De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas, o aumento dos preços dos ovos de chocolate deve chegar a 15% este ano, três vezes acima da inflação oficial de fevereiro, que ficou em 5,06% no acumulado de 12 meses.
Os ovos de Páscoa costumam ser muito mais caros do que as barras de chocolate, mesmo quando têm o mesmo peso em gramas. A professora de Economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado Nadja Heiderich explica que isso acontece porque eles possuem um valor agregado maior do que a barra de chocolate.
“Os custos de produção são consideravelmente mais elevados, pois incorporam mais mão-de-obra, mais embalagens, maior custo logístico. Para atender à produção maior, se faz necessário a contratação de mais funcionários, mesmo que de maneira temporária e que podem até se tornar efetivos”, diz Nadia.
Impacto negativo nas vendas de ovos de Páscoa devido aos altos preços
Ela avalia que o consumidor tem perdido um pouco o interesse em ovos de Páscoa tradicionais há alguns anos, justamente devido à disparidade de preços. Outros fatores econômicos contribuíram para os altos preços que estão sendo vistos este ano. Desde 2020, há uma alta no preço dos alimentos e dos combustíveis por conta da pandemia, o que incide diretamente no preço do produto.
“Esse componente inflacionário não passou ainda, o que acaba impactando o setor. Além disso, tivemos uma alta considerável do dólar no ano passado, o que pode ter impactado a compra de insumos importados”, detalha a especialista.
Por isso, os consumidores estão buscando soluções mais baratas “que vão desde às barras e bombons de marcas conhecidas, como as opções de fabricação artesanal de ovos e bombons. Por possuírem menor valor agregado e menores custos de produção, naturalmente são uma opção mais em conta”, opina Nadia.
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Soluções para redução dos preços de ovos de Páscoa
Para reduzir o preço e dar acesso ao consumidor ao ovo de Páscoa nesta temporada, a Daki, responsável por uma das maiores plataformas de mercado digital, resolveu incluir entre suas opções produtos de marca própria, desenvolvidos com a ajuda de indústrias tradicionais no mercado. O ovo de Páscoa da Daki já está disponível no e-commerce da empresa.
“Investimos em parceria com players estratégicos de mercado, que possuem grande tradição e, ao mesmo tempo, atuam com produtos de alta qualidade e com bons preços. Queremos fidelizar o nosso cliente com um produto feito de forma artesanal, com um sabor exclusivo, tirando o mito de que produtos de marca própria são de qualidade inferior”, diz Rafael Vasto, CEO da empresa.
Além do ovo de chocolate, entre os produtos próprios lançados para o feriado estão vinho, congelados, itens de padaria, refeições prontas, entre outros. E a ideia de aumentar o número de produtos de marca própria não está atrelado apenas a datas comemorativas. Só em 2022, mais de 50 produtos foram lançados.
“A opção de adotar produtos de marca própria faz parte da nossa estratégia de verticalização, tendo como foco complementar o nosso objetivo de entregar a melhor experiência para os clientes, fidelizar a base de usuários e agregar valor à marca”, reforça Vasto.
Com os lançamentos próprios, a Daki tem aumentado seu sortimento de produtos. A estratégia do aumento de opções para redução de preços e aumento da qualidade também conta com uma busca contínua busca por fornecedores parceiros para ampliar o leque de itens no e-commerce.
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Pequenas indústrias ajudam a baratear o chocolate
Para quem busca uma opção mais econômica ou com melhor custo-benefício, os chocolates artesanais produzidos por microempreendedores acabam se tornando uma alternativa. Entre as principais vantagens está a quantidade de chocolate comprada com o mesmo valor, que costuma ser maior nos produtos artesanais do que nos ovos industrializados.
Para os consumidores que procuram opções mais acessíveis e de qualidade na Páscoa de 2023, a Sulformas, empresa que fornece embalagens para indústrias de alimentos, sugere que os consumidores busquem por microempreendedores locais que produzem chocolates e bolos artesanais.
"A tendência é que o consumo de chocolates artesanais na Páscoa de 2023 seja ainda maior do que nos anos anteriores. E, dentro desse mercado, já podemos dizer que os ovos de colher de 50 gramas estão em alta para essa Páscoa, por conta da alta de preços de todos os insumos", afirma Anderson Oliveira, sócio-diretor da Sulformas.
"Os consumidores estão valorizando a qualidade e a procedência dos produtos que consomem. E, do outro lado, os microempreendedores estão se profissionalizando cada vez mais, buscando oferecer produtos diferenciados", completa.
Produção de cacau é essencial para reduzir preços do chocolate
Para ampliar a disponibilidade de chocolate no mercado e tentar aplacar a alta de preços, a participação dos pequenos e médios tem sido decisiva não só na indústria, mas também no campo. Em 2022, a indústria recebeu 206 mil toneladas de amêndoas de cacau para produção de chocolate, o que significa um aumento de 4,1% em comparação com o ano anterior, segundo informações do SindiDados - Campos Consultores.
O aumento da produção de cacau no Brasil combinado ao fato de que o país é grande produtor de açúcar e leite, matérias-primas utilizadas na fabricação do chocolate, pode potencializar a disponibilidade do produto no mercado e reduzir a pressão sobre os preços.
Um levantamento do Censo Agropecuário de 2017 apontava a existência de mais de 93 mil estabelecimentos produtores de cacau no país, concentrados na Bahia (74%) e no Pará (19%), estados que, juntos, representam 93% da produção brasileira.
Entre todos os produtores dessas regiões, 84% têm área inferior a 50 hectares, o que mostra a potência do pequeno e médio produtor no segmento de cacau. Em 2020, o Brasil ocupava o sexto lugar na produção mundial da matéria prima, de acordo com a International Cooca Organization (ICCO).
Para a presidente da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), Anna Paula Losi, “o aumento do volume recebido” pela indústria de chocolate em 2022 a partir principalmente dos pequenos e médios produtores indica que “o Brasil caminha para, em breve, atingir a autossuficiência na produção de amêndoas de cacau”.
Essa ampliação da produção de cacau combinada com ganho de eficiência na indústria e no comércio tem potencial para derrubar os preços no mercado interno, mantendo a qualidade do produto, algo esperado pelos consumidores para ampliar o consumo de chocolate ao longo do ano e de produtos sazonais, como ovos de Páscoa, durante datas especiais.
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