Os casos recentes de intoxicação e mortes suspeitas por metanol acenderam o alerta no setor de bares e restaurantes, mas ainda não há nenhuma confirmação oficial de que as contaminações tenham ocorrido em estabelecimentos do ramo, segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). 

Em entrevista ao Food Connection, José Eduardo Camargo, líder de conteúdo da Abrasel, disse que as investigações apontam, até o momento, para consumo doméstico, e não foi encontrada nenhuma garrafa contaminada com metanol em bares ou restaurantes.

Mesmo assim, as entidades representativas do setor decidiram agir de forma preventiva.

Em parceria com a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) e a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD), a Abrasel lançou um curso gratuito e uma cartilha de orientação sobre identificação de bebidas adulteradas, voltados a empresários, gestores e profissionais do setor.

O objetivo é capacitar os estabelecimentos para identificar possíveis fraudes, garantir a procedência das bebidas servidas e reforçar a segurança dos consumidores.

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De acordo com Camargo, nenhum dos bares recentemente fechados em São Paulo foi interditado por contaminação, mas, sim, por irregularidades e identificação de bebidas adulteradas durante fiscalizações.

Ele explica que o curso e o guia funcionam como uma resposta preventiva do setor, oferecendo instruções práticas sobre como comprar bebidas de forma segura, identificar adulterações, exigir nota fiscal e inutilizar garrafas corretamente para evitar que sejam reutilizadas por falsificadores.

Na entrevista a seguir, o líder de conteúdo da Abrasel detalhou as ações conjuntas das entidades, comentou o andamento das investigações e reforçou as principais medidas de segurança que empresários e consumidores deveriam adotar. 

Leia a entrevista com José Eduardo Camargo, líder de conteúdo da Abrasel

Como o setor tem acompanhado o noticiário sobre as pessoas intoxicadas com metanol? 

Os casos são graves. A gente lamenta profundamente as mortes e mostra solidariedade com as famílias. Há familiares sofrendo com as mortes e também com entes internados. 

Como o setor está relacionado a esses casos? 

Não há até agora, de modo oficial, ligação de intoxicação por metanol com consumo em bares e restaurantes. A imprensa chegou a fazer algumas ligações, mas, oficialmente, não há ligação.

A Secretaria não divulgou ainda não especificou onde foi o consumo que levou às duas mortes. A grande maioria dos casos suspeitos foi de consumo em casa.

O fato é que não há nenhuma ligação direta até agora (entre os casos de intoxicação e o setor de bares e restaurantes). Assim como não acharam nenhuma garrafa até agora de bebida contaminada com metanol em bares e restaurantes.

Mas é lógico que você tem uma comoção do público, e vários restaurantes recebem bebidas de atacadistas, então há uma ligação.

Por outro lado, quem frequenta bar e restaurante são os amigos, os familiares. É toda uma comunidade que é muito cara para o empresário, para o dono do bar e restaurante. Cliente é a razão de existir dele e ele fica também 

Então, assim, ninguém em sã consciência vai servir uma bebida falsificada, adulterada, que pode colocar em risco a saúde dos consumidores. A gente é vítima também desse tipo de falsificação.

E quanto ao movimento e vendas, houve queda sensível?

Ainda estamos levantando os dados. O que a gente tem sentido é que não caiu tanto o movimento como se anunciava que ia acontecer.

Houve sim quedas pontuais e quedas no consumo de destilados, especificamente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas quando se fala do Brasil todo, muitos lugares simplesmente não registraram nenhuma queda.

Mesmo diante disso, a Abrasel tem agido com a oferta de cursos e de um guia para identificação de bebidas adulteradas. Por que essa ação agora?

Como eu disse, no caso de bares e restaurantes, não há confirmação oficial, mas a gente tem um cuidado com o empresário do setor e prontamente montamos um curso para explicar como se faz compra de, principalmente, destilados de modo seguro.

O curso, que é online, está no ar desde a semana passada. A gente está fazendo duas sessões por dia, às 10h e às 15h. É uma parceria da Abrasel com a Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas) e a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD).

O que a gente mostra nesse curso? Sinais para identificação de bebidas adulteradas, como analisar o rótulo, o selo da Receita Federal, que é feito pela Casa da Moeda. Além disso, mostramos como comprar de forma segura, sempre exigindo nota fiscal, e o que fazer em caso de dúvida.

Mostramos também o que fazer com a garrafa para que ela não seja reutilizada por falsificadores. As garrafas de bebidas mais finas e destiladas são especiais. Então, é importante inutilizá-las antes de descartar, para que não sejam usadas novamente.

Tem toda uma série de aspectos que explicamos ao dono do bar e restaurante sobre como garantir confiabilidade no produto que ele está servindo.

E como o empreendedor pode acessar o curso?

O curso é online e aberto, está disponível no site da Abrasel e é aberto pelo Zoom. A princípio vai até quarta-feira, dia 8, mas estamos pensando em estender. Quem quiser pode preencher os dados e depois receber o certificado.

E o guia, está integrado ao curso?

Isso. Tem uma cartilha também, que você pode baixar. Está integrada ao curso, mas você pode baixá-la separadamente, se quiser.

Temos o curso e a cartilha mostrando isso (ações que o empreendedor pode colocar em prática para garantir que não está sendo vítima dessas falsificações), além de um sistema de perguntas e respostas, que vamos atualizando com os principais pontos, sobre as dúvidas mais comuns relacionadas ao tema.

Quais são as dúvidas mais comuns?

As mais comuns são sobre como identificar uma bebida de origem comprovada, como fazer a compra, do que desconfiar e como fazer o descarte. Também há dúvidas sobre como os casos estão acontecendo.

A polícia e lojistas têm falado sobre falsificação do selo de comprovação, que supostamente torna a garrafa mais próxima da original. Mas há como identificar se o selo é original ou não a olho nu? 

Sim. O selo original é feito pela Casa da Moeda e distribuído pela Receita Federal. Ele tem relevo e uma marca d’água, igual às cédulas de dinheiro. É preciso observar essas características.

Além disso, é preciso observar o conjunto de outras questões, como, por exemplo, se a garrafa chega com desconto absurdo, como 50% abaixo do preço de mercado,  já é motivo de desconfiança.

Outra questão é a nota fiscal. Se o vendedor disser que não tem, desconfie.

Então, é o conjunto de sinais que deve acender o alerta, entre eles, preço muito baixo, sem nota fiscal, rótulo desgastado e selo estranho e sem marca d’água. A orientação é evitar a compra.

E, claro, verificar se o líquido é translúcido, sem resíduos, e se o cheiro é normal. Mas esses aspectos são mais sutis e difíceis de identificar.

E quanto à garrafa, há recomendação para destruí-la.

Isso. Mas destruir a garrafa inteira pode ser perigoso se o local não for adequado. A orientação é simples: dê apenas uma quebradinha na boca da garrafa.

Assim, ela já fica inutilizada e não pode ser reutilizada por falsificadores. Depois, o descarte pode ser normal, preferencialmente via empresas ou entidades que façam reciclagem do vidro.

Ainda sobre os casos de intoxicação, quais as participações dos bares fechados pela fiscalização?  

Dez bares em São Paulo foram fechados, mas por fiscalizações que encontraram garrafas sem procedência, não por casos de contaminação. Por isso, não há certeza se houve casos ali (de contaminação por metanol).

Tudo ainda é muito nebuloso. O que temos de certo são duas mortes que vão ser investigadas. Já foi fechada uma fábrica de adulteração no interior de São Paulo, e há outras suspeitas.

Acesse a cartilha e o curso sobre identificação de bebidas adulteradas.