*Por Vinicius Soares, Vice-Presidente e General Manager LATAM, da Sealed Air

A dinâmica da sociedade brasileira está em constante mutação, e no cerne dessa transformação reside a reconfiguração das famílias. Essa evolução demográfica e social reverbera diretamente nos hábitos de consumo, moldando as expectativas dos clientes ao buscarem alimentos nas gôndolas e, consequentemente, nas práticas da indústria. Hoje, mais do que nunca, os consumidores anseiam por uma percepção tangível do valor em suas escolhas, traduzida em embalagens que ofereçam transparência, conveniência e alinhamento com seus valores.

É nesse contexto que as embalagens flexíveis emergem não apenas como uma tendência estética, mas como uma força motriz capaz de redefinir a indústria alimentícia, impulsionando um futuro em que inovação, eficiência e responsabilidade ambiental convergem para atender às novas demandas dos lares brasileiros.

Esta transformação, já observada no mercado regional, está incentivando a adoção desse tipo de embalagem por grandes marcas que buscam otimizar seus processos, reduzir riscos de contaminação e diminuir consideravelmente o desperdício. Além disso, a otimização logística inerente às embalagens flexíveis, com a sua menor demanda por espaço de armazenamento e transporte, é outro benefício essencial que se traduz em ganhos de eficiência e competitividade para toda a cadeia.

Preferências do consumidor brasileiro

O consumidor brasileiro valoriza poder ver o alimento antes da compra. Este é um fato comprovado por pesquisas realizadas pela Mintel em 2019 e pela ABRE (Associação Brasileira de Embalagem) em 2021, que apontam que a maioria dos clientes apreciam embalagens transparentes que permitem ver o produto envasado, pois sua avaliação em relação à qualidade e frescor é baseada na aparência do item.

De igual modo, culturalmente há uma certa desconfiança em relação a produtos totalmente ocultos – as pessoas gostam de poder observar os detalhes, cor e até sentir a textura, quando possível, do que estão adquirindo, principalmente carnes, pescados e queijos. Neste cenário, em que análise sensorial é crucial, as embalagens flexíveis conseguem entregar uma excelente experiência.

Embalagens a vácuo com visibilidade para carnes, filmes com rótulo “janela” que mostram o interior do pacote e embalagens com tecnologia Skin, por exemplo, tendem a atrair mais a atenção do comprador. Assim, a embalagem flexível atua como vitrine do produto, garantindo destaque no ponto de venda e, com isso, o giro tende a ser mais rápido, minimizando desperdícios. Algo especialmente apreciado nos segmentos premium, nos quais a aparência agrega valor e a perda gera grandes impactos.

Inovação alinhada à sustentabilidade

Além de serem uma gama de soluções perfeitamente alinhadas às novas demandas do consumidor e hábitos culturalmente estabelecidos, as embalagens flexíveis também se mostram como uma opção mais sustentável. Por utilizarem menos material e serem mais leves, menos recursos na produção e geram menor emissão de carbono no transporte​.

Estudos de análise de ciclo de vida desse tipo de embalagem, realizados pela Flexible Packaging Association em 2019, confirmam essa diferença: por exemplo, um stand-up pouch flexível para alimento pode ter uma pegada muito menor quando comparado a um recipiente rígido equivalente. Em um caso comparativo, o pote rígido de PET apresentou emissões de gases de efeito estufa 726% maiores, e consumiu 504% mais combustível fóssil do que a embalagem flexível, devido ao maior peso e processo produtivo mais intensivo​.

Os ganhos sustentáveis também se refletem na redução de desperdícios através do consumo total do produto envasado, o que tem sido essencial para as embalagens flexíveis ganharem espaço em segmentos antes dominados por embalagens rígidas. Um exemplo é a migração para refis flexíveis acoplados a dispensers para ketchup, maionese e molhos que ocorre em grandes redes de fast-food. Uma solução que garante aproveitamento de 98% do produto.

Já na cadeia de proteínas os ganhos também são notáveis, como o caso do Laticínio Nacon, que ao adotar a embalagem Skin com base cartonada aumentou em 60% o volume de vendas de sua tábua de queijos e alcançou vida útil de 150 dias. Essa inovação, que também atende às demandas por conveniência, praticidade e transparência, demonstra como soluções sustentáveis podem ser economicamente viáveis e impulsionar o crescimento.

Além dos benefícios claros em comparação a soluções de envase rígido, no que tange à sustentabilidade, já existem estruturas mono-material para embalagens flexíveis que não comprometem a barreira de proteção do alimento, ou sua qualidade, e podem ser recicladas mais facilmente. Outra vertente de inovação, esta em desenvolvimento, contempla materiais compostáveis, que se decompõem em condições adequadas sem gerar microplásticos.

Embora a reciclabilidade de embalagens flexíveis ainda enfrente desafios no Brasil, o seu futuro é promissor. O setor industrial, juntamente com associações como a Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), investe em estudos para impulsionar a economia circular. Paralelamente, a evolução de tecnologias de delaminação, desmetalização e remoção de tinta de filmes plásticos abre caminho para a reciclagem em larga escala de embalagens flexíveis multimaterial.

Logística e cadeia produtiva

Os ganhos das embalagens flexíveis também se traduzem nas operações, conferindo maior agilidade ao processo produtivo. O envase contínuo, com bobinas alimentando máquinas (form-fill-seal), contrasta com a lentidão do envase em embalagens rígidas, que requer o posicionamento individual de cada item. Essa eficiência operacional resulta na redução do consumo energético da planta e da otimização de mão de obra na linha de embalagem. Adicionalmente, para o varejo e food service, a entrega de produtos fracionados e selados na origem elimina etapas de manuseio e reembalagem no ponto de venda, aumentando a segurança e a conveniência para o consumidor final.

Além disso, o potencial para redução de custos logísticos é também evidente. Embalagens flexíveis ocupam menos espaço e adicionam peso mínimo ao produto, tornando o transporte, armazenagem e estoque mais eficientes. Formatos flexíveis podem ser acomodados de forma mais compacta em caixas e paletes, aproveitando melhor cada centímetro do veículo de carga e estoque.

Em suma, a ascensão das embalagens flexíveis no cenário da indústria alimentícia brasileira representa uma resposta multifacetada às dinâmicas em constante evolução da sociedade e às expectativas dos consumidores. Ao aliarem a transparência e a conveniência demandadas pelos hábitos modernos com inovações que impulsionam a sustentabilidade em toda a cadeia de valor – desde a redução do uso de recursos e emissões até o potencial para uma economia circular –, as embalagens flexíveis se consolidam como uma solução estratégica para o presente e o futuro.

Os ganhos em eficiência logística e a otimização da produção reforçam ainda mais o seu valor intrínseco para a indústria, pavimentando o caminho para um setor mais competitivo e alinhado com as demandas de um cliente final que busca, cada vez mais, valor e experiência em suas escolhas.

Vinicius Soares, é Vice-Presidente e General Manager LATAM, da Sealed Air Corporation (NYSE: SEE), líder global em soluções de embalagens que integram materiais, automação, equipamentos e serviços sustentáveis ​​e de alto desempenho. A empresa fornece soluções para uma ampla gama de mercados incluindo proteínas frescas, alimentos, fluídos e líquidos, medicina e ciências biológicas. A Sealed Air é detentora de soluções reconhecidas mundialmente como a marca de embalagens para alimentos CRYOVAC®.