade e impacto.

Esse entendimento, que já vinha sendo moldado ao longo da minha trajetória como executivo, tornou-se ainda mais evidente e real quando passei a atuar como empresário, responsável direto pela gestão e tomada de decisões em meu próprio negócio. Ao começar a contratar agências, designers e profissionais criativos, me vi diante de propostas ousadas, que muitas vezes contrariavam minha intuição ou preferência pessoal.

Se a decisão tivesse sido exclusivamente minha, é provável que algumas dessas ideias jamais tivessem sido colocadas em prática. No entanto, ao optar por confiar nos especialistas contratados, profissionais experientes, atualizados e com forte repertório criativo, pude colher resultados acima das expectativas. Campanhas se destacaram, marcas foram fortalecidas e ações se conectaram com o público de forma genuína.

Essa experiência prática reforçou de forma definitiva um conceito que defendo com convicção: contratar um serviço especializado não é transferir uma ordem para execução, mas agregar inteligência ao processo de gestão.

Criatividade não se compra no molde

É comum ver empresas contratando serviços criativos com o discurso de que “querem inovar”, mas que, no fundo, acabam moldando o trabalho aos gostos pessoais da diretoria ou às crenças pré-estabelecidas da empresa. Resultado? Materiais genéricos, sem personalidade, pouco efetivos.

Para que um projeto criativo tenha chance de ser inovador, ele precisa de espaço para respirar. Precisa de liberdade, de escuta ativa e, principalmente, de confiança por parte de quem contrata.

Como costumo dizer: “Não faz sentido contratar alguém que sabe mais do que você sobre determinado assunto só para que ele execute o que você já decidiu previamente.”

Essa maturidade também se aplica, em certa medida, a outros serviços técnicos, como os jurídicos, por exemplo, em que o papel do contratante deve ser ouvir, ponderar e decidir com base na orientação de quem domina aquele campo. Ainda assim, os serviços criativos apresentam uma camada a mais de sensibilidade: o fator subjetivo, emocional e cultural, que não se resolve apenas com lógica ou norma.

Já em outras áreas, o controle técnico faz sentido

É claro que em outras frentes da gestão empresarial, como compras de insumos, peças de reposição, máquinas e equipamentos, esse modelo de decisão centralizada pode funcionar de forma mais eficiente. Isso porque há critérios objetivos, históricos de consumo, padrões técnicos bem definidos. Nesse cenário, a empresa contratante detém maior domínio e clareza sobre o que precisa.

Mas confundir esse tipo de compra com a contratação de um serviço criativo é um erro comum e perigoso.

Ao longo dos anos, compreendi que a excelência na área de compras não está em dominar todos os temas, mas em reconhecer quem deve ter voz em cada tipo de decisão. Saber selecionar parceiros com base em critérios técnicos e estratégicos, estabelecer objetivos claros e dar liberdade para que façam o seu melhor, essa é a essência de um processo de compras verdadeiramente eficaz.

Essa abordagem está alinhada ao que defendem diversos autores da área de gestão e inovação. Segundo Christensen, muitas empresas deixam de evoluir por ignorarem contribuições externas que desafiam o status quo. Já David Ogilvy, referência na publicidade, alertava para o risco de decisões criativas moldadas apenas pelo “achismo” do cliente, resultando em campanhas fracas e burocráticas.

Confiança como diferencial competitivo

Hoje, posso afirmar com segurança que os melhores resultados que alcancei como empresário vieram justamente de decisões que eu, sozinho, não teria tomado. Foram frutos de parcerias sólidas, de escuta ativa e da abertura para confiar em profissionais talentosos.

Contratar bem não é apenas negociar preço e prazo. É reconhecer o valor da especialização alheia e ter a maturidade de não precisar dar a última palavra em tudo. Em um mercado cada vez mais competitivo, essa postura se torna um diferencial estratégico.

Se o seu objetivo é se destacar, construir uma marca forte e gerar conexões verdadeiras com o público, não contrate criatividade apenas para controlar, contrate para evoluir.