Muito além de proteger o produto, a embalagem atua como um dos mais poderosos estímulos de consumo. Cores, formas, texturas, tipografia, embalagens inteligentes e até selos de certificação moldam como a embalagem influencia o apetite e direcionam decisões de compra. 

Ao despertar emoções e expectativas de sabor ou saudabilidade, o design de embalagem e apetite se transforma em ferramenta estratégica, capaz de criar conexões rápidas e inconscientes entre consumidores e marcas.

O apetite começa pelos olhos 

O ditado se confirma na prática: a forma como os alimentos são apresentados influencia diretamente a vontade de consumir. 

Estudos em neurociência e comportamento do consumidor mostram como a embalagem influencia o apetite, acionando gatilhos emocionais e cognitivos que moldam escolhas, percepções de sabor e até a disposição a pagar mais caro por um produto.

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Como o cérebro reage a estímulos da embalagem

Uma pesquisa publicada na PubMed Central demonstra que embalagens atrativas para alimentos ativam áreas do cérebro associadas ao prazer e à recompensa. Essa resposta neurológica aumenta o tempo de atenção, a preferência de compra e pode levar o consumidor a escolher itens mais caros ou de marcas menos conhecidas.

Outro estudo aponta que mudanças simples no design — como cores, tipografia e ícones — alteram a percepção de saúde e a atratividade dos produtos. Esse efeito mostra a força do marketing sensorial na embalagem e explica como ela desperta fome mesmo sem contato direto com o alimento.

A percepção inconsciente da embalagem

O impacto da embalagem vai além do que se vê conscientemente. Trabalhos científicos apontam que estímulos visuais e táteis geram reações automáticas que moldam a experiência e a decisão de compra. 

A sensação ao tocar ou visualizar determinados acabamentos pode produzir uma excitação emocional que acelera escolhas no ponto de venda, reforçando o papel da percepção inconsciente da embalagem.

Esse efeito ajuda a entender por que a aparência da embalagem e apetite estão ligados a decisões rápidas e muitas vezes impulsivas. As pessoas não apenas compram o alimento — compram a promessa de sabor, frescor e prazer transmitida pelo design.

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Cores e formas que despertam apetite 

As cores exercem um papel direto na forma como a embalagem influencia o apetite. Tons quentes como vermelho, laranja e amarelo tendem a estimular a fome e a impulsividade, enquanto cores frias, como azul e verde, são associadas à confiança, frescor e saúde. 

A imagem mostra uma prateleira de supermercado bem organizada, repleta de diferentes tipos de leites e bebidas vegetais refrigeradas. Os produtos estão distribuídos em várias fileiras horizontais e agrupados por marca ou tipo.

Essa relação é amplamente explorada no design, orientando decisões que vão muito além da estética para impactar o desejo por comida e a percepção inconsciente da embalagem.

Psicologia das cores aplicada 

  • Vermelho: Além de estimular o apetite, reduz o tempo de deliberação de compra e incentiva decisões por impulso. É associado a intensidade de sabor e dinamismo, por isso domina embalagens de snacks e fast food.
  • Verde: Comunica frescor, saúde e sustentabilidade. Quando usado de forma autêntica, reforça a ideia de naturalidade; em excesso ou de forma incoerente, pode passar a impressão de falta de autenticidade sustentável.
  • Azul: Transmite confiança, mas também atua como supressor de apetite, por isso raramente aparece em alimentos sólidos. É eficaz em bebidas, reforçando a percepção de pureza e hidratação.
  • Branco: Funciona como base neutra que destaca ingredientes naturais e passa sensação de limpeza. É recorrente em categorias premium e gourmet, que querem enfatizar simplicidade e autenticidade.
  • Laranja: Estimula associações de sabor marcante e familiaridade, funcionando bem em embalagens de sucos, snacks e alimentos de conveniência que apelam à impulsividade.
A imagem mostra uma prateleira de supermercado com diversas embalagens de salgadinhos e batatas fritas, em sua maioria do tipo chips em tubo cilíndrico, como as famosas Pringles e Mister Potato. A imagem foca nas cores e nas formas dos produtos, destacando como o design visual influencia o apetite.
  • Amarelo: evoca felicidade e rapidez de processamento visual, sendo eficaz para atrair públicos jovens. Em conjunto com o vermelho, forma uma dupla clássica para estimular apetite e urgência de consumo.

