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A importância de valorizar o que é nosso

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O nacionalismo e a proteção de mercado estão em desuso, mas o vinho, cachaça e os destilados nacionais têm dificuldades de enfrentar a concorrência se não forem valorizadas pelo brasileiro

 

A proposta é polêmica, mas entendo que o brasileiro tem sim que fazer um esforço e “valorizar o que é nosso” e preferir sempre que possível prestigiar o que fazemos na área de alimentos e bebidas, especialmente desta última, e respeitar o trabalho dos produtores, ainda que em alguns casos não tenha a qualidade do importado.

Também não se pode ignorar a carga pejorativa do termo “reserva de mercado”, ainda mais agora que os americanos mudaram de ideia e elegeram Trump para defender suas empresas e a demanda interna. Não há porque, com todo cuidado, não discutirmos algum tipo de proteção ao produtor nacional, não de forma a colocá-lo em situação de protecionismo abusivo, mas pelo menos de igualdade com o do exterior. Isso, principalmente se o produto nacional é muito onerado com impostos, corrupção, logística, acesso a infraestrutura, burocracia, contrabando e informalidades.

Evidente que não se pode competir em condições de igualdade. No caso dos impostos, pode-se citar alguns exemplos de números obtidos pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário: cachaça 81,87%, vinho 54,7%; para cada chope que o cidadão toma, ele paga 62,2% de impostos.

Importante ressaltar que não se está aqui defendendo qualquer tipo de produto, mas há aqueles que têm a mesma qualidade ou até são melhores e sofrem com mais uma barreira: o preconceito. Tudo que é importado seria melhor, segundo nossa cultura de subdesenvolvidos.

Para ter mais produtos de melhor qualidade e mais baratos, precisamos superar todos esses óbices citados e produzir em escala. Mas como fazê-lo com um mercado de consumo tão limitado, em um país onde grande parte das elites e da opinião pública mais influente é avessa à distribuição de renda (e felicidade, educação, saúde, poder e esperança). Como formar um mercado interno forte sem inclusão social, aumento da renda média, investimento prioritário na educação?

Quantas pessoas no país podem jantar em um bom restaurante ou comprar um vinho de qualidade razoável, sem temer o estrago que pode fazer a conta  nas suas pretensões de manter as finanças equilibradas e até poupar algo no fim do mês?

No Brasil, os impostos sobre as bebidas costumam superar os 50%. No caso dos vinhos, pode chegar a 60%. Qual a chance de competir com os importados? A lição dos cigarros, mais de 30% dos vendidos são contrabandeados, não serve de exemplo?

A elevada carga de impostos sobre bebidas ainda pode ser chamada de burra, estúpida, estimula o contrabando, a informalidade, que por sua vez, reduzem a arrecadação com impostos, isto sem falar que aumentam a criminalidade, reduzem emprego e desestimulam investimentos do produtor nacional.

Importante que se faça campanhas de valorização dos produtos nacionais, aquelas que merecem reconhecimento, aqueles que apenas estão a caminho, aqueles que tentam enfrentar a barreira do mercado, da ignorância, do preconceito, do abuso da carga tributária.

O primeiro passo dessa caminhada de mil milhas é trabalhar pela mudança da cultura  onde se diz que o  importado é necessariamente melhor, sem descurar de ir reduzindo a barreira dos demais obstáculos.

 

*Artigo escrito por Percival Maricato, presidente a Abrasel-SP  e colunista da Fispal Digital.

 

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