As tarifas que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs ao Brasil podem ajudar a derrubar o preço de alguns alimentos no Brasil. Isso porque, sem destino no mercado externo, parte desse volume fica no mercado local, aumentando a oferta e reduzindo os preços.
Assim, sem querer, Trump pode ajudar a aliviar os preços dos alimentos aqui no Brasil. Esse, inclusive, é um dos pontos que vinha derrubando a popularidade do presidente Lula, adversário político do atual presidente dos EUA.
Os preços dos alimentos no Brasil já vinham caindo, como apontou o IBGE. O IPCA-15 de julho mostrou que o grupo Alimentação e bebidas (-0,06%) caiu pelo segundo mês consecutivo. Nesse sentido, a alimentação no domicílio variou -0,40% em julho, contra -0,24% em junho.
Produtos como café, que já estava em queda por conta da retomada da produção, podem ficar mais baratos. Os Estados Unidos estão entre os grandes compradores do café brasileiro. Em julho, o preço do café já havia caído, -0,36%, a primeira queda em um ano e meio, após forte valorização da commodity.
Da mesma maneira, suco de laranja, carne, pescados e frutas podem ter algum alívio sobre seus preços com a concretização das tarifas de Trump, que estão prometidas para dia 1º de agosto, próxima sexta-feira.
“A imposição das tarifas pode aumentar a desaceleração da inflação”. A percepção é de André Sacconato, economista e assessor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
“A dificuldade de exportar determinados produtos — como commodities, alimentos e bebidas — pode gerar um excesso de oferta no mercado interno, pressionando os preços para baixo”, complementou o economista em artigo.
A solução para o agro seria encontrar novos destinos para esses produtos. Mas, a missão não é nada simples dado o volume que os EUA demandam e o fato de que outros mercados já têm fornecedores, alguns mais próximos e com preços mais atrativos.
Impacto sobre proteína animal é bilionário
Contudo, os produtores ainda aguardam medidas do governo brasileiro para derrubar as restrições impostas pelos Estados Unidos. Além da cobrança pela redução da tarifa, há pedidos relacionados a linhas de crédito que busquem reduzir o impacto sobre os produtores.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), os Estados Unidos respondem por quase 70% das exportações brasileiras de pescado. A associação estima que cerca de R$ 300 milhões em produtos estejam parados entre pátios portuários, embarcações e unidades industriais.
A entidade solicita junto ao governo crédito emergencial de R$ 900 milhões, com seis meses de carência e prazo de 24 meses para pagamento. “O setor está sem alternativa no curto prazo. Sem crédito, não há como manter os estoques, honrar compromissos e preservar os empregos”, diz a associação em comunicado.
Já a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) prevê perdas de R$ 1 bilhão se de fato as tarifas forem confirmadas em 50%. Em 2025, as exportações brasileiras para os Estados Unidos estavam em franca ascensão, com mais que o dobro do volume exportado no primeiro semestre do ano passado.
Com o aquecimento do mercado, produtores aumentaram seus investimentos para vender mais. Por isso, a derrubada das exportações por conta da tarifa tem potencial de complicar ainda mais setores do agro, com boa parte dos produtores já operam endividados.
Quebradeira no agro
Embora o agro seja um setor relevante para o PIB do país, ele também tem seus problemas. Alguns, muito graves. O Serasa Experian acompanha de perto os casos de recuperações judicias no agro e recentemente divulgou números sobre o setor.
Segundo o órgão, houve um aumento de 44% nos pedidos de recuperação judicial de empresas do agro no primeiro trimestre de 2025 com relação ao mesmo período do ano anterior, quando a situação já era de crescimento das dificuldades do setor.
Os juros em patamares recordes, a oscilação no preço das commodities e o arrocho do crédito têm dificultado a vida de boa parte dos produtores.
Como a Política Tarifária Americana Afeta a Inflação no Brasil
A política tarifária americana, especialmente a redução ou isenção de tarifas sobre produtos importados, pode indiretamente aliviar a inflação de produtos essenciais no mercado interno brasileiro.
