Por Bruna Correnti, Diretora de Business Transformation, CSP e D&A (Data & Analytics) da Kibon
Vivemos em um tempo em que a transformação não é mais uma escolha — é uma exigência cada vez mais latente de um mercado sedento pelo novo a todo instante, com pedidos de mudanças que chegam sem avisar. O ritmo das transformações tecnológicas, sociais e de consumo nunca foi tão intenso, e empresas que não se adaptam correm o risco de perder conexão com seu público, competitividade no mercado e, principalmente, sua identidade.
Mas existe um ponto de atenção esquecido em meio ao turbilhão de novos projetos que dominam as agendas dos times: transformação bem-sucedida não significa ruptura total com a alma do negócio. Transformar, sim. Mas com consciência, respeito à essência e um olhar estratégico para o que nos trouxe até aqui. Na Kibon, estamos vivendo essa jornada — e quero compartilhar um pouco do que aprendemos.
Primeiro passo: cuidado com os impactos na cultura organizacional
Estudos da McKinsey e da Accenture indicam que mais de 70% das transformações organizacionais falham por falta de alinhamento com a cultura da empresa. É um dado alarmante, mas que revela uma verdade fundamental: não existe transformação sem pessoas. E por que digo isso? Pois em meio a tantos projetos, é essencial não tirarmos de vista as pessoas estão na linha de frente das implementações e que serão impactadas diretamente pelas mudanças na cultura de trabalho. E não existe engajamento verdadeiro sem conexão com a cultura. Transformações que ignoram a cultura organizacional são percebidas como imposições, e imposições, por mais bem-intencionadas que sejam, geram resistência.
Neste momento, o papel do gestor é imprescindível para garantir a clareza nas comunicações e a saudabilidade dos novos processos, prezando por manter a identidade da marca com seus consumidores, parceiros e, principalmente, colaboradores. Escutar suas dores e anseios comuns pela nova fase faz com que o ambiente se torne acolhedor. Com momentos de troca e diálogo, eles são capazes de esclarecer todas as dúvidas das equipes e transmitir firmeza para que todos saibam das mudanças e se sintam seguros quanto a elas.
Segundo passo: a importância da autenticidade e da coerência
Em um cenário global onde consumidores buscam marcas com propósito e coerência, manter um “norte moral” claro é mais importante do que nunca. Marcas com propósito definido são mais resilientes e crescem mais rápido. Em tempos de mudança acelerada, coerência não é sinônimo de rigidez. Ao contrário — ela permite que marcas inovem com responsabilidade, sem perder a confiança do consumidor. Na prática, isso significa adaptar-se ao novo mantendo-se fiel ao que a marca representa. Significa saber dizer “sim” às tendências certas e “não” às modas passageiras que não conversam com o DNA da empresa.
Empresas que transformam com sucesso são aquelas que entendem o passado como alicerce, preservando seus princípios e adaptando processos e comportamentos sem diluir sua essência. Aqui na Kibon, ao longo dos anos, nós evoluímos em diversos aspectos enquanto companhia: desde ambiente interno, processos, equipes e tecnologias, até claro, as transformações para o mercado refletida nos produtos. Em todas elas, buscamos sempre manter o nosso DNA. Chamamos isso de evolução com coerência.
Os consumidores estão cada vez mais atentos à autenticidade das marcas. Em um mundo de abundância de opções, eles escolhem não só o melhor produto, mas a marca em que confiam. Nesse contexto, mudanças bruscas e desconectadas da essência da marca podem ser percebidas como oportunismo. Geram ruído, desconfiança e perda de relevância. Autenticidade não se constrói com slogans, mas se constrói com consistência, escuta ativa e ações coerentes com os valores declarados. Por isso, transformar com autenticidade significa levar o consumidor junto nessa jornada — e não apenas comunicar depois que tudo mudou.

Terceiro passo: partir para a inovação
A EY aponta que até 2030, 40% do crescimento em bens de consumo virá de categorias que ainda não existem ou estão em estágio emergente. Isso impõe uma pergunta inevitável: como inovar sem abrir mão daquilo que nos torna únicos? Na Kibon, temos trabalhado com o conceito de “organização ambidestra”. Em outras palavras, operamos com dois focos simultâneos: um olhar de curto prazo, focado em performance e eficiência; e um olhar de longo prazo, voltado à consistência, inovação e construção de capacidades futuras. Essa ambidestria exige estruturas, times e rituais distintos, mas profundamente conectados. Inovar com responsabilidade é isso: experimentar em novos territórios sem romper com o fio condutor que sustenta a marca.
Com isso em vista, é hora de dobrar as mangas e partir para as transformações! Mas aqui vale um disclaimer importante: nem toda transformação precisa acontecer de uma vez. A McKinsey propõe um modelo baseado em ondas sucessivas: diagnóstico, construção, escalada e sustentação. Isso ajuda a reduzir a ansiedade, aumentar o engajamento e garantir consistência nos resultados. Pressa, muitas vezes, é inimiga da clareza. E quando tudo vira prioridade, perdemos o foco. Por isso, acredito em três princípios fundamentais para transformar com consistência: honrar a história, deixando claro o que será preservado; comunicar com clareza, explicando o porquê e o para onde; e construir junto, envolvendo pessoas em todos os níveis. Na prática, isso significa dar protagonismo aos times, criar espaços seguros para escuta e ter coragem de ajustar rotas quando necessário.

Case Kibon
Com mais de 80 anos de história e uma base de clientes que hoje ultrapassa mais de 100 mil estabelecimentos, certamente nosso negócio precisou passar por diversas transformações para se manter tão relevante como é hoje. Conseguimos nos manter como uma das marcas mais lembradas no mercado, graças às mudanças que trouxeram diversos benefícios não só ao consumidor, mas a todos os stakeholders.
Em 2025, iniciamos na Kibon uma nova reestruturação do nosso modelo de Go-to-Market com ainda mais foco no ponto de venda e nas necessidades do cliente. Começamos com um processo robusto de escuta ativa, ouvindo nossos times, parceiros e clientes, propondo novas melhorias ferramentais e focando na digitalização como meio, integrando mais dados e acelerando decisões, sem renunciar ao toque humano.
Nós também estruturamos (e sustentamos!) um modelo de atendimento que hoje permite ao cliente, em média, ter seu pedido em mãos em até 2 dias. Só conseguimos chegar neste nível de excelência porque seguimos com coerência e escuta. Percebemos, também, uma oportunidade enorme de melhoria do atendimento de nossos clientes nos últimos anos por meio da Kiki, nossa assistente virtual – não somente por avançar na digitalização e permitir um pedido 100% via Whatsapp, mas também por permitir que a equipe de vendas possa focar em entender melhor as necessidades dos clientes, trabalhar na melhor execução no ponto de venda e outras frentes.
A jornada ainda está em curso, mas os aprendizados são valiosos: escutar de verdade reduz erros, aumenta engajamento e garante que a transformação aconteça com consistência e alma. Transformar negócios em tempos de mudança acelerada é, acima de tudo, um exercício de liderança consciente. É saber equilibrar inovação e essência, velocidade e estratégia, performance e cultura. Não existe fórmula pronta, mas há princípios que fazem a diferença: construção coletiva com as pessoas certas, clareza de propósito e coerência com os valores da marca. A transformação é inevitável, mas a forma como conduzimos esse processo pode ser — e deve ser — um diferencial competitivo. Que possamos seguir evoluindo, com coragem, consistência e conexão com o que realmente importa.

Autora: Bruna Correnti, Diretora de Business Transformation, CSP e D&A (Data & Analytics) da Kibon