Principal congresso da América Latina sobre inovações no desenvolvimento de alimentos e bebidas, e tradicional atração da FiSA, o Summit Future of Nutrition começou embalado na terça-feira. O painel “Biodiversidade Brasileira e os Desafios para Inovação” contou com Osmar Vaz de Carvalho Netto, sócio-fundador da BioinFood Soluções em Biotecnologia; Graziela Caproni, da Frutificado, e Liliana Melo, responsável pela divisão Biotech da Vigna Brasil. A moderação foi de Ana Carolina Rossettini, da GFI Brasil.

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O que disseram os convidados?

Caproni, representante da Frutificado, primeira marca a produzir suco em pó com apelo de saudabilidade, destacou que o trabalho com seu produto vai muito além da logística e da cadeia produtiva. O desafio está também em como apresentar esses produtos ao mercado, conversar com o consumidor e transformar a percepção cultural do brasileiro.

“Temos outros biomas, outras frutas e outros sabores”, afirmou. Para ela, o primeiro passo para entender o potencial dos alimentos é visitar o local de origem, conhecer os saberes ancestrais das comunidades e compreender a utilidade nutricional e cultural dos frutos. “É muito importante estar aqui para falar sobre isso, sobre a riqueza nutricional desses alimentos, que também são um recurso valioso para as comunidades locais”, completou Graziela.

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Osmar reforçou o protagonismo do Brasil como o grande celeiro da biodiversidade mundial, com produtos de alto potencial nutritivo e tecnológico. Ele chamou a atenção para a sazonalidade de muitas dessas frutas, um fator que impacta diretamente a qualidade, a cadeia de fornecimento e a logística de distribuição.

“Falta informação sobre esses produtos, e o grande desafio é disponibilizá-los no mercado durante todo o ano sem descaracterizar a economia local ou a própria essência da fruta, como aconteceu com o açaí, que se tornou essencialmente industrial”, disse. Para ele, o consumo de ingredientes nativos é uma oportunidade de oferecer ao público algo saudável e diferente do que está acostumado.

Melo abordou os cuidados necessários nos primeiros passos para trabalhar com espécies nativas, destacando a importância da legislação para garantir o uso correto da biodiversidade. Ela explicou que a Lei da Biodiversidade exige o registro de todo o acesso ao patrimônio genético brasileiro, incluindo plantas, frutas e até micro-organismos. “É fundamental entender o regulatório antes de iniciar qualquer projeto, garantindo que todo o processo esteja em conformidade com a legislação”, afirmou.

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Sustentabilidade e upcycling de resíduo na indústria de alimentos e bebidas

No painel “Upcycling e a Transformação de Resíduos em Ingredientes Valiosos”, especialistas na área compartilharam experiências sobre inovação, sustentabilidade e o futuro da alimentação. Entre os participantes estavam André Marchese Menezes, board member da Confetti Snacks; Giovanna Meneghel, líder da Nude; e Maiara Goulart, gerente da Veolia Brasil. A moderação ficou a cargo de Natasha Monteiro de Pádua, executiva da Upcycling Solutions.

Cada um trouxe perspectivas sobre os desafios e oportunidades para o setor. Para Menezes, o conceito de upcycling é o ponto de partida para a inovação sustentável. Ele destacou como a Confetti Snacks transforma vegetais e cogumelos que seriam descartados por questões estéticas em snacks nutritivos e com valor agregado. “Nosso foco é utilizar tudo, sem desperdício. O que antes era rejeitado pela aparência agora vira um produto saudável e saboroso”, destacou. 

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Meneghel trouxe ao debate os desafios de comunicar o conceito de upcycling ao público consumidor. No caso da Nude, que utiliza 100% da aveia em seus processos, ainda há um caminho a percorrer para que o consumidor compreenda o valor dessa prática. “A ideia de reaproveitamento total não é algo amplamente difundido. O desafio é mostrar que o upcycling agrega valor e é positivo, sem perder a simplicidade na mensagem”, propôs a executiva, defendendo estratégias mais diretas de conscientização.

Representando a Veolia, Goulart destacou as diferenças entre upcycling, reciclagem e compostagem, enfatizando a importância da gestão e valorização de resíduos como parte de um processo industrial sustentável. Ela apontou os desafios regulatórios, o grande volume de resíduos gerados e a necessidade de soluções personalizadas para diferentes contextos.

“Precisamos enxergar o resíduo como matéria-prima para outro processo, e não apenas como algo a ser descartado”, sugeriu. Ela ainda reforçou a necessidade de parcerias estratégicas para ampliar o impacto dessas práticas. “Transformar resíduos em novos produtos, em escala industrial e com atratividade para o mercado, exige colaboração e inovação”, concluiu.

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Serviço Food ingredients South America 2025

Data: de 26 a 28 de agosto de 2025.
Local: São Paulo Expo (Rodovia dos Imigrantes, 1,5 km – Vila Água Funda, São Paulo – SP, 04329-900)
Horário: 13h às 20h