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A indústria 4.0 e a economia circular

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A associação entre a tecnologia da Indústria 4.0 e a Economia Circular é uma questão de sobrevivência para as organizações

Segundo a ONU e relatório da Circle Economy1, somente 9% da economia global e circular, o que na prática diz que das 92,8 bilhões de toneladas de resíduos que geramos em nossas indústrias e nas nossas casas, menos de 10% voltam para a cadeia produtiva, ou, em outras palavras, mais de 80 bilhões de toneladas de plásticos, combustíveis fósseis, biomassa etc. são destinados de forma inadequada no meio ambiente prejudicando a qualidade ambiental dos diversos ecossistemas e, consequentemente, afetando o equilíbrio do planeta. Mas não precisamos ficar preocupados porque a culpa toda está hoje nos canudos de plástico que estão sumindo das gôndolas dos supermercados e dos restaurantes e lanchonetes.

Logicamente que a produção e o consumo são impulsionadores da economia e substituir insumos nocivos ao meio ambiente é sempre desejável. Entretanto, produzir e consumir de maneira responsável é um ato de cidadania acima de tudo, e envolve novas formas de pensar produtos e serviços, inovando em soluções de menor impacto ambiental e maior valor social. Nesse sentido, surge o conceito de negócios circulares, pensados para aumentar a vida dos materiais e produtos ao longo de vários “ciclos de uso” e a partir de soluções inteligentes, inovadoras e regenerativas, em contraponto com os convencionais modelos lineares “extrair, transformar, descartar”2.

No âmbito doméstico, cresce o número de consumidores que cobram atitudes diferenciadas e sobretudo, na perspectiva da economia circular, optam por produtos e serviços sustentáveis que se diferenciam quanto à responsabilidade socioambiental, desde a fabricação até a destinação final das embalagens pós consumo. Assim, os consumidores têm cobrado inclusive a rastreabilidade das ações divulgadas pelas indústrias, visando evitar o chamado greenwashing, que reflete o oportunismo de organizações que se apropriam indevidamente de virtudes ambientalistas.

No que tange ao Estado, é no mínimo triste verificarmos que temos ainda três mil lixões no país, poluindo solo e águas a despeito de sua erradicação prevista pela Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010. A cidade de São Paulo reciclou em 2018 somente 7% das 76 mil toneladas de resíduos coletadas3 enquanto países como o Japão fazem-se exemplo, as Olimpíadas de 2020 em Tóquio terão suas medalhas cunhadas com 32 Kg de ouro, 3.5 T de prata e 2.5 T de bronze coletadas de 78 toneladas de eletrônicos doados aos organizadores4.

Na indústria, a história caminha no mesmo sentido, e grande parte dos resíduos industriais ainda são destinados a aterros sanitários e as empresas tem dificuldade em recuperar sobretudo suas embalagens. As grandes organizações e as efetivamente comprometidas com o meio ambiente têm agido não somente no sentido de destinar corretamente resíduos, subprodutos e produtos, como também em adotar soluções corretas no caminho da economia circular. As embalagens estão aos poucos assumindo um papel de protagonistas neste processo, visto que após o consumo dos produtos em geral são descartadas.

São vários os exemplos de iniciativas empresariais que demonstram o pensamento sustentável voltado à economia circular de embalagens pós consumo, assim como os da indústria de bebidas, que promovem a coleta seletiva e regionalizada de vidro em bares e restaurantes. Outra ação divulga em curso a importância da devolução de embalagens para a reinserção na cadeia produtiva, oferecendo cupons de descontos para os consumidores que retornam as garrafas de vidro ou plástico em pontos de entrega voluntária (PEV).

Uma solução difundida em países de primeiro mundo e que se inicia no país, visa assegurar o ganho de escala em logística reversa de embalagens e se mostra eficiente é o sistema de aquisição de Certificados de Reciclagem de Embalagens (CRE), emitidos com base na comprovação da comercialização dos materiais recicláveis por meio de notas fiscais. Nesse processo participa a indústria como geradora, cooperativas de reciclagem e operadores privados, sendo auditado por entidades certificadoras que garantem a rastreabilidade de todas as suas etapas.

A indústria 4.0 estimulará a produção cada vez maior de componentes eletrônicos que devem integrar produtos, equipamentos, vestimentas e tudo o mais que pudermos imaginar. Há até pessoas com chips embutidos nos pulsos, que servem tanto de rastreadores quanto como sensores eletrônicos para abrir portas ou executar outras tarefas. Estima-se que existirá milhares de computadores (grande parte do tamanho de grãos ou chips) numa escala de produção de 25 bilhões ao ano, sendo que nos próximos anos deveremos ter cerca de mil computadores para cada pessoa no planeta5.

