Quando se fala no futuro de qualquer indústria, quase sempre as palavras atreladas às inovações são inteligência artificial, machine learning, big data, entre outras relacionadas à nova economia. Mas no setor de alimentos e bebidas o futuro pode estar bastante relacionado a uma expressão que soa como antagonista da inovação: resgate da tradição. 

Sócia-diretora e líder do segmento de alimentos e bebidas da KPMG no Brasil, Adriana Stecca diz que as novas tecnologias serão fundamentais, mas que a volta ao passado pode ser a grande notícia sobre o futuro da indústria de alimentos e bebidas. 

“Sobre as tendências a longo prazo, a indústria de alimentos e bebidas destaca a necessidade de voltar a consumir produtos tradicionais que remetem ao ambiente familiar e retoma memórias do passado”, diz. 

“O setor está trabalhando para trazer marcas e produtos que foram sucesso antigamente e estão retornando para resgatar a memória afetiva do consumidor”, acrescenta Stecca.

Para a especialista, uma das tendências em destaque é a questão da necessidade de humanização. “A tecnologia ganhou destaque e vai continuar crescendo para ampliar a escala de contato da indústria com o consumidor final, mas os consumidores estão buscando um contato pessoal e uma abordagem direta com as marcas”, complementa a especialista.

Nesse cenário, a tecnologia será aplicada no lançamento de novos produtos, além de promover a eficiência operacional e a otimização da distribuição das mercadorias. Por fim, o emprego de novas soluções em embalagens com novos materiais, mais resistentes, promete oferecer um shelf-life alongado para esses novos/velhos produtos e outros mais já disponíveis no mercado ou em lançamento. 

Menor desembolso, porções menores 

Umas das tendências para o curto prazo será o foco em bens de primeira necessidade, hábitos de consumo mais focados em menor desembolso, consumo de porções menores, busca por produtos saudáveis, priorizando qualidade à quantidade.

“Os hortifrutis devem ter destaque, pois associam saudabilidade e menor desembolso, frutas, verduras, e alimentos ricos em proteínas de baixo custo”, afirma a especialista. 

Mercados x Restaurantes

Neste ano, o varejo alimentar terá uma presença maior do que o serviço de alimentação. É o que diz a representante da KPMG. “Diante de um cenário econômico desafiador, os bares e restaurantes poderão sentir os efeitos dessa mudança de comportamento do consumidor”. 

Na visão de Stecca, as famílias irão optar por consumir produtos em casa, o que elevará a representatividade do varejo alimentício. “Dessa forma, os bares e restaurantes terão que buscar alternativas para manter o fluxo no estabelecimento e devem continuar crescendo no delivery.”

Evolução do setor em números

Sobre o aspecto da evolução, o setor de alimentos e bebidas segue em um ritmo crescente desde 2017. Houve quedas em 2018, ano em que ocorreu a crise, depois o setor retomou aos poucos em 2019. No ano de 2020, o segmento teve um crescimento mais expressivo e outra queda em 2021. “A partir de 2022, a indústria segue uma rampa de crescimento”, diz Stecca.

Neste ano, a tendência é um avanço projetado de 2,4% em relação à produção de alimentos e bebidas na comparação com 2024. “Há fortes investimentos da indústria de alimentos quanto em bebidas para aumentar o parque fabril e expandir toda a distribuição de produtos”, acrescenta a especialista. 

Expansão até 2026

A indústria de alimentos tem anunciado investimentos vultosos, que iniciaram em 2023 e, provavelmente, seguirão até 2026. A maior parte desses investimentos está focada na construção de novas fábricas, ampliação ou modernização de plantas, inclusive, com a inserção de novas tecnologias para aumentar a capacidade, velocidade e otimizar a produtividade.

“Essa capacidade produtiva vai conseguir responder a demanda que está se desenhando para os próximos anos”, avalia a sócia da KPMG.

Distribuição e produtividade

O grande desafio das empresas brasileiras é a distribuição, por ser um país extenso, geograficamente, e com grandes diferenças. 

Já sobre a produtividade, há investimentos sendo empregados para que haja melhorias significativas na produção. Nesse sentido, “as companhias estão se mobilizando e montando planos dentro dessa lógica, tanto na logística quanto no planejamento”, diz Stecca. 

“Há um cenário se desenhando para conectar a produtividade à distribuição. Esse projeto é um dos focos das companhias brasileiras para este ano”, finaliza.