Saber reconhecer os termos utilizados nos rótulos e embalagens dos produtos alimentícios é importante para qualquer consumidor e cidadão. Afinal, é com base nas informações passadas pelas embalagens que eles tomam as decisões sobre quais produtos adquirir.
Os termos “diet” e “light”, por exemplo, foram criados para facilitar a identificação de diferentes tipos de alimentos. Porém, ainda que já sejam usados na indústria alimentícia há bastante tempo, nem sempre as diferenças entre eles ficam claras.
A identificação errada de um termo na embalagem pode até mesmo causar prejuízos à empresa e danos à saúde do consumidor. Confira qual a distinção entre os alimentos diet e light, como essas categorias podem impactar a dieta e saúde das pessoas e o papel da indústria alimentícia na produção de alimentos alternativos às dietas restritivas.
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O que são alimentos diet?
Nas embalagens brasileiras, o termo “diet” é usado para designar alimentos dos quais algum ingrediente foi suprimido para atender a um grupo específico com restrição alimentar, como diabetes, doenças cardíacas ou outras condições de saúde que requerem uma dieta restrita em certos componentes. É o caso dos alimentos sem açúcar, normalmente consumidos por diabéticos.
No entanto, é preciso esclarecer que nem todo produto diet é sem açúcar. As empresas do setor devem especificar, no rótulo, qual ingrediente foi retirado da receita. Alguns alimentos dietéticos são sem açúcar, mas outros não contém gorduras, glúten, sódio ou outro ingrediente, e o uso de substitutos adequados, como adoçantes, farinhas especiais ou sal light.
Diet também não significa, necessariamente, que a comida será mais saudável. As formulações dietéticas costumam excluir um ingrediente, e este é normalmente substituído por algum outro na receita. Como o objetivo não é a nutrição ou a diminuição calórica — e sim adequar-se às dietas restritivas — essa substituição nem sempre torna o produto mais saudável. Via de regra, alimentos dessa categoria são majoritariamente indicados para as pessoas com alguma restrição alimentar, como diabéticos, hipertensos e celíacos. Sem a necessidade de moderação, o produto diet acaba se tornando apenas uma alternativa mais cara e nem sempre tão benéfica para aquele consumidor.
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Alimentos diet comuns na indústria
- Adoçantes: substituem o açúcar em alimentos e bebidas, podendo ser naturais ou artificiais. Alguns exemplos são stevia, sucralose, aspartame e xilitol;
- Leites e derivados: podem ter uma redução de gordura, lactose ou ambos. Alguns exemplos são leite desnatado, iogurte light, queijo branco e requeijão light;
- Pães e biscoitos: podem ter uma redução de glúten, açúcar ou gordura. Pão integral, biscoito de arroz e cookie integral são alguns exemplos de alimentos diet disponíveis na indústria;
- Sucos e refrigerantes: podem ter uma redução de açúcar ou calorias, como suco light, refrigerante zero e água saborizada;
- Barras de cereais e frutas secas: podem ter uma redução de açúcar ou gordura. Alguns exemplos são barra de granola, damasco seco e banana-passa.
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Qual a diferença entre alimentos diet e light?
Enquanto os alimentos diet possuem alguma restrição de ingrediente, o termo “light” — ou “leve” em inglês —, é utilizado para se referir a produtos com redução calórica. Ou seja, todo produto que traz light na embalagem possui, necessariamente, ao menos 25% de calorias abaixo que sua receita original.
O objetivo é atender a um público que busca consumir menos calorias diárias, normalmente com o intuito de perder peso. Ou seja, não são feitos para pessoas com restrições alimentares, como diabetes e doença celíaca, já que normalmente contém os mesmos ingredientes do que a receita original.
Confira alguns exemplos de alimentos light comuns no mercado:
- Bolo, com teor reduzido de açúcar e menos calorias;
- Refrigerante, com menos açúcar e menos calorias;
- Margarina, com quantidade menor de gorduras e menos calorias;
- Sucos de frutas, com menos calorias;
- Bolos e bolachas, com substitutos de açúcar.
Saber a diferença entre os alimentos diet e light é muito importante para fazer escolhas conscientes. Pode acontecer que uma pessoa que esteja de dieta tentando perder peso adquira um produto diet imaginando que ele terá um valor calórico menor, porém, isso não é sempre verdade.
“As pessoas pensam que vão consumir um produto diet e acham que vão emagrecer, mas não é assim”, comenta a professora do Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília (UnB), Renata Monteiro, em entrevista para o site do Conselho Federal dos Nutricionistas.
Afinal, o objetivo desse tipo de alimento é excluir algum ingrediente para se adequar a restrições alimentares específicas. O chocolate diet, por exemplo, é produzido sem açúcar para que possa ser consumido por pacientes diabéticos. Apesar disso, possui mais gordura em sua receita que o chocolate tradicional e, por isso, costuma ser ainda mais calórico.
Ou seja, alguém que escolha o chocolate diet imaginando que ele será benéfico para a perda de peso comete um erro. Na verdade, essa pessoa acaba consumindo ainda mais calorias do que se optasse pelo chocolate normal, com açúcar.
Porque investir em alternativas diet e light
A preocupação com uma alimentação saudável só cresce no Brasil. Segundo levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), cerca de 80% dos brasileiros dizem buscar alternativas mais saudáveis na hora de se alimentar. Além disso, 71% afirmam que escolhem as opções mais saudáveis, mesmo que tenham que pagar mais caro por elas.
Esse movimento foi muito acelerado após os períodos de restrição, em 2020.
“A pandemia afetou o padrão de consumo pela restrição de renda, mas também ressaltou a preocupação com a saúde, afetando as escolhas de alimentos pela população”, reflete Maria Luiza Marchiori Visintin Formigoni, docente do curso de Tecnologia de Alimentos do SENAI-SP, em entrevista ao portal Food Connection.
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Além disso, o mercado de produtos alimentares para pessoas que seguem dietas restritivas é bastante amplo.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, atualmente, existem mais de 13 milhões de pessoas vivendo com a doença no país, o que representa quase 7% da população brasileira. Já de acordo com a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (FENACELBRA), o Brasil tem em torno de 2 milhões de habitantes portadores da doença celíaca.
Além disso, cerca de 4 em cada 10 brasileiros adultos têm colesterol alto e a hipertensão atinge em média 30% da população do nosso país. Estudos apontam que a intolerância a lactose está presente em até 75% da população, embora a maior parte das pessoas não tenha um diagnóstico. Já a obesidade afeta cerca de 6,7 milhões de brasileiros.
Todas essas são doenças ou condições que causam a necessidade de uma dieta restritiva, seja pela exclusão de algum ingrediente (como do açúcar e do glúten para os diabéticos e celíacos, respectivamente) ou pela diminuição nos níveis de gordura, colesterol, sódio ou valor calórico.
Isso sem mencionar outras restrições alimentares ligadas a valores éticos, como o veganismo e o vegetarianismo, ou religiosos, como as pessoas de fé judaica que não consomem derivados de porco ou frutos-do-mar, por exemplo.
Diante de todo este cenário, fica claro que investir em produtos alimentares que ofereçam alternativas para essas dietas restritivas é uma forma de atender um mercado consumidor que está em constante crescimento e que pode trazer um retorno financeiro considerável.
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