A transformação digital, embora pareça mais “limpa” que as tecnologias antecessoras, gerará um legado ainda mais nocivo e difícil de ser controlado se não trabalhado com sabedoria. Assim, a economia circular surge como uma alternativa atraente para redefinir a noção de desenvolvimento com foco em benefícios para toda a sociedade, envolvendo o pensamento “lean” ao eliminar ou reduzir a geração de desperdícios (resíduos) na atividade econômica. Um caso típico nesse sentido é o uso do modelo circular de transição energética para fontes renováveis, que permite a construção de capital econômico, natural e social, mantendo produtos e materiais em ciclos de uso e regenerando os sistemas naturais.

A associação da Indústria 4.0 à economia circular envolve diretamente os stakeholders da cadeia produtiva, gerando fluxos eficazes de materiais e informações, conectando ideias, pessoas e lugares, o que gera oportunidades. A gestão da sustentabilidade alinhada à dinâmica da indústria 4.0 implica na gestão sustentável da cadeia de suprimentos e traz o desafio de aprender, reaprender e desenvolver novos conceitos, com a aplicação de novas ferramentas, tecnologias e digitalização. Essa perspectiva tenha talvez gerado um grande número de startups e inovações de intra-empreendedorismo nas organizações, trabalhando com os diversos blocos da economia circular(*).

O segredo do jogo da sustentabilidade e da economia circular está em reduzirmos drasticamente a geração de resíduos que retornam para o meio ambiente quer seja com o desenvolvimento de novos produtos ou com a conscientização de empresas e da sociedade para o comprometimento com o correto destino dos resíduos. O planeta agradece!

 

(*) Alguns conceitos – os blocos da Economia Circular:

A Fundação Ellen MacArthur6 descreve a Economia Circular em quatro blocos aplicáveis na indústria1:

(1) Design – envolve durabilidade e facilidade de reutilização com base no ciclo de vida de cada recurso, matéria-prima e produtos, assim como a classificação ou separação de produtos e materiais na busca de possíveis subprodutos e usos para os “resíduos”;

(2) Inovação Aberta – trata da prospecção de novos modelos de negócio inovadores em substituição aos existentes ou aproveitamento de novas oportunidades para impulsionar a abordagem circular aos negócios convencionais num processo disruptivo que estimule ideias inspiradoras para a cadeia de stakeholders de maneira a acelerar a transição por meio da internalização de valor;

(3) Ciclos Reversos –induzem o “cascateamento” de produtos na cadeia do processo produtivo, ou seja, o resíduo de um processo se torna input de outro;

(4) Mecanismos Capacitadores e de Condições Sistêmicas – visam encorajar a reutilização generalizada de materiais e aumentar a produtividade de recursos, que poderá revelar novas oportunidades de criação de valor e novos incentivos.

* O artigo tem a colaboração de Kelvin Coutinho, Especialista Corporativo de Meio Ambiente e Sustentabilidade no Grupo Petrópolis, Biólogo e Engenheiro Ambiental.

Referências:
  1. Economia circular pode ajudar países a combater mudanças climáticas, diz relatório –  https://nacoesunidas.org/economia-circular-pode-ajudar-paises-a-combater-mudancas-climaticas-diz-relatorio/
  2. WEETMAN, C. Economia circular: conceitos e estratégias para fazer negócios de forma mais inteligente, sustentável e lucrativa. 1ª. Ed. São Paulo, pág.52, 2019.
  3. São Paulo reciclou apenas 7% do lixo reciclável recolhido em 2018 – https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/05/17/sao-paulo-reciclou-apenas-7percent-do-lixo-reciclavel-recolhido-em-2018.ghtml
  4. Estas são as medalhas de lixo reciclado que serão dadas nas Olimpíadas Tóquio 2020 – https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2019/07/estas-sao-medalhas-de-lixo-reciclado-que-serao-dadas-nas-olimpiadas-toquio-2020.html
  5. O mundo virtual e as inovações tecnológicas – https://www.usp.br/espacoaberto/?materia=o-mundo-virtual-e-as-inovacoes-tecnologicas
  6. BUILDING Blocks of Circular Economy. Ellen MacArthur Foundation – https:// www.ellenmacarthurfoundation.org/ circulareconomy/ building-blocks
 
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