Quando investigamos o comportamento do consumidor em relação aos produtos orgânicos, uma importante conclusão nos salta aos olhos: há muito de racional na escolha por esse tipo de produto. Quando toda a indústria da alimentação está empenhada em desenvolver atributos mercadológicos que estimulem a compra por impulso, falar à razão do consumidor parece um tiro no pé – mais um tiro, já que a percepção de que os orgânicos custam mais caro está bastante difundida.
De fato, a Pesquisa Consumidor Orgânico 2019, lançada pelo Organis em parceira com o Instituto Brain, mostra que 75% dos brasileiros descrevem os produtos orgânicos como sendo muito mais caros ou mais caros que os não orgânicos. Até aí, nenhuma surpresa. O que surpreende é quando praticamente a metade dos consumidores que percebem os orgânicos como sendo mais caros, dizem que consideram tal acréscimo justificado.
E tem mais: a pesquisa mostrou que 48% dos que acham que o preço mais alto se justifica, dizem que isso é por causa dos custos de produção dos orgânicos, que são mais caros. Outros 18% justificam o preço pelo fato de que os orgânicos são mais saudáveis. Observe, caro leitor, que esta percepção não é apenas daqueles que são consumidores de orgânicos. Mesmo entre os que não consomem orgânicos, pelo menos a metade reconhece o valor que há nesse tipo de produto.
Se há uma compreensão das razões práticas que elevam os preços dos orgânicos, há também uma percepção de que o produto adquirido vem com um valor agregado relevante: mais saúde. Além disso, não podemos deixar de lembrar que 16% dos pesquisados não vêm diferença de preços entre os orgânicos e os não orgânicos, e 9% dizem que, na verdade, eles são mais baratos ou até muito mais baratos.
Olhando por esse prisma, o preço já não parece um complicador. É um fator para ser gerenciado de forma estratégica, como acontece com qualquer outro produto de qualquer outro mercado. Porém, o fator preço continua sendo um impeditivo para que os atuais consumidores de orgânicos comprem mais, e para que os não consumidores ingressem nesse mercado.
A boa notícia é que 67% dos que já são compradores se dizem dispostos a aumentar o consumo nos próximos 6 meses, e 26% dos que não são compradores pretendem iniciar o consumo. Se a nossa economia voltar a crescer e a renda dos brasileiros aumentar, o cenário será bastante favorável para os orgânicos.
Tudo isso nos traz de volta ao começo: há muito de racional na escolha por produtos orgânicos! Foi justamente o arcabouço filosófico construído ao redor do conceito de agricultura orgânica que possibilitou o seu crescimento a nível global. No mundo todo, os orgânicos conquistaram espaço graças ao engajamento de produtores e consumidores identificados com uma causa coletiva: colher os benefícios ambientais e sociais decorrentes de práticas mais saudáveis e integradas de forma sistêmica com a natureza. No Brasil não está sendo diferente!
Também por aqui há um elemento comum que une todos os que defendem o consumo de orgânicos: o alto valor atribuído à informação! Sim, à informação! O consumidor consciente quer saber o que está consumindo, porque deve consumir, de que forma foi produzido, de onde vem e como chegou até a mesa da sua família... Quem consome orgânicos o faz de causa pensada!
Dos consumidores brasileiros que ainda não conseguiram ingressar no mercado de orgânicos, pelo menos a metade já sabe que há benefícios individuais e coletivos para serem aproveitados – é apenas uma questão de tempo e oportunidade. A outra metade ainda precisa ser alcançada por informação e argumentação. Felizmente, aí estão dois ingredientes abundantes no mercado de orgânicos.
A Pesquisa Consumidor Orgânico 2019 pode ser acessada gratuitamente no site do Organis.