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Fome oculta: entrevista com o nutrólogo Hélio Vannucchi

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ABIAD traz informações sobre “fome oculta”, tema relevante para o setor de alimentos para fins especiais, mas ainda pouco conhecido do público. Leia!

Em sua nova coluna para o Food Connection, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) traz informações sobre a “fome oculta”, um tema bastante relevante para o setor de alimentos para fins especiais, porém ainda pouco conhecido do público em geral. 

Para isso, conversamos com o Dr. Helio Vannucchi, Nutrólogo, Especialista em nutrição e Doutorado em Clínica Médica, Diretor de entidades como SBAN – Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, SLAN – Sociedade Latino-americana de Nutrição e membro do grupo de trabalho do Ministério da Saúde.

ABIAD: Como podemos definir “fome oculta”? 

HELIO: É uma desnutrição causada por deficiências de vitaminas e minerais e a maioria das pessoas afetadas por ela não apresenta manifestações e sintomas físicos, geralmente associados à fome e desnutrição. O início das manifestações apenas ocorre quando a deficiência é mais avançada, já com impacto global na saúde. Pode ocorrer uma deficiência isolada ou associada (um ou mais micronutrientes) e outras formas de distúrbios nutricionais.

Estima-se que 2 bilhões de pessoas em todo o mundo estejam acometidas pela fome oculta. As repercussões dessas deficiências de  vitaminas e minerais podem ser graves e duradouras, incluindo morte infantil e materna, deficiências físicas e sistemas imunológicos enfraquecidos.  

Os grupos mais vulneráveis são: crianças e adolescentes, mulheres em diferentes etapas da vida (a suplementação com ácido fólico, vitamina A, B12, D, ferro e cálcio é importante no período de gestação), idosos (é frequente não contarem com uma dieta balanceada devido ao acesso restrito ou à preferência a determinados grupos de alimentos bem como devido à baixa mobilidade e exposição solar), pessoas submetidas à dieta restrita, os pobres, alcoolistas e, mais recentemente, os pacientes que foram submetidos à cirurgia bariátrica. 

 

ABIAD: Existem estatísticas desse quadro na população brasileira?  

HELIO: Segundo a OMS, dados populacionais mostram que mais de 2 bilhões de pessoas são deficientes em vitaminas e minerais, observando-se, com mais frequência as de zinco, ferro, vitamina A e folato.

Segundo os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar – POF, realizada em segmento significativo na população brasileira, existem situações que podem se caracterizar como ingestão insuficiente, por exemplo: idosos têm redução de 21,5% na ingestão calórica, 85% das mulheres acima de 14 anos não têm ingestão adequada de magnésio, 95% da mulheres acima de 60 anos não consomem a quantidade adequada de cálcio e vitamina  D por dia, quase 100% da população brasileira não consome quantidades adequadas de vitamina E. Além disso, menos de 10% da população atinge as recomendações de consumo de frutas e hortaliças, e o consumo de leite é muito abaixo do recomendado.

Dados publicados pela OMS estimam que em 2013 havia um caso a cada 100 habitantes, o que foi considerado um índice baixo. Após isso, a situação nutricional da população teve uma tendência à piora. Além disso, existem vários relatos pontuais mais recentes, sobre deficiência de micronutrientes (ferro, vitamina A, zinco e ácido fólico) em mulheres, crianças e em idosos

ABIAD: O que pode levar a essa situação?

HELIO: Geralmente ocorre quando a ingestão é insuficiente, por vários motivos, e os mecanismos fisiológicos e bioquímicos passam  a ser comprometidos. Se o processo continua, aí sim, as manifestações clínicas aparecem e então é possível estabelecer o diagnóstico com exame clínico. É uma deficiência marginal de micronutrientes. A deficiência ou o excesso de micronutrientes pode modificar a estabilidade no genoma, gerando doenças.

ABIAD: Quais os riscos relacionados ao agravamento ou prolongamento da fome oculta em uma pessoa? 

HELIO: As vitaminas e minerais são necessários em pequenas quantidades, mas essenciais para o crescimento normal, fortalecimento do sistema imune. Não podem ser produzidos pelo corpo e devem provir da alimentação e, por fim, essa disfunção nutricional aumenta o risco de desenvolvimento de doenças como câncer, osteoporose, diabetes e distúrbios cardiovasculares.

 

 

ABIAD: Quais as principais formas de prevenção e tratamento?

HELIO: A educação alimentar deveria conduzir o eixo de todas as intervenções focalizadas em uma justa valorização dos alimentos de boa qualidade nutricional ao longo de toda a cadeia de produção, comercialização e consumo.  Enquanto isso não é possível, pode-se propor intervenções na população acometida como adição de suplementos ou práticas de fortificação de alimentos. 

Os suplementos dietéticos não são substitutos dos alimentos convencionais, mas complementos de uma dieta insuficiente. Nos países em desenvolvimento, o suplemento faz parte de programas concebidos para tratar a deficiência de um micronutriente naqueles grupos populacionais de maior vulnerabilidade.

O suplemento é uma estratégia de baixo custo que dá proteção tanto a milhões de crianças que crescem com problemas de saúde e com um horizonte de desenvolvimento insuficiente, assim como a adultos que, por diferentes circunstâncias, não consomem uma alimentação adequada. Na realidade latino-americana, o suplemento como primeira opção constitui o recurso eficaz para conseguir resultados a curto prazo com efeitos protetores para os setores mais vulneráveis da população

Adicionar quantidades de micronutrientes a alimentos básicos ou condimentos durante o processamento, ajuda os consumidores a obter os níveis recomendados de micronutrientes. A fortificação envolve o agregado de micronutrientes em pó à preparação dos alimentos básicos sem modificar o sabor, a cor, a textura ou outros atributos. Essas formulações têm boa aceitação porque são adicionadas às comidas familiares habituais, o qual resulta de particular importância entre as crianças e facilita a administração para seus cuidadores. 

No Brasil pode-se citar as práticas de fortificação do sal com iodo combatendo o bócio endêmico e a fortificação das farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico prevenindo a anemia ferropriva e a lesão do tubo neural.

ABIAD: Como o senhor enxerga a indústria de alimentos na prevenção e combate à fome oculta? 

HELIO: É muito importante contar com interesse e compromisso da indústria. Não se deve desconhecer a relevância que adquire o papel do médico, se se pretende gerar uma mudança a partir de um enfoque integral. O médico generalista ou “médico da família’, é quem tem a oportunidade inigualável de impedir o progresso da epidemia, valendo-se da suspeita clínica. No âmbito da prática privada e por meio de uma pormenorizada anamnese, o médico pode diagnosticar o déficit antes dos sinais clínicos evidentes e, às vezes, irreversíveis.

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