Tiago Cardoso*

Planejamento estratégico, gestão de riscos, relatórios e tomada de decisão são termos comuns para nossa área financeira. Mas, como entusiasta da inovação, gosto de trazer diferentes pontos de vista que vão além do comum para a conversa. Os meus 20 anos de experiência na área me mostraram que, além de chegar nos bons resultados financeiros, olhar além deles também é positivo.

E isso significa que, junto com o objetivo legítimo de uma empresa trazer ganhos para seus stakeholders, essas cifras também podem trazer resultados sociais e ambientais que agregam valor. E, no momento sensível pelo qual passa o mundo, com crise climática que afeta a todos, essa premissa é mais do que necessária. Eu digo que ela é imperativa.

Essa ideia de unir resultados econômicos, sociais e ambientais não é nova. Foi criada por John Elkington na década de 1990, com o “Triple Bottom Line”, que trouxe uma nova estrutura para medir o desempenho das empresas e organizações. Atualmente, o conceito evoluiu e já se fala da sigla “EESG”, baseado em quatro pilares: econômico, ambiental, social e de governança.

E, como CFO de uma multinacional com vasta presença no Brasil, tenho a plena convicção de que esse modo de pensar, se não é a solução para tudo, é o melhor indicativo de para onde devemos caminhar.

Mas por que se preocupar com isso? Aqui cabem muitas respostas e gosto de começar pelo que parece mais palpável ao nosso setor: se a sociedade ao redor de onde a empresa está localizada melhora, a região em que estamos inseridos se desenvolve e, por consequência, a empresa sente também as benfeitorias.

Aqui cabe um exemplo: em Monte Mor (SP), onde está uma das nossas fábricas no Brasil, experimentamos uma ferramenta poderosa, o Pacto dos Três Setores. A Tetra Pak participa de reuniões com representantes do governo local, da sociedade civil e das empresas da região para discutir oportunidades e necessidades para cada um. Uma das prioridades do grupo foi apoiar o desenvolvimento da coleta seletiva no município, com ações da Tetra Pak, através do projeto Cidades Circulares. Outro exemplo é o desenvolvimento de jovens na região, ação realizada em parceria com a ONG Novo Dia, por meio da qual temos ajudado na empregabilidade.

Em nossa experiência, quando falamos em proteger o que é bom, sabemos que isso inclui as pessoas, dentro ou fora de nossos muros. Por isso, sou um dos incentivadores na empresa da prática do voluntariado, que começamos a estruturar em 2020 e hoje já tem mais de 200 funcionários envolvidos no comitê a.gente, o grupo de responsabilidade social da empresa que cresce ano a ano.

Por meio dele, esses funcionários, voluntariamente, investem tempo e conhecimento para ajudar a tirar do papel projetos socioambientais espalhados pelo Brasil todo. O intuito é fazer a diferença e construir ações sólidas que melhoram a qualidade de vida da população nas comunidades onde a empresa atua.

E essa troca é uma via de mão dupla: com engajamento genuíno nessas ações, elas também trazem satisfação profissional e pessoal para os nossos colaboradores, perceptível no dia a dia, com desenvolvimento de novas habilidades e melhores ações. Ganho de produtividade na veia. Aqui, acreditamos na importância de gerar valor para os funcionários por meio de um ambiente colaborativo, que contribua para o seu desenvolvimento profissional e social, gerando impacto naqueles que doam seu tempo, esforço e conhecimento para os projetos.

Com todos esses resultados, é natural que você tenha ainda valorização da sua marca e aumento de reputação, já que os próprios funcionários se orgulham do que estão fazendo, e com razão. Aqui, estamos desenvolvendo pessoas com o lado humano aflorado, é o desenvolvimento humanístico, que busca promover todas as dimensões do indivíduo.

E tem dado tão certo que o Brasil foi exemplo para a Tetra Pak ao redor do mundo por meio de uma Política de Voluntariado, com o objetivo de estruturar e expandir comitês dessa natureza. Sempre reforçando o direito dos funcionários de utilizarem horas de trabalho para se dedicarem a essas atividades.  

A sustentabilidade social pode ser um caminho a ser trilhado de mãos dadas com os outros setores da empresa, nesse caso, o financeiro. É aqui que podemos ter um resultado que vai além dos números, mas também carregado de ganhos pessoais, profissionais e sociais. Não há dúvida que, no fim do dia, o “bottom line” será o melhor possível.

*Tiago Cardoso é CFO da Tetra Pak Brasil