O comportamento do consumidor sempre esteve em transformação, mas o rápido avanço da tecnologia e os efeitos da pandemia de Covid-19 fizeram com que o consumidor se tornasse ainda mais exigente.
Este cenário está estimulando as fábricas de alimentos e bebidas a adotarem uma rápida adequação em seus processos, buscando atender as demandas do mercado e, ao mesmo tempo, oferecer qualidade e valor.
Para acelerar a entrega desses projetos, a adoção de métodos ágeis, como o Scrum e o TPM é uma opção cada vez mais adotada. A função deles é a de corrigir eventuais problemas de uma forma muito mais rápida e assertiva.
Diante disso, entenda como a transformação da indústria passa pelas necessidades do consumidor e principalmente pela adoção de métodos ágeis.
Indústria deve seguir mudanças de comportamento
Historicamente, dois fatores sempre impactaram na decisão de compra de um consumidor: qualidade do serviço ou produto oferecido e o preço a ser pago.
No entanto, os consumidores, em especial o consumidor brasileiro, passaram por uma transformação, acelerada pela pandemia, que inclui outros elementos na hora da decisão. Isso está afetando a forma com que as empresas desenvolvem e produzem.
Para Maurício Adriano Godinho, sócio líder da KPMG, essa mudança está, cada vez mais, colocando o consumidor no centro das atenções. “Para o setor de alimentos e bebidas, o entendimento de o que o consumidor busca está sempre no foco. Tudo que é feito deve ser voltado direta ou indiretamente ao consumidor”.
Segundo Godinho, o consumidor tem algumas preferências que continuarão sendo tendência nos próximos anos. A primeira delas é a busca por segurança alimentar. “Os consumidores estão cada dia mais preocupados com a origem dos produtos e com a reputação das marcas”, salienta.
O segundo ponto diz respeito ao fato de haver um consumo bem mais consciente, relacionado à agenda ESG, baseada na proteção do meio ambiente, preocupações socioambientais e apelo sustentável.
O consumidor está muito mais conectado, consequentemente ele está cada vez mais interagindo com plataformas de e-commerce nas suas compras. Também usa as mídias sociais para emitir suas opiniões sobre um produto ou serviço consumido.
Além disso, o consumidor naturalmente está com menos capital devido às crises econômicas, que se avolumam no mundo todo. Consequentemente, ele realiza compras mais planejadas e priorizam produtos de menor valor. “Family Size, multipack e promotial packagings adquirem protagonismo neste contexto”, afirma Godinho.
Por fim, eles buscam marcas com propósito, ou seja, que se adequem às novas gerações e que apoiem causas ambientais e sociais.
O que fazer para se adequar?
Luiz Sávio, também sócio da KPMG, explica que qualquer empresa, independentemente do seu segmento ou complexidade, deve sempre considerar três elementos centrais na tentativa de alcançar as novas demandas. A primeira delas é inbound a escolha da matéria-prima. A segunda, como é feita a manufatura e o processamento do produto. E, por fim, o produto final, que chega às mãos do consumidor.
Dessa forma, cabe à empresa mapear todos seus processos, identificar as falhas e problemas e adotar soluções específicas que ajudem a resolvê-los.“Uma recomendação interessante é adotar grupos multidisciplinares para entender o problema e assim definir os critérios de priorização, ou seja, os problemas que devem ser atacados primeiro”, sugere o sócio da KPMG.
Além disso, implementar métodos ágeis para os problemas identificados é também uma excelente opção para que o setor consiga focar na aceleração do ritmo dos processos.
Métodos ágeis e aumento da eficiência
Inicialmente desenvolvidas para funcionar como uma alternativa ao modelo tradicional de engenharia de software, a metodologia ágil é uma mentalidade de trabalho que dá prioridade à adaptabilidade e eliminação de desperdícios.
Para conseguir isso, o foco desse conjunto de métodos é voltado para a máxima qualidade, melhoria contínua de processos e entrega rápida de valor. Luiz Sávio explica que o método ágil possui algumas diferenças mais importantes quando comparado ao método tradicional.
“Normalmente o método tradicional, conhecido como método Waterfall, é mais fechado e linear, com começo, meio e fim e com uma complexidade e incerteza mais baixos. Já a metodologia ágil é recomendada quando o escopo de trabalho é mais aberto, com uma complexidade e incertezas mais altas durante a execução do projeto”.
Assim, na prática, o método Waterfall vai ter uma entrega no final. Já no método ágil, há uma entrega parcial a cada Sprint, dependendo da priorização e disponibilidade do cliente.
Na concepção de Sávio, os seguintes benefícios serão conquistados pela empresa de alimentos e bebidas quando elas optam pela implementação de métodos ágeis em seus processos:
- Maior agilidade;
- Maior possibilidade de previsão de custos e cronograma;
- Possibilidade de múltiplas entregas ao mesmo tempo e de forma mais frequente;
- Maior participação de clientes na solução do problema;
- Processos mais flexíveis;
- Mitigação de riscos.
Scrum
As metodologias ágeis são bastante diversificadas, com muitas opções a serem adotadas pelas empresas. A primeira a ser mencionada é o Scrum, um dos métodos ágeis mais conhecidos. Inicialmente, ele foi utilizado no desenvolvimento de softwares, mas vem sendo aplicado em outros setores.
Desenhado para equipes pequenas, de aproximadamente dez ou menos membros, esse método prevê que as pessoas dividam seu trabalho em metas a serem batidas dentro de determinado tempo.
Luiz Sávio explica que o método SCRUM possui alguns pontos positivos bastante significativos. “Esse método garante maior transparência, permite inspecionar o projeto e tem capacidade de grande adaptabilidade à medida que o problema vai sendo resolvido”.
Nessa metodologia, há uma dinâmica de gestão com reuniões semanais, onde é definida a parte do problema que será resolvida, e reuniões diárias, com encontros muito curtos onde são feitas apenas três perguntas: O que eu fiz ontem? O que vou fazer hoje? O que posso corrigir?.
Além disso, Sávio explica que existem três papéis fundamentais na rede do SCRUM. Um deles é o Scrum master: responsável por remover impedimentos e garantir o sucesso do time na entrega das metas e dos entregáveis. Em seguida, o Problem Owner, responsável pelos poderes de liderança sobre o produto. Por fim, o Team, que é a equipe desenvolvedora do projeto
TPM (Total Productive Maintenance)
O TPM ou Manutenção Produtiva Total, é outra metodologia que consiste em um conjunto de estratégias e procedimentos que visa garantir o pleno funcionamento das máquinas em um processo produtivo.
“A TPM é bastante focada na manutenção da indústria, garantindo o pleno funcionamento de máquinas e equipamentos e máxima disponibilidade e produtividade do ativo”, complementa Sávio.
A TPM é uma metodologia composta por 8 pilares:
- Melhoria focalizada;
- Manutenção autônoma;
- Manutenção planejada;
- Manutenção da qualidade;
- Gestão antecipada;
- TPM nas áreas administrativas;
- Educação e treinamento;
- Saúde, segurança e meio ambiente.
Assim, quando implementada, essa metodologia aumenta a produtividade, eficiência e segurança, principalmente por capacitar operadores, líderes de equipe e gerentes para que todos desempenhem um papel proativo na operação e manutenção diária de suas próprias áreas de trabalho.
Dessa forma, as empresas da área de alimentos e bebidas que adotam esses e outros métodos ágeis estão mais próximas de serem consideradas organizações exponenciais, pois elas conseguirão solucionar seus problemas de forma mais rápida e eficiente
