A greve dos caminhoneiros me fez refletir sobre como esta seria no Japão, e o que as características culturais do seu povo poderiam nos ensinar nesse momento. Pesquisei na internet e a única notícia recente que encontrei de greve no país asiático foi uma de motoristas de ônibus que circularam normalmente sem cobrar o valor da passagem.
O fato e a verdade é que não sei como seria uma manifestação como essa no Japão, e nem pretendo entrar, nesse caso, no mérito da legitimidade ou de seus desdobramentos econômicos e políticos. Contudo, há lições que podemos buscar no tsunami que, como de costume oriental, são simples em sua concepção e execução.
Primeiramente tratarei a regra de preparar-se para o inesperado. Assim como o improvável tsunami foi considerado pelos japoneses ao adotarem medidas preventivas como a manutenção de abrigos e o treinamento das crianças e adultos para esse tipo de situação, o evento da greve se fazia iminente neste ou em outros setores e, a partir do princípio em questão, havia condições de se adotarem medidas preventivas que mesmo que não resolvessem, poderiam reduzir os impactos sentidos.
Ainda no desastre de 2011, observaram-se diversos casos de pessoas sacrificando seus próprios confortos em prol do coletivo, como a senhora que, mesmo sofrendo de pressão alta, recusou-se a beber maior quantidade de água que a destinada aos demais e, em virtude disso, veio a falecer. O que se viu nas ruas do Brasil foram alguns oportunistas elevando os preços dos seus produtos escassos e consumidores armazenando combustíveis e alimentos, privando outros dos mesmos requintes. Talvez quando formos descartar os produtos vencidos, vejamos que a filosofia nipônica é mais eficiente, além de mais humana.
A palavra contingência parece não existir na prática nem para o governo, nem para as organizações ou pessoas, o que se constatou é que, como regra, as ações foram motivadas por impulsos. Longe de ter uma proposta de solução que evitaria os transtornos que vivemos, acredito ser esse o momento para pensarmos, ao menos nas empresas, com mais seriedade em alternativas como o home office, o compartilhamento de recursos e os desperdícios de forma geral, são nessas horas de crise que constatamos o quanto pensar enxuto, ou o lean thinking, pode ser útil.
Deixando de lado o que deveria ter sido feito, estou curioso em acompanhar se vamos usar a experiência para nos prepararmos para potenciais ocorrências futuras. Pelo princípio da cultura do aprendizado, o terremoto de Kobe de 1995 serviu de estudo para ações preventivas utilizadas no tsunami de 2011, e que certamente poupou vidas. Os orientais em nosso caso usariam o pensamento científico para o levantamento das causas e soluções com o intuito de minimizar impactos numa eventual nova ocorrência.
No Japão, um mês após o ocorrido, grande parte dos desabrigados estavam em casas construídas a toque de caixa em containers, restabelecendo suas dignidades como cidadãos. Um ano depois, praticamente toda a infraestrutura do país havia sido reconstruída. Vendo que o governo fez a sua parte, os japoneses sentiram-se impelidos a entregarem também o seu melhor, o que possibilitou ao país retomar sua trajetória de prosperidade. Tenho esperança de que adotemos a mesma postura de superação da dificuldade, prevenindo-nos para não termos iguais transtornos no futuro.
Contabilizar os prejuízos e retomar a produtividade levará alguns dias ou semanas, restabelecer a confiança nos governantes talvez passe as eleições que se aproximam. Contudo, o momento é propício para refletirmos e agregarmos ao nosso dia-a-dia comportamentos como os de preparar-se para o inesperado, cultura do aprendizado, pensamento enxuto, e coletivo realmente acima do individual, validos para os gestores, o povo em geral e também para nossos atuais e futuros governantes.