No live-action de Barbie, Barbieland é o mundo fictício liderado por mulheres. Lá, elas são presidente, detentora de prêmios Nobel, médica, bombeira e até mesmo mãe. Por quê não? O mundo de ordem e autonomia feminina, contudo, passa por uma turbulência quando o Ken (Ryan Gosling) descobre o que é o patriarcado e ameaça substituir a então normalidade girl power. Para retomar o poder, as mulheres precisam se unir, na mais lúdica demonstração de que a união faz a força e que sororidade é a palavra da vez.
A síntese do que é o mundo da protagonista interpretada por Margot Robbie foi vista na prática na manhã do dia 9 de agosto, no primeiro Women 's Networking Breakfast da Food ingredients South America (FiSA). Durante os painéis e bate-papos, a liderança feminina se apresentou com normalidade e autenticidade, numa intenção de fazer o patriarcado, ainda presente na indústria de alimentos e bebidas, dar mais espaço para elas e se transformar na almejada equidade de gênero.
Para isso, foram debatidos assuntos como os caminhos para fomentar a inovação na indústria, liderança feminina, visão estratégica dentro das empresas e a construção de uma cultura organizacional mais atenta às pessoas e ao planeta. Na ‘Barbieland’ da FiSA, elas estão no chão das fábricas, nas lideranças, servindo de inspiração para outras mulheres e também maternando.
Abraçar o mundo: é possível mesmo?
Antes, as mulheres estavam acostumadas a dar conta de tudo — ou pelo menos tentar fazer isso. A partir do momento em que elas alcançam cargos de poder e passam a aplicar, na prática, o conceito de empatia com suas próprias questões e para com seus pares, o jogo muda. Mas as empresas também podem fazer a sua parte e deixar o ambiente de trabalho mais acolhedor.
Para Vivian Novaes, diretora de Marketing da Danone, sua virada de chave na estratégia em lidar com o time veio a partir do entendimento de que somos como “pêndulos” e não como “balanças” que precisam equilibrar vida pessoal e carreira.
“Tenho falado muito isso: encarem que teremos momentos, como uma volta de licença maternidade, nos quais a maternidade vai pesar mais. Mas em alguns outros momentos a carreira vai gritar um pouco mais porque você recebeu um desafio novo, porque você está em um momento novo. Então, que a gente exerça o papel de pêndulo. Mas não somente com a gente; com o nosso time”, explanou. Vivan participou de conversa mediada por Eliana Cassandre, co-fundadora do movimento Uma Sobe e Puxa a Outra.
Presente no café da manhã, Carolina Riotto, diretora de Marketing da Unilever, fez questão de destacar que costuma ser abordada por pessoas da sua equipe que lhe indagam: “Como você dá conta de tudo?”. Franca, a mãe de duas crianças ainda pequenas revelou que simplesmente não dá, mas teve o seu tempo para focar mais nos filhos.
Na empresa onde ela trabalha, após cumprir a licença maternidade de seis meses, pôde fazer a chamada part-time, jornada de meio período, por mais seis meses. Ela afirma que esse tempo foi fundamental para que ela se organizasse física e mentalmente para retornar ao ofício com todo o gás.
"Eu estava muito mais em paz comigo mesma e feliz. Falando: quero focar na carreira que eu tanto amo. Voltei, foquei e um ano depois fui promovida de novo. Então eu digo: é possível conciliar carreira e maternidade, mas é possível quando a gente encontra espaço e entendimento de que há momentos para exercer os diferentes papéis. Encontrar ambientes abertos a isso vai fazer com que dê tudo certo”, salienta a representante da Unilever.
Será que então a solução para todos os males das mulheres no ambiente de trabalho é o part-time? Longe disso. Para entender a necessidade de cada indivíduo, o agir deve se dar de forma acolhedora, através de um exercício que pode ser muito simples: o da escuta.
“Esse processo do equilíbrio, da autopercepção, do autodesenvolvimento, de entender que somos pendulares o tempo inteiro, isso a equipe sente e vê o tempo inteiro, mas nem sempre verbaliza. Mas é o modelo: o exemplo e o impacto. Como a gente se percebe, é também como a equipe se percebe. Então esse diálogo, a empatia, a segurança psicológica são fundamentais para que esse modelo aconteça da melhor forma”, acrescenta Michele Salles, diretora de diversidade, equidade, inclusão e saúde mental da Ambev.
Ainda segundo Michele, uma escuta atenta de líderes e gestores é capaz de trazer impactos diretos na produtividade dos funcionários e inclusive na cultura organizacional da empresa. Dessa forma, é possível identificar problemas e pensar em soluções que atendam às demandas do colaborador, como foi o caso do part-time descrito por Carolina na Unilever, por exemplo.
Quando o assunto é inovação, tem dedo delas!
Ariana Maia, sócia-fundadora da Inovamate, desenvolve seu trabalho com a erva mate na cidade de Ilópolis, no Rio Grande do Sul, que tem apenas 4 mil habitantes. Em um local tão restrito, como inovar com uma erva tão consumida e enfrentar a resistência para a tradicional matéria-prima do chimarrão?
Às vezes, o projeto chega à universidade e vira trabalho de conclusão de curso de graduação, pós-graduação e mestrado. Mas a inovação se dá também no modo de pensar e influenciar pessoas.
“Trabalhar com a comunidade essas novas formas e potencialidades de uma erva culturalmente tão apreciada, isso para mim está muito atrelada à ideia de inovar, que também vem do aprender o tempo inteiro”, destacou a convidada, cuja empresa une natureza e ciência para extrair o maior número de benefícios da erva mate.
Roberta Suplicy, Fundadora Urban Remedy, citou que seu maior desafio à frente da marca é manter a essência do seu produto, natural e fresco, por mais tempo nas prateleiras do consumidor sem usar de aditivos e componentes que ponham em xeque a saúde, pilar inegociável para a marca.
Para inovar a tecnologia vira aliada nessas questões. Mas o boca a boca também entra no jogo. A marca passou a trabalhar em parceria com médicos e nutricionistas, e desenvolveu protocolos assinados por profissionais de saúde do hospital Albert Einstein, em São Paulo. Deste modo, conseguiram atender os clientes mais exigentes e ampliar a saudabilidade em um match carimbado com quem entende do assunto.
Roberta Suplicy entende que todos os indivíduos, e logicamente as mulheres, têm um superpoder: escolher o que vai comer todos os dias. “Isso vai impactar não só na sua saúde, como no que você vai encontrar na prateleira no futuro”, semeou a empresária, que participou de painel mediado por Carol Falkoski, gerente de Inovação Aberta da Nestlé, com presença de Eloisa Garcia, diretora geral do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital).