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Rastreabilidade de bovinos: qual o custo de cada boi abatido no Brasil?

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Toda a cadeia produtiva é beneficiada com um sistema de rastreabilidade individual do gado, que garante a procedência ao cliente, amplia a renda do produtor, e assegura ao frigorífico novos mercados.

A rastreabilidade de bovinos no Brasil é realizada sobre o rebanho. Ou seja, não se contempla a individualidade completa dos animais no seu sistema de identificação. Para transporte dos animais entre propriedades, leilões, frigoríficos ou outros fins, é necessária a emissão de uma Guia de Trânsito Animal (GTA) com informações da propriedade de origem e das condições sanitárias do lote de animais que estão sendo transportados. 

No entanto, esse documento apresenta apenas uma informação coletiva da movimentação dos animais e somente a guia de trânsito animal, portada pelo último produtor, chegará ao frigorífico, de fato, para a recepção do lote no estabelecimento. Ou seja, as GTAs que detalham a movimentação do gado anteriormente à última propriedade rural (fornecedor direto aos frigoríficos) não estarão sob o domínio ou conhecimento da indústria frigorífica que recepciona os animais. As fazendas em que o animal transita anteriormente à propriedade do fornecedor direto são, portanto, propriedades que fornecem indiretamente ao frigorífico.

Desta forma, se faz necessário que as GTAs de todo o trânsito animal estejam disponíveis para o livre acesso da indústria frigorífica, pois apenas assim o estabelecimento conseguirá realizar uma rastreabilidade completa, alcançando os seus fornecedores indiretos e garantindo realmente a regularidade da propriedade de origem dos animais.

Um relatório público de teste sobre a ferramenta VISIPEC , que tem a proposta de  efetuar a  rastreabilidade e monitoramento complementar aos sistemas utilizados pelos frigoríficos brasileiros, feito por um grupo frigorífico na região da Amazônia Legal, aponta que a taxa de fornecedores indiretos encontrada para cada fornecedor direto de um dos frigoríficos do grupo obteve o valor de até 5,9. O que significa que para cada fornecedor direto daquele frigorífico, houve aproximadamente seis fornecedores indiretos. Indicando, assim, que antes de ser vendido ao frigorífico, o gado pode ter passado por até seis propriedades.

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Identificação individual de bovinos para uma completa rastreabilidade

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com o objetivo de controlar a origem individual de animais, estabeleceu o Sistema de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos (SISBOV). Trata-se de um procedimento oficial, de adesão voluntária pelos produtores rurais e que monitora o animal desde o início do seu ciclo de vida, a fim de garantir informações da propriedade de origem daquele animal. As propriedades que optarem por esse registro precisam cumprir uma série de requisitos e a identificação do animal será com a numeração única de 15 dígitos do SISBOV, fixada em um brinco que seguirá com o animal mesmo em caso de venda do mesmo.

Os custos da identificação individual de bovinos para uma completa rastreabilidade ainda são questionados. Os valores podem divergir de acordo com o tipo de identificação empregada e tipo de rastreabilidade que se deseja desenvolver. Basicamente, o processo de implementação da rastreabilidade individual pressupõe que seja feita a identificação de cada animal, realize-se  o registro em um sistema de informações e, ao fim, seja feita a gestão do manejo a partir de mão de obra qualificada. Cabe ao produtor definir sobre qual maneira e que tipo de tecnologia irá investir para a rastreabilidade do seu rebanho.

Os custos para os materiais e serviços – como a qualificação e manutenção de mão de obra para a gestão da rastreabilidade individual dos animais na propriedade - podem variar levando em consideração diversos fatores. No geral, extraindo informações de consultores do setor, a rastreabilidade dos animais pode chegar, em média, ao valor de 6 a 20 reais ou mais por cabeça. Quanto mais robusto o sistema de gestão de rastreabilidade que o produtor deseja empregar na propriedade, mais custos irá reunir para a manutenção dos serviços que envolvem esse sistema: mão de obra especializada, softwares específicos, ferramentas e ampla tecnologia.

No entanto, um produtor com maior número de animais consegue diluir o valor dos serviços contratados sobre o total do seu rebanho em uma fração muito mais vantajosa do que o pequeno produtor rural, que possui um quantitativo de rebanho bem menor. Sendo assim, quanto maior o rebanho do produtor, mais lucrativo é para ele a contratação de serviços mais tecnológicos, enquanto que para o pequeno produtor o valor empregado sobre cada cabeça ainda pode ser oneroso.

