*Por Carolina Abrantes
No último artigo, trouxe a importância de conhecer o cliente final da sua cadeia produtiva e como as iniciativas de Transformação Digital devem, também, buscar usar tecnologias avançadas para gerar essa aproximação. Porém, a obtenção dos dados sobre o cliente final é apenas um dos marcos numa árdua jornada até a obtenção de valor real a partir destas informações.
Cada etapa dessa jornada é marcada por desafios de diferentes naturezas e riscos. O sucesso e a velocidade dessas iniciativas ditarão o tamanho das vantagens estratégicas para sua empresa, porém, a taxa de sucesso não tem sido muito atrativa. Segundo o Gartner (The IT Roadmap for Digital Business Transformation, Gartner, 2023), a jornada de transformação está levando, pelo menos, o dobro do tempo e custando duas vezes mais do que o planejado inicialmente, especialmente para grandes empresas.
O destino de muitas iniciativas de Transformação Digital é criar experiências para os clientes através do uso de tecnologias avançadas que serão novas fontes de receita. Mas, para alcançar esse objetivo, existem várias etapas:
- Obtenção e organização de grandes massas de dados sobre os clientes finais
Na era do “Big Data”, as organizações precisam desenvolver competências para trabalhar com um grande volume de dados em tempo real. Dominar os recursos tecnológicos e os canais para coleta desses dados é importante. Muitas vezes, além das habilidades tecnológicas, serão necessárias competências de colaboração em ecossistemas empresariais que podem complementar canais e fontes de informação que sua empresa sozinha não tem alcance. Além disso, é preciso usar boas práticas de engenharia, ciência e governança de dados para organizar essa massa de dados de maneira que informações úteis possam ser obtidas. Acessar o dado já não é mais um diferencial, conseguir dominá-lo: sim. Essa é uma competência tão relevante que se tornou um dos critérios na avaliação do MIT das 20 empresas mais inovadoras do Brasil, o Innovative Workplaces 2023.
- Análise dos dados e levantamento de hipóteses e problemas
Uma vez que sua empresa consiga obter e organizar os dados, é preciso desenvolver competências ligadas à inovação que permitam formular hipóteses sobre problemas enfrentados pelos clientes que podem ser potenciais alvos para novos produtos ou serviços. Nesse momento, pessoas com conhecimento em boas práticas de inovação, descoberta de produtos e experiência do cliente devem entrar em cena aplicando métodos estruturados para definição de novos produtos/serviços ou melhoria dos já existentes. Uma empresa forte nessas competências provavelmente terá um melhor time to market e maior assertividade em seus lançamentos.
- Desenvolvimento de produtos ou serviços que enderecem os problemas levantados
É necessário, então, colocar a mão na massa para tirar do papel as soluções desenhadas. Este, eu considero o maior “vale da morte” para os projetos de Transformação Digital. Competição por recursos, conflitos políticos de diretrizes, trade-off entre “fazer o novo” e “manter o velho”, falta de domínio de novas tecnologias, arquiteturas legadas, dentre outros muitos gargalos e riscos que afundam inúmeras iniciativas de inovação e Transformação Digital. Apenas este tópico nos traz gatilhos para muitos desdobramentos e análises.
Vamos supor que a sua organização venceu as etapas acima e foi capaz de lançar novidades e se posicionar na corrida pela transformação da experiência dos clientes, um dos pilares da Transformação Digital. Ainda é preciso manter essa roda girando junto com a habilidade de melhoria contínua, buscando o aperfeiçoamento e avanço tecnológico. Nada fácil, não é mesmo? Trago, então, minha reflexão final.
Todo esse ciclo tão desafiador não conseguirá se estabelecer numa empresa que tenta encaixar a inovação e a Transformação Digital em uma estrutura já pressionada pela disputa de recursos e pela manutenção do básico. Transformação Digital requer investimentos estruturados, parceiros certos, organização e dedicação de recursos. Enquanto essa não for uma pauta realmente estratégica, sua empresa viverá de “voos de galinha”. Alguns podem até alcançar bons resultados, mas será difícil a manutenção a longo prazo.
Como, então, conseguir organizar investimentos e recursos para transformação em meio à pressão por resultados ou, até mesmo, pela sobrevivência? Esse será o tema do próximo artigo. Até lá!
*Carolina Abrantes, Sócia-diretora e cofundadora da Bridge & Co.
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