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Mulheres empreendedoras: Mais que números, a esperança de uma nova realidade

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"A mulher brasileira é historicamente uma das que mais empreende no mundo", escreve André Aquino.

Que relações podemos conceber entre o empreendedorismo e o feminino? O que motiva o empreendedorismo e a criação de um negócio no caso das mulheres? Elas respondem por números superlativos nos levantamentos sobre o empreendedorismo no Brasil. A mulher brasileira é historicamente uma das que mais empreende no mundo1. Nos últimos 50 anos, as mulheres vêm ocupando posições de referência nas diversas esferas da vida social, econômica, cultural e política (VALE et al, 2011, p. 633).

A velocidade das mudanças na sociedade contemporânea – principalmente no que diz respeito aos negócios – exige novos profissionais, que tenham atitudes arrojadas, inovadoras e que apresentem agilidade nas respostas em um ambiente competitivo. O empreendedorismo, portanto, se relaciona, fundamentalmente, com o processo de inovação. Essas transformações sociais, políticas, tecnológicas e de trabalho estão intrinsecamente ligadas ao conceito e à evolução do empreendedorismo em todo o mundo.

Dois dos principais fatores que apontam para uma transformação e, logo, para o fortalecimento do empreendedorismo como forma de inovar e responder aos maiores desafios impostos pelo chamado mercado de trabalho são: desemprego e a necessidade de partir para uma nova forma de geração de renda; os novos atributos exigidos aos empregados formais (SIQUEIRA; GUIMARÃES, 2007, p. 3).

Diante disso, percebemos que o empreendedorismo não é uma alternativa milagrosa de trabalho, mas uma nova forma de viver as mudanças tão rápidas e tão radicais no mercado de trabalho e na geração de renda, uma forma mais inovadora, flexível, autônoma e criativa.

No Brasil, o empreendedorismo começa a ser discutido nos anos 90. Após o início dos debates do tema no país, no ano 2000, é lançada a pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que, sob a coordenação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), analisa a evolução do empreendedorismo no Brasil anualmente. Apesar de todo o debate em torno do tema, o termo foi dicionarizado apenas em 2005.

Segundo apontam os dados do GEM, o empreendedorismo feminino continua acendendo consideravelmente (NATIVIDADE, 2009), bem como crescem também os estudos científicos na área (GOMES; SANTANA; ARAÚJO, 2009), o que pode ser explicado pelo aumento da participação da mulher no mercado de trabalho (FRANCO, 2014). As mulheres buscam mais espaço no mundo dos negócios, principalmente pela falta de igualdade de gênero no mundo do trabalho formal (NATIVIDADE, 2009).

Os primeiros estudos apontavam que as mulheres empreendiam mais por necessidade do que por oportunidade (FRANCO, 2014), mas, pesquisa da Serasa Experian2 de 2015 revelou que o Brasil possuía 5.693.694 mulheres empreendedoras que não empreendem somente porque precisam. A pesquisa mostra que 43% dos negócios do país são liderados por pessoas do sexo feminino e que 8% da população feminina têm seu próprio negócio.

Trata-se, portanto, de uma nova geração de mulheres que chega ao mercado, e isso abrange também os modelos de negócios voltados para a internet. Segundo levantamento IPSOS e PayPal3, o e-commerce brasileiro movimentou, em 2015, cerca de R$ 70 bilhões.

Ainda segundo a pesquisa da Serasa Experian, a maioria das mulheres empreendedoras (73%) se concentra nas pequenas e médias. Do total de mulheres empreendedoras, 98,5% são adeptas do MEI, modelo de tributação voltado para micro e empreendedor individual. À época, eram mais de 1,3 milhão de mulheres nesse modelo. Um dos dados também diz que a idade média das empreendedoras é de 44 anos e que a maior concentração de empresárias está na região Sudeste, com 52,06% do total.

A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2014, mostra que apenas no Nordeste as empreendedoras não ultrapassaram os homens, embora tenham se aproximado muito do equilíbrio, já que somam 49% de participação em empresas novas e, mais, que 66% das mulheres iniciam uma empresa após identificar uma oportunidade de mercado, deixando de empreender somente para completar a renda da família.

São inúmeros os casos de referência. Iniciativas que representam uma verdadeira avalanche de mudanças e oportunidades. Ao analisar a evolução da situação feminina, o The Economist (2009) mostra que mulheres estão, em vários países, deixando as corporações para criar empresas que melhor atendam às suas necessidades e condições. Potencializadas pela internet, as mulheres protagonizam movimentos que alteram estruturas de negócios, em busca de representatividade e empoderamento. São exemplos movimentos como o Think Olga e Think Eva, sobre as questões femininas; o Mulheres na Computação, conduzido pela Camila Achutti, que incentiva o trabalho das mulheres no mundo da tecnologia; o fenômeno das novas mães empreendedoras, que abrem negócios próprios para favorecer o trabalho em casa e manter o contato com os filhos. O levantamento publicado pelo livro “Minha Mãe é um Negócio”, de 2013, dizia que 67% das mulheres abriram sua empresa após a maternidade.

Outra pesquisa (do Sebrae/MG) mostra ainda que as mulheres são maioria (82%) entre os administradores dos negócios de micro porte e, a pesquisa “As Mulheres Empreendedoras no Brasil”, de 2013, da mesma organização mostra que o empreendedorismo feminino cresceu 21% nos últimos dez anos, mais que o dobro verificado entre os homens. Ele também aponta que as empresas comandadas por mulheres estão se mantendo mais no mercado.

Mesmo como uma tendência crescente, por se concentrarem em setores que tradicionalmente apresentam faturamento mais baixo, as empreendedoras ainda apresentam remuneração mais baixa que a dos homens. O Índice de Desenvolvimento e Empreendedorismo Global, promovido pela Dell, avaliou o empreendedorismo feminino em 30 países ao redor do mundo, incluindo o Brasil. Ele concluiu que as mulheres têm mais dificuldade de acesso ao capital, muitas vezes por terem uma rede de contatos menor e de receberem menos atenção de bancos e investidores para receber crédito e aportes de capital.

Ainda há hegemonia dos homens em cargos de liderança, diferenças de direitos entre os sexos e desequilíbrio entre vagas e empregos. Por outro lado, há um aumento de número de startups lideradas por mulheres em mercados emergentes. E mais que isso, há uma chama que cresce a cada dia, apontando novos caminhos a serem seguidos, novas possibilidades de, por meio do empreendedorismo, mudar a realidade de muitas mulheres no país.

 

Notas do autor:

[1] Dados do Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras em Micro e Pequenas Empresas, do Sebrae, sobre o período entre 2002 e 2012, que ainda mostra que o total de empreendedoras femininas cresce em todas as cinco regiões do País.

[2] http://noticias.serasaexperian.com.br/brasil-tem-mais-de-5-milhoes-de-mulheres-empreendedoras-revela-estudo-inedito-da-serasa-experian/

[3] Em entrevista realizada para este ensaio, a empreendedora Karine Drumond, da empresa Negócio de Mulher, explica que os dados foram fornecidos por Gabriela Szprinc, responsável pela área de Pequenas e Médias Empresas de Organizações Não Governamentais do PayPal Brasil.

 

 

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