Neste aspecto, é importante que o governo contribua com uma dinâmica de apoio para inserir o pequeno produtor rural no caminho para a adesão à rastreabilidade dos seus bovinos. Tornando os custos da implementação compatíveis com a sua realidade de renda, oferecendo apoio financeiro e suporte técnico para equilibrar os gastos que o produtor teria para a implementação no seu primeiro ano. 

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Quando a identificação individual de bovinos é obrigatória?

O Uruguai é um caso eficiente da interação entre o governo, indústria e produtores para promover a rastreabilidade completa dos animais. Desde 2006 o país tornou a rastreabilidade individual dos animais obrigatória e se transformou em um exemplo a se observar como referência para a implementação da rastreabilidade total. O governo uruguaio demonstrou como uma política de estado com apoio sólido ao produtor se desenvolveu para um processo de ganho amplo para a população, pois o trabalho coordenado entre governo, produtores, técnicos e indústrias do setor permitiu que a rastreabilidade se tornasse uma ferramenta para assegurar compradores. 

Já no Brasil, exceto para os animais destinados a produtos que serão comercializados para a União Europeia, a rastreabilidade individual dos animais não é obrigatória e o que o produtor deve observar para decidir qual método de rastreabilidade implementar deve ser o nível de gestão que ele está disposto a aplicar sobre o seu rebanho, considerando os possíveis ganhos advindos do tipo que ele optaria por utilizar, tais como: conquista de novos mercados, gerenciamento da fazenda observando o ganho de peso dos animais individualmente e rastreamento da carga (animais) ao longo do perímetro da propriedade, por exemplo.

Ao final, toda a cadeia produtiva é beneficiada com um sistema de rastreabilidade individual do gado, pois o cliente tem a garantia da procedência dos animais, os produtores ampliam a sua renda com melhor gerenciamento do rebanho, além de possíveis bonificações e incentivos sobre o gado rastreado. Os frigoríficos asseguram novos mercados e supermercados agregam valor aos cortes com produtos especiais e com garantia de origem. 

Lembrando que a origem de produtos vendidos em qualquer região do país pode estar relacionada à Amazônia, a exemplo disso podemos observar dados públicos do MAPA sobre o abate no Brasil em 2019, em que há registros de animais de procedência de estados da Amazônia Legal (Mato Grosso, Maranhão, Pará e Tocantins) para o abate em São Paulo.

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É importante que o consumidor, em qualquer região do país, cobre o compromisso das empresas frigoríficas e supermercados em fortalecer as suas políticas socioambientais para exigirem rigorosos critérios sobre os seus fornecedores de bovinos (diretos e indiretos), de modo que possam garantir que o gado que seguiu para a indústria não é oriundo de fazendas envolvidas com o desmatamento ilegal na Amazônia.

Uma ferramenta que demonstra quais são as empresas que estão comprometidas em zerar o desmatamento é o Radar Verde, um indicador que visa mostrar para os consumidores quais frigoríficos e supermercados têm maior controle e transparência sobre sua cadeia da carne. Com o índice, o consumidor final poderá avaliar se a carne comprada nos estabelecimentos avaliados na pesquisa contribuiu ou não com o desmatamento na Amazônia durante seu ciclo de produção.       

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Sites consultados

Autoras

Camila Trigueiro de Lima

Formada em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal do Maranhão. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Arthur Thomas, possui aperfeiçoamento em Gestão pela Ohio University e Greenbelt Lean Six Sigma. Trabalhou na gestão de controle de qualidade em indústrias multinacionais de bebidas e alimentos(frigoríficos). Foi professora de nível superior nos cursos de engenharia, premiada na modalidade STEM no grupo Wyden para realização de projeto sobre smart cities em Berlim, Alemanha. Atualmente é Analista de Pesquisa do Radar Verde e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Rita Pereira

Pesquisadora Adjunta e Diretora Executiva no Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), com pós-doutorado em Ciências Ambientais no Laboratório de Uso da Terra e Meio-Ambiente do Instituto Nelson de Estudos Ambientais, da Universidade de Wisconsin-Madison. Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal da Bahia (2001), mestrado em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (2003) e doutorado em Geografia - Michigan State University (2012). Atua na Amazônia desde 2002. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia dos Recursos Naturais, atuando principalmente nos temas da pecuária, reforma agrária e desenvolvimento econômico.

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