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Indicações, mercado e regulamentação de probióticos

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ABIAD apresenta entrevista com Carolina Zago, coordenadora do GT de Probióticos da entidade e gerente de Assuntos Regulatórios Latam da IFF. Confira!

Na coluna inaugural da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) para o Food Connection, a entidade traz uma entrevista com Carolina Zago.

A profissional é coordenadora do GT de Probióticos da ABIAD e gerente de Assuntos Regulatórios para a América Latina da IFF. O tema da conversa foi sobre as indicações, oportunidades de mercado e regulamentação dos probióticos. 

Vamos conferir? Continue lendo abaixo para saber mais sobre este importante tema!

Como podemos definir probióticos?

Carolina Zago: Probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro Essa é uma definição consensada por um painel de especialistas em 2014, alinhada com a proposta pela OMS e muito similar a adotada no Brasil pela Anvisa.

Qual é a história da origem da utilização de probióticos na alimentação?

CZ: É uma história antiga e bem interessante. No início do século 20 um cientista russo chamado Elie Metchnikoff pesquisou a influência de bactérias provenientes de leites fermentados no bem-estar das pessoas. 

A partir daí começaram a surgir evidências científicas demonstrando a importância do consumo de bactérias na manutenção da saúde intestinal e, consequentemente, na melhora da qualidade de vida das pessoas. 

A percepção dos benefícios vindos do consumo de probióticos despertou o interesse de pesquisadores e da população e isso contribuiu para que surgissem o que hoje conhecemos como alimentos funcionais.

De onde se originam os probióticos?

CZ: A maioria dos probióticos disponíveis hoje se originam do próprio trato intestinal humano. Há também microrganismos isolados de alimentos. Sendo assim, não são bactérias estranhas a nós.

Resumidamente, como é o funcionamento geral dos probióticos?

CZ: Nosso corpo possui várias microbiotas, que são basicamente um conjunto de microrganismos que habitam uma determinada região dele. Na nossa microbiota intestinal, por exemplo, temos aproximadamente o mesmo número de bactérias que as células em nosso corpo. Nas microbiotas existem bactérias “do bem” que convivem em harmonia com bactérias oportunistas e patogênicas. Enquanto há um equilíbrio entre elas, está tudo bem. O problema à saúde surge quando ocorre o desequilíbrio nesse ambiente e isso pode surgir por diversos fatores.

Por exemplo: uma pessoa que precisa consumir um antibiótico, pode desenvolver uma diarreia associada a esse consumo. A diarreia surge porque o antibiótico atacou também as bactérias “do bem” que vivem no intestino. Além de antibióticos, o consumo de álcool, determinadas dietas, viagens e o stress também são fatores que podem desequilibrar a microbiota e causar desconfortos. Nessas situações em que ocorre esse desequilíbrio, os probióticos contribuem para o restabelecimento do equilíbrio. Portanto, a manutenção de uma microbiota saudável é fundamental para o bem-estar.

Então, os probióticos são importantes para a saúde intestinal?

CZ: Sim, e os benefícios provenientes de uma microbiota intestinal saudável incluem ganhos, por exemplo, na saúde imunológica e cognitiva.  Estudos mostram que 70% das células do sistema imunológico estão associadas ao nosso trato gastrointestinal. Por isso, além dos benefícios para o sistema digestivo, os probióticos também oferecem benefícios para a saúde imunológica.

E quais as contraindicações para seu consumo?

CZ: Pessoas saudáveis podem consumir probióticos sem contraindicações. Esse consumo poderá contribuir para a redução do risco de diversas doenças caso essas pessoas sejam expostas a determinados fatores de risco.

Comercialmente, quais são as formas de apresentação dos probióticos?

CZ: Podem ser apresentados de forma isolada ou combinados a outros ingredientes em suplementos alimentares ou adicionados a alimentos convencionais, como iogurtes. Os fabricantes devem garantir que os probióticos permanecerão vivos na concentração mínima requerida até o final do shelf life dos produtos.

Existem também probióticos na categoria de medicamentos, recomendados para o tratamento de doenças, o que é um propósito de uso distinto do esperado para um suplemento ou alimento funcional.

Como o uso desses ingredientes é apresentado nos rótulos dos alimentos?

CZ: No Brasil o nome dos microrganismos deve fazer parte da lista de ingredientes e a declaração do benefício associado ao consumo é obrigatória, assim como a porção de consumo necessária para que o benefício seja atingido.  Essa alegação de propriedade funcional deve ser previamente aprovada pela ANVISA.

Como tem se apresentado esse mercado?

CZ: É um mercado que vem crescendo bastante, onde as indústrias investem em estudos clínicos e descobertas de novas bactérias de interesse comercial.  Há benefícios conferidos por probióticos que são particulares de determinadas bactérias, o que torna o desenvolvimento e a aprovação de um produto um diferencial.

Ainda temos um trabalho grande a fazer com o consumidor final. Embora médicos e nutricionistas conhecedores de probióticos os indiquem, não há uma busca espontânea representativa pelo consumidor. Algumas campanhas feitas por empresas no passado aumentaram o conhecimento, especialmente dos benefícios na área digestiva, porém, há uma lacuna que identificamos como uma oportunidade na ABIAD, onde criamos um grupo específico para trabalhar a conscientização dos consumidores através de um plano de comunicação de probióticos.
 

Quando comparado a outros mercados, como é o brasileiro?

CZ: O mercado brasileiro, embora crescente, ainda é pequeno quando comparado a outros. No Brasil temos uma questão regulatória muito forte. Não podemos comercializar produtos com probióticos sem aprovação prévia da Anvisa, que por sua vez, traz uma regulamentação rígida com critérios que não são fáceis de serem cumpridos. 

 

Na Europa, não há alegações de benefícios aprovados, mas, por outro lado, é possível encontrar produtos com probióticos no mercado sem a obrigatoriedade de comunicação dos benefícios.  Nos EUA também existem produtos disponíveis aos consumidores sem a necessidade de aprovação prévia por parte do FDA. Isso faz com que os consumidores dessas regiões tenham acesso a uma diversidade maior de produtos, porém é importante que os consumidores tenham conhecimento dos estudos científicos que embasam os benefícios associados aos produtos que consomem.

Qual a principal dificuldade desse mercado atualmente? 

CZ: Não existe uma regulamentação harmonizada entre os países e o rigor criado por agências reguladoras em alguns casos inviabiliza a comercialização de produtos e consequentemente o acesso aos consumidores. Também vejo como um desafio a linguagem a ser utilizada para comunicar esses benefícios sem que essa comunicação seja enganosa.

As empresas que investem em estudos que comprovam os benefícios do microrganismo deveriam poder comunicar esse benefício não só como resultado do investimento, mas também para informar os consumidores sobre o que esperar do consumo de cada probiótico.

Por isso é fundamental a manutenção do diálogo entre o setor produtivo e as agências reguladoras de modo que as regulamentações criadas sejam justas e proporcionais ao que os probióticos representam para a saúde dos consumidores no universo dos suplementos alimentares. 

Considero importante a adoção de critérios bem estabelecidos para a aprovação dos produtos, porém, tendo em vista a evolução da ciência e a constante descoberta de inovações relacionadas a essa categoria, as regulamentações devem acompanhar esse movimento e não inviabilizar o acesso de consumidores a produtos que possuem comprovação científica do bem que eles fazem. Esses critérios devem acomodar também os produtos que já estão no mercado há anos (ou até mesmo décadas) e cujos benefícios são percebidos pela população que os consome

TAG: Consumo
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