Quando os Estados Unidos diminuem suas barreiras tarifárias, torna-se mais barato para empresas brasileiras exportarem seus produtos para lá. Isso pode, inicialmente, desviar uma parte da produção brasileira para o mercado americano devido à maior demanda e melhores preços em dólar.
No entanto, em um cenário de superávit de oferta (produção maior do que a demanda interna) ou quando o governo brasileiro implementa medidas para incentivar a produção e a exportação, o aumento das exportações para os EUA pode gerar um fluxo de dólares para o Brasil. Esse aumento na oferta de dólares no mercado de câmbio brasileiro pode levar a uma valorização do real em relação ao dólar.
Um real mais forte torna as importações brasileiras mais baratas, incluindo matérias-primas e insumos essenciais, o que pode, por sua vez, reduzir os custos de produção para as indústrias no Brasil e, consequentemente, aliviar a pressão sobre os preços dos produtos essenciais para o consumidor final.
Pode haver reversão?
Trump não tem dado sinais de que pretende voltar atrás na decisão sobre as tarifas para o Brasil, especificamente. Ele deu algum alívio recente a grandes mercados, como União Europeia, mas mantém a sinalização de aumento de 50% para o Brasil, o que coloca o país entre os principais alvos da política tarifária do republicano.
Contudo, há alguma possibilidade de haver um passo atrás, ao menos, em alguns itens, e os alimentos estão entre eles. Secretário do Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick disse, nesta terça-feira (29), em entrevista à CNBC americana, que produtos não cultivados naquele país podem ter isenção de tarifas.
Seriam os casos de boa parte dos alimentos que o Brasil exporta para aquele mercado, com destaque para café, manga, abacaxi e cacau, mencionados pela autoridade.
As tarifas de Trump podem reduzir a inflação no Brasil?
As tarifas de Trump, que são as políticas tarifárias implementadas pelo presidente dos EUA, podem sim ter um efeito indireto na redução da inflação no Brasil. Se as tarifas americanas sobre certos produtos forem reduzidas, ou se o aumento das exportações brasileiras para os EUA resultar em um fluxo maior de dólares para o Brasil, isso pode fortalecer o real.
Um real mais valorizado torna as importações brasileiras, incluindo matérias-primas e insumos, mais baratas, o que pode diminuir os custos de produção para as indústrias nacionais e, consequentemente, aliviar a pressão sobre os preços finais para o consumidor. No entanto, é importante notar que o impacto é complexo e depende de diversos fatores econômicos.
Quais produtos podem ficar mais baratos com as tarifas de Trump?
O efeito das tarifas de Trump na redução de preços no Brasil não é direto nem generalizado para todos os produtos. Se as políticas americanas resultarem em um real mais forte, os produtos que podem ficar mais baratos são principalmente aqueles que dependem de importações. Isso inclui:
- Matérias-primas importadas: essenciais para a indústria nacional.
- Insumos agrícolas e industriais: que afetam o custo de produção de diversos itens.
- Produtos manufaturados importados: que se tornam mais acessíveis com a valorização da moeda brasileira.
O impacto específico dependerá das tarifas aplicadas a cada tipo de produto e da dinâmica do comércio bilateral.
Qual o impacto das tarifas de Trump na exportação de carne brasileira?
O impacto das tarifas de Trump na exportação de carne brasileira pode ser variado. Se o “tarifaço de Trump” – a política de aumento generalizado de tarifas sobre importações americanas – for aplicado à carne brasileira, isso a tornaria mais cara e menos competitiva no mercado dos EUA.
Isso poderia levar a uma diminuição das exportações de carne do Brasil para os Estados Unidos. Em alguns cenários, a carne que seria exportada para lá poderia ser direcionada para o mercado interno, o que poderia, dependendo da oferta e da demanda, influenciar os preços domésticos.
Por outro lado, se as tarifas sobre produtos de outros países forem elevadas, a carne brasileira poderia se tornar relativamente mais atrativa, mas isso é menos provável para o cenário do “tarifaço”.
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