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Impacto das cores das embalagens no setor de café especial 

Pesquisas recentes sobre como a embalagem influencia o apetite e molda expectativas sensoriais demonstram que, no café especial, cada cor ativa associações distintas no consumidor. 

Um experimento mostrou que o rosa desperta expectativa de doçura e notas florais ou de berries, enquanto o amarelo remete a acidez e frescor cítrico. Já os tons marrom e preto estão fortemente associados a sabores mais intensos, amargos e com aroma pronunciado, reforçando a ideia de torra escura. 

O verde carrega a noção de naturalidade e apelo orgânico, sendo ligado à sustentabilidade, e o azul, quando aplicado em alta saturação, transmite percepção de intensidade e corpo.

Segundo estudo publicado na Frontiers in Nutrition, há ainda uma interação entre o tipo de alimento e a cor da embalagem: cores quentes, como vermelho e amarelo, elevam a intenção de compra em produtos indulgentes, enquanto cores frias, como azul e verde, aumentam essa intenção em alimentos saudáveis. 

No caso do café, a escolha da paleta cromática pode comunicar desde atributos de prazer imediato até valores ligados à saúde e à sustentabilidade.

Essa relação confirma que cores da embalagem e desejo por comida caminham lado a lado, orientando expectativas de sabor, corpo e até de qualidade percebida antes mesmo do primeiro gole.

Design emocional e formatos que remetem à saciedade

A forma e o layout da embalagem também exercem influência direta sobre a percepção do consumidor. Estudos mostram que curvas e formas arredondadas são visualmente preferidas, transmitindo sensações positivas e associadas a maior saciedade. 

No caso de chocolates, por exemplo, embalagens com linhas curvas reforçam a percepção de cremosidade, enquanto elementos visuais como cor e tipografia completam essa experiência sensorial.

A imagem mostra uma caixa elegante de bombons finos em uma apresentação sofisticada, perfeita para presente.

O uso de texturas táteis também é capaz de despertar associações: superfícies aveludadas sugerem suavidade e indulgência, enquanto relevos e padrões mais firmes remetem a crocância e frescor. 

Além disso, layouts que simulam vapor, gotas ou brilho podem comunicar temperatura, aroma e sabor antes mesmo da abertura do produto.

Elemento de Embalagem

Sensação Evocada / Percepção Sugerida

Formas arredondadas (curvas)

Cremoso, doce, suave, saciedade

Formas angulares

Amargo, ácido, intenso, crocante

Cores quentes (vermelho, amarelo)

Doçura, cremosidade, calor, indulgência

Cores frias (azul, verde)

Frescor, leveza, saúde, sabor mais suave

Alta saturação / escuro

Intensidade, robustez de sabor

Baixa saturação / tons claros

Delicadeza, qualidade sutil, naturalidade

Textura tátil suave

Sofisticação, luxo, suavidade sensorial

Embalagem pesada

Sabor intenso, qualidade percebida, disposição a pagar mais

Como o design de embalagem guia escolhas alimentares 

O design de embalagem não atua apenas na estética: ele orienta a percepção de sabor, saúde e prazer antes da primeira mordida. 

Tipografia, imagens, layout e frases de efeito são capazes de criar vínculos emocionais, guiar o olhar do consumidor e reforçar atributos de saudabilidade ou indulgência. 

Selos de certificação, por sua vez, acrescentam credibilidade, enquanto slogans despertam associações imediatas ligadas ao prazer ou à qualidade nutricional.

Elementos visuais e psicológicos que influenciam a decisão

Estudos em psicologia do consumo mostram que fontes com alta cognitive fluency — ou seja, fáceis de ler — aumentam a confiança e a percepção de qualidade. Já tipografias tematizadas, como o caso do Chocapic da Nestlé, que simula pedaços de chocolate, reforçam a conexão emocional e a memorabilidade. 

Da mesma forma, mascotes e imagens despertam empatia e fixam a marca na mente, enquanto a organização visual (simetria, hierarquia de informações, centralização) acelera a interpretação e facilita a decisão de compra.

