Que a causa ambiental está em pauta e a redução do uso de plásticos é urgente, isso não é novidade. No setor de Food Service a procura por opções biodegradáveis cresce e se consolida a cada ano, refletindo as demandas mundiais. O uso de embalagens sustentáveis deixou de ser uma tendência para se tornar uma exigência do mercado e dos consumidores. Com o aumento da conscientização ambiental, empresas do ramo têm buscado alternativas que reduzam o impacto ecológico sem comprometer a qualidade da entrega e a experiência do cliente.
Materiais como papel reciclável, bioplásticos, feitos a partir do bagaço de cana-de-açúcar, da fibra de côco, e compostáveis à base de amido vem ganhando espaço por sua capacidade de decomposiçāo rápida, o que evita o acúmulo de resíduos em aterros sanitários e contribui com a economia circular. Além dos benefícios ao planeta, essas soluções fortalecem a imagem das marcas, posicionando-as como agentes de transformação e inovação sustentável. Inclusive, essa tem sido a virada de chave para muitas empresas que não querem suas marcas associadas à colaboração da degradação do planeta.
Segundo Gabriela Amparo, Gerente de Marketing da Paper Cup, investir em embalagens ecológicas é mais do que uma escolha responsável — é um diferencial competitivo. “À medida que o consumidor se torna mais exigente, optar por práticas alinhadas à preservação do planeta se traduz em valor agregado, fidelização e reputação positiva para as marcas” .
A empresa apresentou na Fispal Food Service 2025 copos, pratos, potes para sorvetes, e talheres de papel recicláveis e compostáveis, além de bandejas, como opção de substituição ao isopor nos mercados e hortifrutis. Além disso, o expositor fez uma ação especial para quem visitou o estande, distribuindo mudas de árvores frutíferas em copos compostáveis da marca, que podem ser plantados diretamente ao solo.
Outro expositor que apresentou opções de embalagens sustentáveis na feira foi o Eu Já Fui Mandioca, que tem como base, embalagens feitas a partir da mandioca brava, raiz não comestível. A marca, que participou pela primeira vez da feira e que usa matéria prima cultivada por agricultura familiar, se destaca pela produção de embalagens compostáveis que podem ser utilizadas para sorvetes, saladas e bowls de comidas frias. “A nossa embalagem é biodegradável e compostável, nosso processo de produção é zero resíduo. A gente rouba CO2 e devolve oxigênio pro planeta“, afirma Bruna Morais, Coordenadora Financeira da empresa. Segundo Morais, a estreia da empresa na feira é para dar mais visibilidade ao produto, que se decompõe entre 15 dias e 90 dias, números que têm extremo valor agregado. “Nós temos clientes que aumentam a margem em torno de 30% só de usar a nossa embalagem”, comenta a Coordenadora.
Plástico ainda como opçāo
O plástico talvez seja um dos maiores vilões da sustentabilidade. Conveniente, barato e onipresente — só que praticamente eterno. E isso se tornou um problema para a humanidade, que de tanto produzir o material, acabou saturando o planeta. Dentro da Fispal 2025, muitos estandes de embalagens plásticas ainda são encontrados, porém, uma nova estrela da categoria ganha espaço: o plástico biodegradável.
Diferente do plástico convencional (derivado do petróleo e resistente à decomposição por séculos), os plásticos biodegradáveis são criados para se decompor mais rapidamente, muitas vezes em condições específicas, com impacto ambiental muito menor. Eles podem ser feitos a partir de matérias-primas renováveis (amido de milho, bagaço de cana de açúcar, óleo de coco, entre outros) e até resíduos orgânicos. Alguns desses materiais já estão sendo transformados em embalagens resistentes, flexíveis, seguras para alimentos e visualmente atrativas.
A Prack, em parceria com a Eco Ventures, foi um dos estandes que apresentou soluções em embalagens de plástico biodegradável. Yago Nunes, vendedor técnico do produto, explica um pouco sobre o processo: “nós pegamos derivados do petróleo, como polietileno, polipropileno, poliestireno e transformamos eles em materiais biodegradáveis ao meio-ambiente. E quando esse material entra em contato com as intempéries, que são sol, chuva, umidade, ele faz o processo de biodegradação, resultando no final da sua decomposição em água, CO2 e humos. Não deixando o famoso microplástico no meio-ambiente“. Nunes ainda diz que a soluçāo, além de biodegradável, é também reciclável, podendo ir tanto para o lixo reciclável ou aterro comum, levando entre 10 e 12 anos para se decompor, tempo inferior, ante os 200 a 600 anos que os derivados de petróleo levam.
De acordo com alguns especialistas do setor presentes na feira, adotar embalagens biodegradáveis não é só uma escolha ecológica, é uma estratégia de posicionamento de marcas. Empresas que se alinham com a sustentabilidade conquistam o consumidor da nova geração, que prefere pagar mais e se fidelizar à produtos que respeitam o planeta. Além disso, leis e políticas públicas estão cada vez mais restritivas com plásticos convencionais. Em outras palavras: quem não se adaptar, ficará para trás.
Podemos dizer que esse nicho está em expansão? Sim, os números sāo promissores: o mercado global de bioplásticos deve ultrapassar US$30 bilhões até 2030; marcas conscientes estão migrando para embalagens verdes não só por pressão regulatória, mas também por exigência do consumidor. O Brasil, com sua biodiversidade e indústria agro potente, tem tudo para ser líder mundial nesse setor.
Em termos econômicos, a produção do plástico biodegradável ainda é mais cara que o plástico tradicional, e a logística de descarte (compostagem, reciclagem correta) precisa de infraestrutura. Mas como todo mercado emergente, os obstáculos são também campos férteis para a inovação. Startups, indústrias e centros de pesquisa estão se movimentando para criar soluções escaláveis e acessíveis.
Estudos estimam que o ser humano tem consumido, em média, o equivalente a um cartão de crédito por semana, foi o que um estudo encomendado pela ONG WNF, em 2019, apurou — cerca de 5 gramas de partículas invisíveis, presentes na água, no sal, nos alimentos e até no ar. Sem perceber, a população mundial está colocando plástico no cardápio. É o retrato alarmante da poluição moderna, e mais um sinal de que o ciclo do consumo precisa ser repensado, a começar pelas embalagens.
Tags