Pensar no futuro do consumo geralmente nos leva a considerar novas tecnologias, inovações de produto e mudanças nos hábitos de compra. Mas, e se o verdadeiro guia do consumidor for algo muito mais humano e intangível, como as emoções?

Recentemente, li uma análise da WGSN (Worth Global Style Network) que sugere exatamente isso. O estudo indica que, nos próximos anos, as decisões de compra serão cada vez mais influenciadas por estados emocionais específicos. Mais do que atributos racionais, como preço e conveniência, os consumidores tenderão a escolher aquilo que os faz sentir algo.

Estamos prontos para competir em um mercado onde emoção e razão terão o mesmo peso?

Alegria como estratégia

Uma das ideias mais instigantes apresentadas pela WGSN é o papel da alegria. Após anos de estresse e cansaço, as pessoas buscarão experiências que tragam leveza, inspiração e propósito.

Não se trata de entretenimento vazio, mas de algo planejado. Criar momentos que possam regenerar, conectar e despertar bem-estar.

No setor de alimentos e bebidas, vejo aqui uma chance única. Poucas indústrias têm tanto poder de emocionar quanto a nossa. Afinal, comida e bebida ativam sentidos, memórias e vínculos sociais. Será que estamos aproveitando esse potencial ou ainda reduzindo a experiência a preço e praticidade?

O desejo de simplificar

Outra tendência identificada é o desejo crescente de se livrar de excessos e responsabilidades. Vivemos em uma sociedade sobrecarregada, onde burnout e fadiga se tornaram comuns.

Essa busca por simplificação já se reflete no cotidiano. Consumidores eliminam notificações desnecessárias do celular, repensam hábitos e tentam reduzir o barulho que invade a rotina.

Para a indústria de alimentos, surge o desafio de como oferecer conveniência sem cair na armadilha da superficialidade? Como simplificar a vida das pessoas sem abrir mão de qualidade e significado?

Uma refeição prática pode, sim, ser nutritiva e sustentável. Uma experiência de compra pode ser ágil sem perder clareza e confiança. Simplificar é mais do que cortar etapas, é pensar no consumidor de forma integral.

Tecnologia sob desconfiança

O terceiro ponto de atenção é a relação ambígua das pessoas com a tecnologia. Inteligência artificial, automação e biotecnologia despertam fascínio, mas também receio.

Essa mistura de otimismo e desconfiança coloca as marcas diante do dilema sobre como inovar sem perder credibilidade.

No nosso setor, isso significa comunicar de forma clara a origem dos ingredientes, os processos produtivos e o verdadeiro propósito da inovação. O consumidor do futuro não comprará apenas “novidades”. Ele exigirá transparência, diálogo e segurança.

Mais do que produtos, sensações

Ao conectar esses três vetores emocionais, uma conclusão é inevitável: o consumidor não estará apenas comprando produtos, mas sensações.

E isso é especialmente relevante para alimentos e bebidas. Comer sempre foi mais do que nutrir o corpo, é memória, prazer, recompensa, conexão. O que muda é que agora esse aspecto emocional deixa de ser secundário para se tornar central na decisão de compra.

Se não formos capazes de entregar essa camada emocional, outras indústrias, como tecnologia ou entretenimento, podem ocupar esse espaço.

A provocação final

Deixo três perguntas para reflexão:

  • Estamos preparados para oferecer alegria estratégica, transformando momentos simples em experiências inspiradoras?
  • Estamos ajudando as pessoas a viver com menos peso, ou estamos adicionando novas camadas de complexidade às suas rotinas?
  • Estamos usando a tecnologia de forma a gerar confiança real, ou apenas como promessa de inovação?

Responder a essas perguntas não é uma opção é uma condição de sobrevivência em um mercado em que emoção e razão caminham lado a lado.

No fim das contas, não se trata apenas de escolher entre preço, qualidade ou conveniência. Trata-se de compreender que o diferencial competitivo do futuro será a capacidade de oferecer emoções autênticas.