A imagem mostra um pacote de M&M’s amarelo, versão Peanut (amendoim), do tipo Party Size (tamanho festa), parcialmente aberto com várias unidades dos confeitos coloridos espalhadas sobre uma superfície clara.

No campo da credibilidade, selos de saudabilidade e certificações sustentáveis, como o Eureciclo em embalagens verdes, funcionam como indicadores claros de práticas responsáveis, fortalecendo a confiança e a fidelidade. 

Já slogans como “feito na hora” ou “delicioso” estão ligados à embalagem e percepção de sabor, evocando prazer imediato e estimulando decisões impulsivas no ponto de venda.

Elemento visual

Impacto na decisão do consumidor

Tipografia fluida e legível

Gera confiança, transmite qualidade, fortalece identidade

Fontes tematizadas

Criam conexão emocional, despertam memórias, aumentam lembrança da marca

Imagens e mascotes

Capturam atenção, evocam emoção, reforçam reconhecimento

Layout e orientação

Simetria e hierarquia facilitam leitura e aceleram a escolha

Slogans e selos

Moldam expectativas de prazer ou de saudabilidade; aumentam credibilidade

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Marcas que estimulam o apetite com o design da embalagem 

O design de embalagem e apetite tem se tornado um dos principais diferenciais competitivos no setor de alimentos. As marcas buscam explorar como a embalagem desperta fome, utilizando cores, texturas, imagens e layouts que ampliam a percepção de sabor e estimulam escolhas rápidas no ponto de venda. 

Essa estratégia está diretamente ligada ao marketing sensorial na embalagem, que combina estímulos visuais com gatilhos emocionais para gerar desejo e prazer no consumo.

Alimenta – Reposicionamento visual com apelo sensorial

A marca mineira Alimenta realizou em 2024 um reposicionamento de identidade, apostando em embalagens que exploram a percepção inconsciente da embalagem como fator de decisão. 

Os novos rótulos trazem imagens mais intensas dos alimentos e acabamento que valoriza texturas, reforçando como a embalagem influencia o apetite. 

A imagem mostra quatro embalagens de hambúrgueres da marca Alimenta, cada uma com uma identidade visual distinta, embora sigam um padrão de layout semelhante. As embalagens são posicionadas em um fundo branco, com os produtos ligeiramente inclinados para frente, destacando seus nomes e elementos visuais principais.

Abra Cadabra – Embalagem que comunica indulgência saudável

A marca de cereais matinais Abra Cadabra mostra como o design emocional pode equilibrar saúde e prazer. Suas embalagens apresentam cores e elementos gráficos que remetem a indulgência, mas sem abrir mão do apelo saudável. 

O layout comunica que os cereais são ricos em proteína e livres de açúcar adicionado, mas ao mesmo tempo cria uma aparência da embalagem e apetite ligada ao sabor e à satisfação. 

Essa abordagem reforça a influência do impacto das cores no apetite e como o design consegue transmitir sensações positivas ligadas ao prazer de comer bem.

A imagem mostra quatro embalagens vibrantes da linha de cereais "ABRACADABRA – o cereal sem cereal", dispostas lado a lado sobre um fundo azul. As embalagens usam cores intensas e elementos gráficos lúdicos para atrair a atenção e transmitir uma sensação de magia, diversão e sabor.

Nestlé – Retorno da marca Surpresa com embalagem nostálgica

Em janeiro de 2025, a Nestlé anunciou a volta do chocolate Surpresa, desta vez em formato de barra. 

A estratégia aposta no poder da memória afetiva para reforçar como a embalagem influencia na compra, trazendo de volta os cards colecionáveis — agora em versão digital — com animais da fauna brasileira. 

A imagem mostra três embalagens de chocolate da linha "Nestlé Surpresa", um produto clássico da Nestlé que foi relançado com foco em experiência educativa e visual, voltada principalmente ao público infantil e nostálgico.

A nostalgia somada à narrativa de sustentabilidade conecta diferentes gerações, mostrando como a embalagem e percepção de sabor vão além do alimento, criando vínculos emocionais e decisões impulsivas no ponto de venda.